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11/06/2022 às 16h29min - Atualizada em 10/06/2022 às 21h26min

Pandemia gera efeitos na saúde mental

As consequências da pandemia e os desafios do retorno ao convívio social

Ana Lívia Menezes - Editado por Uilson Campos
Os impactos da pandemia na saúde mental e os desafios para retornar as atividades presenciais. Public Domain / Pixabay License
O retorno das atividades presenciais foi de muita expectativa nestes dois anos de distanciamento e reclusão social. Surgiram reclamações sobre cansaço de ficar em casa, exaustão da mesma rotina, o desejo de encontrar outras pessoas e a importância das relações presenciais.
 
No entanto, agora que é permitido reunir-se e encontrar-se com amigos, observa-se o comportamento oposto, muitas pessoas sentem ansiedade, angústia e dificuldades em retomar as interações sociais.
 
A impossibilidade de contato físico e o medo levaram ao isolamento e à convivência em um pequeno círculo social. Assim, a pandemia impactou diretamente a saúde mental da população e a perda de habilidades sociais.
 
Christian Dunker, psicanalista e professor titular do Instituto da Psicologia da USP, em conversa no podcast FEBRABAN News separou a pandemia em três estágios que refletiram no comportamento da população.
 
Em primeiro lugar, percebe-se o medo e adaptação ao novo diante da quebra de rotina imposta pelas restrições da quarentena; Em um segundo momento, há um cansaço extremo e uma adaptação a essa situação, além do desgaste nas redes sociais. Por fim, o terceiro estágio da pandemia diz respeito a insegurança de voltar à vida normal e os perigos ainda decorrentes do vírus.
 
Segundo Dunker, referência em psicologia no Brasil, dados registram que durante a pandemia houve 40% de aumento de procura por psicoterapias, crescimento de 42% na venda de medicamentos psicotrópicos, além de ampliação de 600% de demandas de escuta, acompanhamento e de trabalho psicoterápico, de acordo com os planos de saúde.  
 
Retorno à vida normal
O retorno ao convívio social tem levantado questionamentos sobre a saúde mental dos brasileiros, as medidas de proteção que ainda precisam ser adotadas para evitar o aumento do número de casos e o surgimento de uma nova onda.

Embora haja atualmente uma diminuição geral de mortes por covid-19, é necessário cautela devido à maior circulação de pessoas nas ruas e ao abandono das medidas de proteção.
Diante das incertezas desse cenário, para muitos a recuperação pode ser complicada pois enfrenta o nervosismo desses encontros presenciais- retomada das aulas, trabalhos, confraternizações- ao mesmo tempo que lida com o estresse desse período de pós- pandemia.

Esse período de ressocialização pode afetar ainda mais pessoas introvertidas ou com fobias sociais, que já estavam lidando com questões psicossociais como ansiedade, síndrome do pânico e depressão. Para algumas pessoas, o isolamento social foi um alívio e a desculpa perfeita para não ter que comparecer a reuniões sociais.

Outro grupo que gera preocupação são indivíduos que se encontram em situação de vulnerabilidade social, que perderam emprego, se endividaram e não conseguiram se reestruturar neste cenário de crise econômica. 

Impactos da pandemia na saúde mental

Tristeza profunda, falta de motivação, cansaço constante, insônia, ansiedade, procrastinação e dificuldade de concentração, foram sintomas relatados pela maioria da população durante o período de pandemia.

Christian Dunker, explica que os sintomas não significam uma condição clínica, pois viver neste contexto social é natural que traga consequências. No entanto, alerta para buscar apoio psicológico, para  obter a melhor indicação de tratamento.
“A gente está tendo uma nova onda de adoecimento psíquico. É um novo choque, é uma nova situação de estresse. Então quando a gente fala em nova onda da Covid também tem uma nova onda de risco para saúde mental”, relatou a psicanalista Vera Iaconelli em entrevista para Globo.

A pandemia aumentou o número de casos de depressão e ansiedade no mundo, alerta a Organização Mundial da Saúde. Nesse sentido a pandemia de Coronavírus desencadeou distúrbios e agravou a situação daqueles que já sofriam com eles.

