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11/02/2022 às 08h45min - Atualizada em 11/02/2022 às 08h26min

"Eu sou capaz, independente da minha cor"

Violência contra pessoas negras: da escravidão até o século 21

Laís Queiroz Ribeiro - Editado por Andrieli Torres
Reprodução - Gazeta do Cerrado
A violência contra pessoas negras no Brasil, têm fortes raízes, reflexo do chamado Brasil Colônia, período em que negros e indígenas eram escravizados. Foram mais de 300 anos de dor, injustiças e principalmente violência, que infelizmente perduram até hoje.

Conheça a história de dona Almira, professora aposentada, que foi vítima de preconceito racial, ainda na infância.

“Eu lembro que quando eu tinha uns oito, dez anos de idade, ficava muito chateada. Colocaram um apelido em mim: ‘urubu de três calças’ e era por conta da cor da minha pele. Os três calças até hoje não entendo o porquê. Ninguém me defendia, e eu usava a violência.

[...] Quando eu tinha uns 17 anos, começei a trabalhar como balconista num mercadinho. Sempre fui incentivada pelo meu pai a trabalhar e estudar.
Lá (mercadinho) tinham dois funcionários negros. Eu e um outro rapaz. Trabalhava conosco uma moça branca, e ela se tornou nossa chefe e quando aparecia um serviço errado, mal feito ela falava: ‘serviço de preto.’ Quando era um serviço bem feito, era de branco. E ela dizia também: ‘vai lá e faça serviço de branco. [...] Quer dizer, quando o serviço era inacabado e mal feito era de preto.

O nosso patrão, de vez em quando chamava a atenção, mas acabava ficando por aquilo mesmo. Chegou um dia, e ela fez o caixa errado e faltou dinheiro. O patrão, não deixou mais na responsabilidade dela, e passou para mim o caixa. O patrão virou para ela e disse que, na ausência dele eu ficaria no caixa, e como ela mesma dizia que o serviço que eu fazia era de preto, eu iria fazer serviço de preto, porque esse serviço era certo, bem feito.

Eu passei por muitas humilhações, mas, nesse dia, eu fiquei morrendo de medo de não dar conta, porque era uma responsabilidade muito grande [...]. Mas ao mesmo tempo, deu aquele clique em mim, eu aceitei, como forma de provar para ela que eu sou capaz idependente da minha cor. Na écopa eu tinha uns 17, 18 anos e eu lembro assim nos mínimos detalhes como aconteceu. 

[...]

"Enquanto professora, já presenciei muitos casos de racismo, mas eu tomava as dores. Quando acontecia, e alguém começava a tratar o outro e usar a cor da pessoa para ofender, tomava as dores e ia longe... levava para a diretora da escola para tomar conhecimento e graças a Deus sempre tive o apoio dos diretores. E eu não defendia só o aluno negro não. As vezes os meninos apelavam e chamavam os outros de ‘macarrão sem sal, branquelo’ e eu sempre revertia a situação, indiferente da cor.”
 
O relato de dona Almira é apenas um, de muitos casos que acontecem. O Fórum Brasileiro de Segurança Pública, divulgou os dados da Desigualdade Racial em 2021. Os números são alarmantes. 76.2% das pessoas que foram assasinadas em 2020, eram negras. Em uma década, 405.811 pessoas negras morreram, o equivalente a capital do Tocantins, Palmas. Não é apenas a cor da pele, exite todo um contexto político, social, econômico, familiar, por trás das questões de violência racial apontadoa no inográfico.

“Se ame, indiferente da cor. Meus pais sempre me ensinaram a correr atrás dos meus objetivos. Em momento nenhum deixei de correr atrás do que eu queria porque alguém poderia me ofender. Ao meu ver, a educação é o principal caminho para a gente vencer. Estude! Não para ser melhor que o outro, não é isso, mas provar para as pessoas que você é capaz tanto quanto o branco.” – completa Almira em entrevista ao Lab Dicas Jornalismo.
 
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