O ano de 2020 ficará mundialmente marcado pela pandemia da Covid-19 e por todas as consequências trazidas com ela. No entanto, o fato de muitos trabalhadores terem que se reinventar para sobreviver, permitiu-lhes explorar espaços até então pouco experimentados, como o ambiente digital. Um belo exemplo dessa realidade é o aumento considerável de espetáculos teatrais, shows e diversas outras formas de manifestações culturais serem realizadas no ambiente online.
Para entender melhor o porque desse crescimento, precisamos falar sobre uma palavra que atualmente está em evidência em nossas vidas e ao que tudo indica veio para ficar: ressignificação. Ressignificar é um verbo transitivo direto que caracteriza a ação de atribuir um novo significado a algo ou alguém. Assim sendo, a pandemia nos trouxe, entre outros problemas, o aumento da crise econômica que afetou a vida de milhares de pessoas e fortaleceu o desemprego. Sem trabalho, as famílias tiveram que reduzir despesas, gastando com o extremamente necessário e dentro desse contexto, programas como diversão, cultura e lazer se tornaram inviáveis de serem realizados.
Diante da impossibilidade de sair de casa, seja pelas medidas sanitárias impostas, ou pela dificuldade financeira, a sociedade passou a ficar mais tempo na internet. Foi apartir desse cenário que a classe artística percebeu no ambiente digital, uma possibilidade de trabalho e surgem então as lives, que começaram tímidas, porque não dizer “improvisadas”.
A princípio o objetivo era levar um pouco de alento através da arte, às pessoas que estavam impossibilitadas de ir a shows, teatros e diversos outros eventos. Trancadas em suas casas, lidando com perdas de entes queridos, solidão e dificuldades financeiras, as lives trouxeram além do alento, a arrecadação através de campanhas realizadas durante as apresentações online, de toneladas de alimentos e álcool gel que ajudaram milhares de pessoas.
No período de 10 de maio a 09 de junho de 2021, o Itaú Cultural e o Instituto Data Folha, ouviram 2.272 pessoas em todo o país com o objetivo de colher informações para a pesquisa Hábitos Culturais II e concluíram que os brasileiros buscaram com muito mais frequência o acesso a atividades culturais no ambiente digital.
A pesquisa revelou os seguintes dados:
O consumo de apresentações artísticas como teatro, dança e música tiveram o maior aumento. Enquanto em 2020, dos indivíduos ouvidos 20% disseram que consumiam esse tipo de atividade no ambiente online, em 2021 o índice dobrou e subiu para 40%.
Outra atividade que teve forte crescimento durante a pandemia foi a audição de podcasts. Em 2020, dos entrevistados 24% informaram que acessaram esse tipo de plataforma. Em 2021, o índice subiu para 39%, resultando em um salto de 15 pontos percentuais.
Também foi possível observar o aumento no consumo de jogos eletrônicos, que foi de 32% para 43%; música online, que aumentou de 74% para 79%; e filmes e séries, que cresceram de 68% para 75% dos entrevistados.
Dentre as atividades culturais que tiveram seu crescimento nas plataformas digitais também estão os cursos livres online (de 35% para 41%) e na leitura de livros digitais (de 36% para 40%).
Espetáculos infantis, por sua vez, se mantiveram estáveis (23%).
Outro dado muito importante colhido durante a pesquisa Hábitos Culturais 2, mostra que 76% dos entrevistados acessaram à internet diariamente, crescimento de 5 pontos percentuais em relação a 2020, que era de 71%.
E daqui para a frente, como será que os produtores irão lidar com essa transformação cultural? Sim, pois o público que durante a pandemia precisou ficar isolado e experimentou como diversão, assistir aos mais variados shows musicais, espetáculos teatrais, de dança, entre outros, no conforto de sua casa e de forma gratuita, agora já pode comemorar a volta dos artistas aos palcos, porém, não abre mão de ter as duas possibilidades de escolha. Esse comportamento é o que os especialistas chamam de hibridismo da cultura, e ao que as evidências indicam, fará parte do nosso cotidiano pós-pandemia.
O diretor do Itaú Cultural, Eduardo Saron, em entrevista concedida a Teca Lima, para o programa “Estação Cultura”, na Rádio Cultura FM 103.3, disse “o fato é que muitas coisas Teca, a gente aprendeu rapidamente com a pandemia, muitas coisas ficarão, agora com mais profissionalismo, mais criteriosas com a qualidade, e esse hibridismo vai exigir mais profissionalismo, mais experiências transformadoras por meio deste mundo remoto que possam ir além de uma mera transmissão, com muita interação", afirmou Saron.