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22/11/2021 às 20h17min - Atualizada em 21/11/2021 às 14h53min

Crianças desaparecidas: Um pesadelo muitas vezes sem final

Casos como o da australiana Cleo Smith tornaram-se famosos no mundo inteiro por um final trágico ou sem conclusão

Ana Narracci - Editado por Ynara Mattos
Shutterstock
O dia 2 de novembro de 2021 marcou para sempre a vida da australiana Ellie Smith. Foi quando sua filha Cleo, de apenas 4 anos voltou a seus braços após 18 dias desaparecida. Terminava ali uma angústia vivida por muitos pais ao redor do mundo, que tem seus filhos subtraídos de si e muitas vezes veem anos se passar sem que qualquer pista seja descoberta.

O caso de Cleo começou com um tranquilo passeio em família. Em 16 de outubro, a menina foi acampar com sua mãe, sua irmã mais nova e seu padrasto, Jake Gliddon, no Quobba Blowholes, em Macleod, subúrbio de Melbourn, Austrália. Durante a noite, a pequena Cleo foi levada da barraca onde dormiam sem que sua família percebesse, ao notar a falta da criança o desespero tomou conta do casal Smith, que imediatamente acionou as autoridades. Uma recompensa de um milhão de dólares australianos (cerca de R$4 milhões), foi oferecida em troca de notícias concretas sobre o paradeiro da menina.
                                                                          
A busca por Cleo envolveu mais de cem oficiais da polícia australiana, por via terrestre, marítima e aérea, mas a pista crucial veio pela denúncia de um veículo suspeito que tinha características semelhantes a um que havia sido visto saindo do acampamento na madrugada do desaparecimento. Foi então que a polícia chegou à casa de Terence Darrel Kelly, de 36 anos, localizada em Carnarvon, há apenas seis minutos de carro da residência da família Smith.

Ao invadir o local, em um dos quartos, a polícia deparou-se com uma garotinha cercada de alguns brinquedos que, questionada, de imediato lhes disse se chamar Cleo. Terminavam as buscas. Terence foi preso e as investigações sobre as circunstâncias e motivações do crime seguem adiante. Cleo foi levada a um hospital para exames e constatou-se que a menina estava fisicamente ilesa. Pôde então voltar para sua família, que a aguardava ansiosa.

Alguns dias após seu resgate, Cleo relatou que, nos dias de cativeiro, uma mulher ainda não identificada cuidava dela, vestindo-a e penteando seu cabelo. A polícia investiga a participação desta mulher no crime, porém acredita que a iniciativa partiu prioritariamente de Terence.
Casos como o de Cleo Smith são, lamentavelmente, bastante comuns em todas as partes do mundo. Somente no Brasil, de acordo com projeções do Conselho Federal de Medicina (CFM), cerca de 50 mil crianças desaparecem por ano, uma média de 137 casos de desaparecimento por dia. Muitos casos permanecem sem desfecho ou tem um final trágico e alguns deles tornam-se bastante famosos.

 

Relembre outros casos famosos de crianças desaparecidas


Quando se fala em casos de desaparecimento infantil, um dos casos mais lembrados ao redor do mundo é o da menina britânica Madeleine McCann, ocorrido em maio de 2007. Maddie, como era chamada pela família, tinha apenas 3 anos quando desapareceu de um hotel na Praia da Luz em Portugal, onde estava com os pais e os irmãos, meninos gêmeos de 2 anos.
Gerry e Kate McCann, pais das crianças, confraternizavam com amigos quando decidiram sair para jantar em um restaurante próximo e acreditaram ser seguro deixar os filhos dormindo no quarto do hotel. Segundo depoimento dado na época, eles e seus amigos revezavam a atenção com as crianças, subindo ao quarto de hora em hora para verificar se tudo estava bem.
Por volta das 22 horas daquela noite, depois que Gerry e um amigo já haviam vistoriado o quarto, foi a vez de Kate ver as crianças. Ao entrar, encontrou a cama de Maddie vazia e a janela aberta. A polícia foi acionada e uma intensa busca se iniciou para que Madeleine fosse encontrada. O caso logo chegou à mídia e em pouco tempo o mundo conhecia o drama da família McCann.

Muitas foram as especulações, diversos suspeitos foram considerados, incluindo os pais de Maddie, o que posteriormente motivou um pedido de desculpas e o pagamento de indenização por danos morais ao casal McCann por parte de dois jornais britânicos que divulgaram suspeitas e acusações sobre eles. Em diversos países pessoas afirmavam ter visto a menina, mesmo após anos de seu desaparecimento, especialmente por uma característica peculiar: Uma mancha na íris de seu olho direito, que permitiria identificá-la.
A polícia portuguesa encerrou o caso em 2008 sem conclusão, porém este foi reaberto pela polícia britânica em 2011 após um pedido dos pais de Maddie ao primeiro-ministro, voltando a ter a colaboração das autoridades portuguesas em 2014. O mais recente passo da investigação aponta que a criança teria sido assassinada por um homem chamado Christian Brückner, condenado por diversos crimes, entre eles o abuso de uma mulher de 72 anos na Praia da Luz, mesmo local de onde Madeleine desapareceu. O suspeito teria o hábito de invadir hotéis e teria sido descoberta sua presença no local à época do sumiço da menina.
Apesar de todas as indicações, Madeleine McCann até o momento segue desaparecida, sem que qualquer conclusão tenha sido obtida.

