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10/10/2023 às 20h04min - Atualizada em 10/10/2023 às 18h57min

Representatividade negra no audiovisual: referências ancestrais que inspiram o presente

De quantas mulheres negras protagonistas você se lembra enquanto assistia novelas ou filmes de sessão da tarde?

Thaís Domingos - Revisado por Paola Pedro
A atriz Léa Garcia. (Reprodução/ Secretaria de Cultura do Rio Grande do Sul)

O número de representações de mulheres negras nas produções audiovisuais é pequeno em comparação à proporção que o grupo possui no país. Segundo resultados da Pesquisa Nacional de Domicílio (PNAD) de 2015, mulheres negras equivalem a 30% da população brasileira, enquanto representam apenas 4% do elenco dos filmes analisados entre 1995 e 201, de acordo com o levantamento feito pelo Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa (GEMAA) da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).

 

A história do  Cinema e do audiovisual brasileiro traduzem alguns apagamentos que refletem as bases em que nossa sociedade foi construída, como o racismo e o sexismo. Sub-representações e estereótipos são emblemas que, por muito tempo, ocuparam as telas, ajudando a reforçar lugares de servidão e narrativas únicas para mulheres negras. Os dados chamam atenção quando olhamos também para quem está atrás das câmeras, responsáveis pela construção das narrativas. Conforme a pesquisa do GEMAA, dos 200 filmes nacionais de maior bilheteria, nenhum teve a direção ou roteiro realizado por uma profissional negra.

 

Yolanda Braga (1941-2021) foi a primeira mulher negra a protagonizar uma novela na televisão brasileira em 1965, rompendo muitos paradigmas e preconceitos da época. Nesse período, outras atrizes negras também se destacaram na televisão, como Ruth de Souza, Elisa Lucinda, Zezé Motta e a brilhante Léa Garcia, que faleceu em agosto deste ano. 

 

O brilho de Léa

 

A atriz foi a homenageada da Semana de Cinema Negro de Florianópolis de 2023, que exibiu filmes gratuitamente através do Cine Paredão, projeto cultural sediado na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Léa, que completou 70 anos de carreira, deixou um grande legado que abriu caminhos para muitas outras mulheres negras intérpretes no audiovisual. 

 

A carreira de Garcia começou no teatro, sendo “Rapsódia Negra” sua primeira peça encenada, através da companhia Teatro Experimental do Negro, idealizada por Abdias do Nascimento (1914-2021). A trajetória na dramaturgia começou a se consolidar após o sucesso do  longa-metragem “Orfeu Negro”, dirigido pelo cineasta francês Marcel Camus. Em 1959, o filme ganhou o prêmio Palma de Ouro em Cannes e venceu o Oscar de “Melhor Filme Estrangeiro”  em 1960.
 

Cena de Léa Garcia em Orfeu Negro. (Reprodução: Tupan Filmes)

Cena de Léa Garcia em Orfeu Negro. (Reprodução: Tupan Filmes)

 

Ao longo da carreira, a atriz emplacou personagens marcantes em novelas, como a vilã Rosa na trama "A Escrava Isaura” (1976). Além de possuir um talento exímio como atriz e ampla bagagem em filmes, peças e novelas, Léa esteve em lugares de tomada de decisão, sempre lutando pelos direitos da população negra, não esquecendo-se do lugar político que também ocupava na sociedade. De 1999 a 2001, atuou como conselheira de Cultura do Estado do Rio de Janeiro. 

 

No adeus a Léa Garcia, várias personalidades da televisão, do cinema e do teatro homenagearam a atriz, lembrando de seu talento. Em seu perfil no Instagram, o ator Lázaro Ramos escreveu: “[...] Poder trabalhar com a senhora foi um sonho alimentado por anos, e realizado com muita celebração. Obrigado por abrir caminhos para nós e por em cada aparição sua nos hipnotizar com esse olhar único e interpretações poderosas.”

 

Presente e Futuro

 

O caminho percorrido por Léa e outras atrizes negras continua sendo pavimentado por atrizes da nova geração. Nomes como Taís  Araújo, Sheron Menezzes e Clara Moneke estão em ascensão, justamente pela ruptura que causam ao estarem em lugares de protagonismo e não corresponderem às expectativas racistas de personagens secundárias e estereotipadas no audiovisual.

Em “Vai Na Fé” (2023), sucesso de audiência escrito por
Rosane Svartman, as atrizes Sheron Menezzes e Clara Moneke se destacaram por suas personagens autênticas, donas de suas próprias escolhas. A novela também ficou conhecida pelo elenco diverso e por abordar temas como diversidade religiosa, sexual e violência contra a mulher. É necessário também reforçar a importância da participação de mulheres negras na direção para a construção de outras narrativas e olhares, como a diretora Juh Almeida. 


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