A Organização Não Governamental (ONG) Repórteres Sem Fronteiras (RSF) divulgou, na última sexta-feira (16), seu relatório anual com o balanço de jornalistas presos, mortos, reféns e desaparecidos. Fundada em 1985 e com sede em Paris, a RSF apoia concretamente os jornalistas em campo através de campanhas de mobilização, assistência jurídica e material, dispositivos e ferramentas de segurança física e proteção digital.
O levantamento realizado entre 1º de janeiro e 1º de dezembro deste ano apontou um crescimento de 20% nas situações de risco envolvendo jornalistas em todo o mundo. No total, 488 jornalistas e colaboradores de veículos de comunicação estão presos. Além disso, 65 são mantidos reféns e dois estão desaparecidos. São os maiores números já registrados pela RSF desde 1995.
Abaixo, o balanço em um olhar:
Clique aqui para baixar e conferir o relatório na íntegra (2MB).
Segundo o secretário-geral da ONG, Christophe Deloire, os dados são resultados da repressão exercida por parte de governos totalitários e não envolvem crimes por parte dos profissionais da comunicação.
“A alta histórica no número de jornalistas em detenção arbitrária é o resultado de três regimes ditatoriais. É um reflexo do fortalecimento das ditaduras no mundo, de um acúmulo de crises e da falta de escrúpulos desses regimes."
Há um mês, as eleições na Venezuela foram marcadas por casos de restrições de acesso à mídia. Numa série de publicações no Twitter, o Instituto Imprensa e Sociedade Venezuelana (Ipys, na sigla em espanhol) e o Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Imprensa da Venezuela (SNTP) relataram situações como intimidações, negativa de credenciais, proibição de acesso a locais de votação, retenção de fotos e prisões.
Veja abaixo a denúncia de uma jornalista, publicada pelo Sindicato:
#AlertaSNTP | En #Aragua, efectivos del Plan República impidieron acceso de la prensa al acto de votación del candidato a gobernador por la MUD, Henry Rosales, aún cuando los periodistas estaban acreditados y el coordinador del centro de Fundacomun, dió visto bueno. #21Nov pic.twitter.com/RN8BUeIvfw
— SNTP (@sntpvenezuela) November 21, 2021
Confrontos pontuais também foram detalhados pelos veículos, como o caso de Orlando Montlouis, detido durante quarenta minutos pela Guarda Nacional Bolivariana (GNB), por fazer fotos da fachada de um centro eleitoral na cidade de Los Teques. Segundo o sindicato, os guardas o levaram para uma escola e o forçaram a apagar o material. A jornalista Lorena Bornacelly, da TV El Pitazo, relatou que em Táchira os observadores eleitorais do partido governista PSUV tiraram fotos de repórteres que cobriam a votação do prefeito de San Cristóbal, Gustavo Delgado, com o objetivo de intimidá-los.
A Venezuela vive desde 2012 sob o comando de Nicolás Maduro e as eleições municipais e regionais só voltaram a acontecer após boicotes da oposição. Foi o período eleitoral com maior participação da oposição registrada dos últimos anos, mas, ainda assim, 20 dos 23 cargos em todo o país foram ocupados por representantes do PSUV, o Partido Socialista Unido da Venezuela. Com características ditatoriais, o governo gere uma central de comunicações que, às vésperas das eleições, bloqueou 16 portais de notícias.
“Com a censura imposta à mídia tradicional e muitas áreas do país consideradas desertos de notícias, as mídias digitais são uma das principais opções para os cidadãos se manterem informados, mas as operadoras estão decididas a bloqueá-las”, ressaltou a Ipys.