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27/02/2023 às 18h20min - Atualizada em 16/02/2023 às 14h36min

Recession core: como a moda se expressa nos tempos de recessão

Depois da febre do Y2K e tendências maximalistas, entramos na era das roupas básicas e tons neutros

Fernanda Monteiro - Editado por Raquel Carvalho
Coleção de Outono de 2023 da marca de luxo VTMNTS. Fotos: VTMNTS | Reprodução: Vogue Runway


Desde o final do ano de 2020, o estilo que tomou conta do imaginário popular foi o inspirado nas roupas dos anos 2000. Cansamos de ver calças cintura baixa, roupas, acessórios coloridos e extravagantes, estampas chamativas e por aí vai. Dois anos depois, a tendência que toma conta dos tapetes vermelhos e das passarelas de alta-costura é o completo oposto.


O recession core, ou estética da recessão, como foi apelidada por cool hunters — isto é, caçadores de tendências — nas redes sociais, é a nova macrotendência que consiste, essencialmente, na volta dos básicos: roupas lisas e tons neutros, ausência de joias e acessórios, roupas sem logomarca evidente, e etc. 

Traduzido para o português o termo 'core' significa núcleo, e, pelo menos nos últimos dois anos, foi usado para definir diversas novas tendências que ganharam espaço nos feeds: ‘barbie core’, ‘gorp core’, ‘brasil core’, ‘cottage core’, e etc. No espectro das redes, é uma forma de categorizar estilos específicos e foi o que aconteceu quando os tais cool hunters se depararam com composições de looks mais básicas que o esperado.

 

É fato que na moda tudo está conectado, inclusive com os aspectos sociais, políticos e econômicos da sociedade, ou seja, associar esses fatores com a recessão iminente da sociedade não é um equívoco. A palavra recessão significa regredir e, na economia mundial, trata de uma queda significativa da atividade econômica ao redor do globo. É quase lógico que após uma pandemia e a explosão de guerras em nível mundial, uma recessão seria inevitável: foi o que economistas anunciaram para o ano de 2023.

Não é a primeira vez e nem será a última que a moda “prevê” ou se espelha na situação econômica do mundo. Após a crise financeira de 2008, por exemplo, a tendência simplista também tomou conta do “armário” da moda.

Nos dias de hoje, essa tendência vem se manifestando da mesma forma: pessoas com um alto poder aquisitivo e de influência deixando de ostentar itens de valor e dando lugar a um guarda-roupa cada vez mais básico. Até que ponto isso é inovador e até que ponto isso deveria virar tendência?

De acordo com a jornalista de moda Rafaela Fleur, “[O
recession core] reflete um comportamento ‘aesthetic’ que bomba nas redes sociais há alguns anos. Aquela coisa da garota que só usa preto, branco e cinza, o feed do Instagram sempre combinando, com cara de Pinterest. Me parece uma nova forma de aclamar a mesma coisa”, disse. 

 

É fato que as pessoas que desfilam essa tendência não são afetadas pela crise financeira, muito pelo contrário. Enquanto a grande massa popular sofre as consequências de uma economia decadente, seria uma forma, então, das celebridades e pessoas de grande influência parecerem menos ricas?

Fleur comenta ainda que “parece uma síndrome de pobre menina rica que acha legal falar sobre consumir menos, quando ela própria pode consumir tudo." Segundo a especialista, essas roupas não são baratas e a maior parte das que viralizam nas redes sociais são de grifes renomadas, não de brechós ou de segunda mão. Ou seja, as pessoas e marcas que vestem essa estética têm recursos mais do que suficientes para inovar, mas não o fazem.

 

Quando se acompanha a passarela de uma semana de moda ou o tapete vermelho de um evento que reúne as celebridades mais relevantes do momento, como o Globo de Ouro ou o Grammy, espera-se tendências que fogem do que já foi visto anteriormente, e não é o que vem acontecendo nos últimos meses, salvo algumas exceções.

Ainda que estejamos na era do minimalismo e dos básicos é algo, no mínimo, bizarro que nossa geração tenha que organizar tudo em uma categoria específica — como mostra os diferentes “cores” inventados nos últimos anos —, ainda mais no caso de uma recessão mundial.

Com isso, a reflexão que fica é: será que a tendência da “recessão” é realmente um reflexo das camadas que sofrem com a crise econômica mundial, ou é só mais uma forma de celebridades tentarem parecer menos privilegiadas perante essas pessoas, quando na realidade seus vestidos custam mais que o valor da renda de 90% da população? 

 

 

 


 

 

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