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12/05/2022 às 18h59min - Atualizada em 12/05/2022 às 18h56min

Eleições no Líbano: acompanhe como as candidatas ao parlamento Reine Sawane e Verena El Amil enxergam as eleições em meio a crise

Os libaneses irão às urnas no dia 15 de Maio para votar em seus candidatos em plena crise histórica libanesa. Entenda o processo eleitoral do país no Oriente Médio

Lucas Nobres Durães Pires Veiga das Neves - Editado por Ynara Mattos
E já foi dada a largada para as eleições no Líbano. Através da contagem de cédulas, o Estado Libanês abriu as urnas nas diásporas, incluindo o Brasil, o último dia 08 de Maio, no Rio de Janeiro, Foz do Iguaçu, São Paulo e Brasília. Enquanto isto, a própria população do país aguarda para ir às urnas neste domingo (15), para decidir o futuro do Líbano, que segue em crise profunda há pelo menos 3 anos.

Contudo, vale lembrar que o Líbano viveu uma Guerra Civil que durou 15 anos (1975-1990) e este período ainda segue interferindo nas eleições. Isto porque naquele período o país se dividiu entre cristãos, apoiados pelos EUA e Israel, e muçulmanos, apoiados pela Síria e a Palestina. Beirute ganhou um lado Ocidental e um lado Oriental e o conflito teve um caráter sectário. Ao fim da Guerra, numa tentativa de curar esta ferida, o acordo Taif, assinado na Arábia Saudita, os 128 assentos do Parlamento libanês são alocados por afiliação religiosa: 64 vão para muçulmanos e 64 para cristãos, e também estão distribuídos entre as 18 seitas religiosas oficialmente reconhecidas no Líbano. Este fato implica diretamente nas redes de clientelismo e nas leis, onde algumas são diferentes de acordo com a afiliação, e agravam a corrupção.

O Lab Dicas conversou com um professor e duas candidatas independentes, para entender melhor o processo eleitoral libanês. Verena El Amil, a mais jovem a disputar um assento em Beirute, conversou com o Lab Dicas e comentou sobre o sistema religioso confessional do país. Verena é líder do movimento estudantil “Generation of Future”, é advogada, e alegou não se identificar ideologicamente com nenhuma religião.

 

“Eu acredito que deve haver a separação da religião e a política aqui. O Estado deveria tomar decisões baseadas na equidade. No Líbano há leis diferentes para cada tipo de confissão. O casamento, por exemplo, é uma questão complicada por aqui. [...]. Problemas no Líbano? [suspiro]. São vários. Dentre eles, este sistema político confessional” (Verena El Amil)


Paulo Hilu, coordenador do Núcleo de Estudos do Oriente Médio (NEOM) da Universidade Federal Fluminense (UFF), alegou que “a eleição está acontecendo num período de crise profunda”.
 

“Você tem um sistema político que tende a reproduzir as estruturas o tempo todo. O grande problema é a falta da renovação do quadro político porque embora você tenha manifestações e mobilização da sociedade civil, o sistema político não tem uma abertura, uma flexibilidade para absorver tudo isso. Então tem uma tendência a reproduzir as mesmas estruturas, as mesmas figuras no poder, as mesmas relações de poder, as mesmas redes de clientelismo. Então este é o grande problema. Evidentemente é exigido um nível de renovação política, um novo projeto para o país e a sociedade. Isto é claro na mobilização social, mas o sistema não funciona dessa maneira. As eleições são importantes, mas elas deixam cada vez mais claro que o sistema político tem uma dificuldade enorme em se renovar e de certa maneira absorver as novas demandas, que não só a sociedade, mas a própria situação geral do país exige”, conclui Hilu.


Em busca da renovação citada por Paulo Hilu, e após séries de manifestações desencadeadas principalmente após Outubro de 2019, onde a população saiu em grande peso às ruas libanesas por semanas, o Líbano este ano contabilizou um dos maiores número de candidatos do sexo feminino na História. São 155 dos 1.043 candidatos, representado 15% da soma. Reine Sawane, da Região Norte I (Akkar), está na corrida e também conversou com o Lab sobre a sua visão acerca do futuro do Líbano e as mudanças necessárias para a reestruturação do país.

Sawane afirma que aceitou colocar o nome na lista dos candidatos independentes e afirmou que o “objetivo é fazer a mudança de alguma forma”.

 

“Nos últimos anos, a comunidade internacional aqui vem tentando empoderar as mulheres e tentando mudar uma política arcaica, desde as municipalidades. Esperamos mudar o futuro e colocar mais candidatas mulheres”. (Reine Sawane)


A respeito do problemas, Reine não deixou de citar as milícias, cujo algumas são reconhecidas como partidos políticos, dentre elas, o Hezbollah, uma das mais poderosas e apoiadas pelo Irã. A respeito do grupo, a candidata disse: que “eles implementam suas polícias próprias, tomam suas próprias decisões, tem seus próprios exércitos, com suas estratégias próprias”, e complementou que o país acaba se tornando “refém de decisões ruins e corrupção”.
 

“O afastamento de nossos aliados ocidentais e do Golfo por conta do controle do Hezbollah prejudicou nossas relações comerciais com nossos parceiros econômicos e desencorajou investidores e turistas”. (Reine Sawane)


Sobre os libaneses que votaram no Brasil, ela afirmou que estes tem a “oportunidade e liberdade de votar longe de currais monopolizados”, fazendo menção às redes de clientelismo. “Espero que elas votem de forma limpa e consciente”, concluiu.

A respeito da corrupção, Reine Sawane comentou sobre da quebra do Banco Central. Acompanhe na íntegra:

 

“As políticas fracassadas e não transparentes de manter uma paridade artificial e cara, o financiamento dos gastos corruptos do Estado e as políticas de subsídios defeituosas, que drenaram as reservas em moeda estrangeira e levaram as taxas de juros a níveis exorbitantes. Os bancos são uma parte intrínseca do sistema dominante e foram a principal fonte de financiamento para o sistema político corrupto, suas políticas fracassadas e seus comparsas. Eles buscaram gananciosamente lucros exorbitantes emprestando excessivamente a um estado arriscado e ao Banco Central em vez de proteger o dinheiro de seus depositantes por meio de políticas prudentes de diversificação e gerenciamento de risco, que são princípios básicos de um sistema bancário sólido. Administraram mal seus bancos e viraram as costas para o que deveria ter sido sua missão principal no financiamento de uma economia produtiva e, em vez disso, usaram mais de 70% do dinheiro de seus depositantes para investir em dívidas do governo e do Banco Central, o que levou ao colapso. Acredito que o Líbano pode buscar ajuda do Fundo Monetário Internacional (FMI), desde que as condições sejam bem negociadas e não incluam qualquer disrupção, como duras medidas de austeridade”. (Reine Sawane)

O Líbano enfrenta a pior crise da História desde 1850. As eleições de 2022 ocorrem após os protestos de 2019 e a Explosão do Porto de Beirute. Ambos eventos sensibilizaram parte da população libanesa, que busca uma renovação do quadro político e soluções para fugir do atual estado de colapso econômico.
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