Pôster da última temporada da série "Stranger Things" (Fonte: Netflix/ Reprodução). De acordo com o dicionário, a palavra nostalgia pode ser definida como: saudades de algo, de um estado, de uma forma de existência que se deixou de ter; desejo de voltar ao passado. Esse é um sentimento que, de certo modo, pode intensificar os sentimentos das pessoas. Em um mundo com cada vez mais avanços tecnológicos e distanciamento da realidade,a maioria tem buscado maneiras de experimentar esse tipo de sensação, inclusive na hora de consumir produtos e serviços. Pensando nisso, na tentativa de atrair cada vez mais consumidores, as marcas têm empregado táticas que vão desde a utilização de design retrô até o relançamento de produtos clássicos.
Dessa forma, a criação de “Stranger Things” é recorrentemente apontada como uma evidência de estratégia da plataforma de streaming, Netflix, em capitalizar em cima de um interesse do público por produções que tematizassem os anos 1980 e pelos próprios filmes da época, bastante buscados em sua plataforma.
“Stranger Things" utiliza múltiplos recursos e “gatilhos de memória” que vão sendo disparados ao longo das cenas com o objetivo de trazer à tona a atmosfera dos anos 1980: ambientação dos cenários, figurinos, trilha sonora, referências a inúmeros sucessos cinematográficos da época, além de uma série de objetos que, por terem sido extintos do mercado em função da rápida evolução tecnológica das últimas décadas, contribuem para marcar o período retratado; como aparelhos de walkie-talkies, fitas cassete, fotografias analógicas e telefone fixo com fio.
A associação com filmes da década de 80 também é expressiva em "Stranger Things". São cenas que remetem lembranças de clássicos, tais como: Goonies (1985) e E.T.- O Extraterreste (1982), “Poltergeist” (1982), “A Hora do Pesadelo” (1984), “Jogos Fatais” (1986), “Eles Vivem” (1988), “O Enigma do Outro Mundo” (1982), “Videodrome - A Síndrome do Vídeo” (1983) e Scanners (1981).
Tais aspectos nostálgicos identificados na série suscitam discussões e o engajamento de fãs na web. O debate sobre os aspectos nostálgicos da série se acentua, no momento em que estes reconhecem e compartilham tais referências pela lembrança, conhecimento ou experiências vivenciadas na época em comunidades de fãs de “Stranger Things”.
Como já citado, há a relação entre o conceito de “capital” (estratégia de marketing) e a potencialidade nostálgica apresentada não somente pela série, mas também durante a participação de fãs em redes de sociabilidade, pois trata-se de um diferencial que remete à performance de fãs através de conhecimentos e experiências vividas na década de 80 durante as trocas de experiências entre eles.
Com a modernidade, a percepção de aceleração do tempo se intensificou. Ao mesmo tempo em que a modernidade promoveu a ruptura com a tradição e a valorização do novo, trouxe também o desejo de parar o tempo. A nostalgia seria, assim, um tipo particular de prática na qual a temporalidade é tensionada por um movimento que tende a valorizar o passado em detrimento do futuro. Desse modo, a nostalgia representa o desejo de volta a um tempo privilegiado em que obstáculos externos não afetavam, tão intensamente, os anseios de realização pessoal.
Talvez, por isso, a série "Stranger Things" tenha ganhado tanta notoriedade entre o público mais velho, que viveu os anos 80 e rememorou os anos de juventude com o produto midiático. Já os jovens da atualidade foram submetidos ao fenômeno nostálgico sem ao menos terem vivenciado e absorveram a ideia de uma época muito melhor devido a atmosfera apresentada na série.