Nos EUA: O Dia Nacional das Crianças Desaparecidas


Em 25 de maio de 1979, o garoto Etan Patz, de seis anos, conseguiu convencer seus pais de que já estava bastante crescido para ir sozinho ao ponto de ônibus escolar no bairro SoHo, em Nova York, onde residia. Sem imaginar que haveria motivos para preocupações, seus pais Stanley e Julie Patz concederam o desejo de seu filho. Entretanto, ao perceber que o menino não chegou em casa no horário de costume após as aulas, Julie percebeu que algo estava errado e descobriu que Etan não havia pego o ônibus naquele dia. Imediatamente a polícia foi acionada e uma longa busca se iniciou. Como em outros casos, suspeitos foram investigados, presos, mas nada foi provado e nada se sabia do paradeiro de Etan. O caso tomou a mídia americana e uma estratégia até então inédita foi colocada em prática: fotos de Etan acompanhada de dados de contato e informações do desaparecimento foram estampadas em caixas de leite, produto de imenso consumo no país. A informação disseminou-se de forma rápida e abriu espaço para que o mesmo fosse feito em casos semelhantes, na busca de informações que pudessem ser passadas pela população.

Diante da falta de esclarecimentos, Etan Patz foi declarado
oficialmente morto em 2001, porém, uma reviravolta ocorreu em 2012, quando um homem de nome Pedro Hernandez, que trabalhava na época do ocorrido em uma pequena lanchonete nas proximidades do caminho do garoto, confessou ter assassinado Etan após o menino ter sido atraído por ele pela oferta de um refrigerante enquanto caminhava para o ponto de ônibus, estrangulando-o no porão do próprio bar. A polícia chegou até ele após uma denúncia feita por um parente de Hernandez através de uma ligação telefônica, onde relatou que este havia lhe confessado ter matado um menino em 1979 naquele local. O corpo, apesar das buscas, até o momento não foi encontrado.

Apesar de a defesa de Hernandez ter alegado que ele sofria de esquizofrenia e havia confessado o crime motivado por alucinações, ele foi julgado em 2017 e condenado a cerca de 25 anos de prisão. O dia 25 de maio foi declarado em 1983 pelo presidente dos Estados Unidos Ronald Reagan como o Dia Nacional das Crianças Desaparecidas, em homenagem à Etan Patz.

BRASIL

No Brasil, o caso do menino Carlos Ramires da Costa, o Carlinhos, entrou para a história como um dos casos não solucionados mais conhecidos do país. Ocorrido em agosto de 1973 é até hoje constantemente lembrado pela Internet e pela mídia em geral. O menino tinha dez anos quando foi sequestrado dentro de sua própria casa onde estava com a mãe e quatro dos seis irmãos. Houve um corte de energia e um homem armado invadiu a residência levando Carlinhos e deixando um bilhete exigindo o pagamento de resgate com as instruções e o local para o pagamento.
Casos de sequestro não eram comuns naquela época, então houve divulgação do sequestro por parte da imprensa e vários policiais disfarçados de civis se posicionaram no local de entrega do dinheiro do resgate, porém Carlinhos nunca foi devolvido à família.


Vários suspeitos foram investigados e até mesmo presos, mas nada foi comprovado contra eles. O pai de Carlinhos foi considerado suspeito por estar com problemas financeiros e ter arrecadado dinheiro para o pagamento do resgate, além do fato de que os cães da família não latiram quando o homem armado invadiu a casa, mas nada foi provado.
Em quase 50 anos, vários homens procuraram a mãe de Carlinhos alegando ser seu filho desaparecido, porém exames de DNA afastaram qualquer possibilidade de reencontro.

Inúmeros casos de desaparecimento e sequestro são registrados diariamente. Adoção ilegal, tráfico de órgãos, tráfico humano, rituais e abusos estão entre os principais motivos do rapto de crianças. Diferente do que muitas pessoas acreditam, não é necessário aguardar 24 horas para comunicar um desaparecimento, pelo contrário, é de extrema importância que os casos sejam registrados junto às autoridades nos primeiros momentos da percepção do desaparecimento, pois as primeiras horas podem ser decisivas para que a criança seja encontrada. Devem ser fornecidos todos os detalhes possíveis para auxiliar na investigação  Roupas utilizadas, descrição física, possíveis características diferenciadas, qualquer detalhe pode ser a chave para que o mistério seja desvendado e menos histórias tristes, como as aqui apresentadas, precisem ser lembradas no futuro.

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