A Organização Mundial da Saúde (
OMS) alertou em julho de 2021, que o confinamento imposto pela pandemia de Covid-19 terá um “impacto prolongado” na saúde mental mundial. Dessa forma, os efeitos da pandemia na nossa saúde mental e na economia vão pendurar por muito mais tempo.

 
OMS apontou que a pandemia de Covid-19 fez aumentar em mais de 25% a quantidade de casos de depressão e ansiedade em todo o mundo em 2020. Segundo a entidade, o número de casos de transtornos de ansiedade aumentou 25,6%, e os de depressão, 27,6% no ano retrasado.
As mulheres foram mais afetadas do que os homens e os jovens, especialmente aqueles de 20 a 24 anos foram mais afetados do que os idosos.





A pesquisa apontou que um dos motivos para o aumento de casos foi o estresse causado pelo isolamento social na pandemia, aliado a solidão e medo de infecção. Sofrimento e morte, tristeza e preocupação também foram citados como fatores contribuintes para ansiedade e depressão.

Uma pesquisa do Unicef mostra o impacto da pandemia na saúde mental de brasileiros de 12 até 35 anos, e a situação entre os jovens entrevistados chamou a atenção: três em cada dez relataram sintomas de ansiedade. Também houve aumento de risco de comportamentos suicidas entre os mais jovens.

Entre os profissionais de saúde, a exaustão foi um gatilho importante para o pensamento suicida, segundo a OMS, assim como a solidão e um diagnóstico positivo de Covid-19.

Algumas pessoas tornaram-se tão acostumadas ao isolamento social que até desenvolveram fobia social, a tendência de evitar o contato com outras pessoas e evitar lugares onde haja multidões.

O que é fobia social?

Fobia social é uma doença mental crônica caracterizada pelo medo e pela ansiedade social.  As pessoas com fobia social acham que estão sendo constantemente julgadas ou rejeitadas, além do desconforto de falar em público, conhecer pessoas novas, em geral, elas sofrem com o nervosismo de interagir socialmente.
 
Os sintomas incluem medo de sair sozinho, conversar com estranhos, de usar transporte público e de frequentar espaços públicos.
Embora existam tratamentos possíveis, não existe uma fórmula mágica capaz de superar a fobia social.

 

Saúde mental do brasileiro

Em nenhum outro lugar do mundo subiu tanto o diagnóstico de ansiedade e depressão  como no Brasil, segundo um estudo da Universidade de Ohio em parceria com universidades de 11 países. De acordo com os pesquisadores, os brasileiros foram mais prejudicados porque a pandemia demorou a ceder.

A ausência de horizonte para o fim da pandemia deteriorou a saúde dos brasileiros, trazendo sentimento de incerteza e vulnerabilidade.

O Brasil foi destaque na pandemia pela forma negativa que enfrentou a crise sanitária, somando mais de 600 mil mortes pela doença aliada ao um cenário econômico fragilizado, que levou à deterioração dos indicadores sociais.
Nesse sentido, a condução política na pandemia prejudicou a saúde mental dos brasileiros, o que levou a quadros de estresse e ansiedade na população.
 
Desde 2017  o Brasil tem a maior taxa de pessoas com transtornos de ansiedade no mundo. Já eram quase 19 milhões de brasileiros com a qualidade de vida comprometida, quando surgiu  o coronavírus – desencadenado transtornos mentais - e piorando a situação de quem já sofria com eles.

Adaptação ao novo normal

 

A maioria dos especialistas defende um retorno gradual à vida social, bem como entender os limites pessoais e encontrar pequenos grupos de pessoas. Não há resposta certa para controlar a ansiedade e nervosismo do retorno às atividades presenciais, é preciso ir aos poucos buscando conforto psicológico e físico.

O Ministério da Saúde afirmou que possui serviços especializados de saúde mental para crianças e adolescentes, e que com a pandemia, a cobertura se ampliou com atendimentos em formato remoto.

Dessa forma, é preciso analisar que tipo de apoio e intervenções podem ser fornecidos para o cuidado adequado dos indivíduos, permitindo um olhar humanizado para as doenças psicossociais, contribuindo, assim para o enfrentamento dessa crise sanitária quanto possíveis crises futuras.

Apesar de um tratamento específico para cada indivíduo, não haverá resultados sem mudanças culturais, que busque o bem-estar e a qualidade de vida dos brasileiros.
 
 
 
 
 


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