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17/02/2023 às 00h14min - Atualizada em 16/02/2023 às 23h41min

O retrocesso nos direitos das mulheres após ascensão do Talibã

Grupos extremistas aumentam opressão e restrições às classes femininas

Lóren Souza - Editado por Ynara Mattos
REPRODUÇÃO Rede Brasil Atual

Em dezembro do ano passado, o Talibã, grupos extremistas que controla o Afeganistão, proibiu que mulheres realizassem vestibulares para ingressarem em universidades. A medida faz parte de uma conduta mais ampla que precariza os direitos das mulheres no país, com restrições que dificultam que a população feminina estude e trabalhe. Fechamento de escolas de ensino médio e proibição de trabalharem em ONGs, estão entre as decisões. 

 

O quadro faz parte de um retrocesso nacional e mundial do país no que diz respeito aos direitos das mulheres. É o que aponta o relatório elaborado pela Fundação Jean-Jaurès e pela organização feminista Equipop. Ele, também, manifestam causas para tal quadro, entre elas movimentos e grupos de extrema direita ou fundamentalistas, afirma Lucie Daniel, da Equipop.

 

Breve histórico

 

O talibã chegou ao poder em agosto de 2021, após a saída das tropas norte-americanas do país e sem enfrentar resistência das forças do governo anterior. Desde então, o Talibã vem precarizando a vida no país e retomando as medidas e posturas. Da primeira vez que governou o país, período que durou de 1996 a 2001, e foi encerrado com a intervenção de tropas dos Estados Unidos. 

 

Cerca de 1 ano e 6 meses após o novo regime, o Talibã vem agindo de forma violenta contra as mulheres, além de todas as atitudes repressivas direcionadas à liberdade das mulheres e meninas do país.

 

Entenda o que é o Talibã e como chegou ao poder 2 vezes

 

O Talibã se constitui no contexto da Guerra Fria, quando União Soviética e Estados Unidos disputavam influência sobre os países. Nos anos 80, os Estados Unidos começaram a treinar, armar e patrocinar grupos guerrilheiros locais para lutar contra a União Soviética que estava ocupando o Afeganistão há cerca de 10 anos. Essas milícias eram conhecidas como mujahideen e recrutavam jovens e estudantes, que passavam por um processo de fanatização. 

 

Após a expulsão dos soviéticos do território em 1989, o Talibã começou a tomar territórios do Afeganistão até estabelecer um governo iniciado em 1996 e que foi terminado em 2001, com a invasão de tropas dos Estados Unidos, após o atentado de 11 de Setembro.

 

O grupo ficou enfraquecido, mas continuou realizando ataques ao longo dos 20 anos seguintes e se reorganizando. A partir de 2012, os números de soldados estadunidenses no país começaram a diminuir até chegar ao seu menor número em 2020. Nesse período, o grupo fazia investidas contra os civis e poder público e em 2018, já ocupava aproximadamente 70% do país. 

 

Após as retiradas das tropas a mando do atual presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, o grupo avançou ainda mais no país e derrubou o governo estabelecido sem encontrar resistência. O ex-presidente do país Ashraf Ghani acabou fugindo horas antes dos extremistas invadirem a capital. 

 

Extremismo 

 

O grupo opera a partir de uma interpretação literal e extrema do texto islâmico. A lei que eles seguem é idealizada com base no livro sagrado muçulmano, o Alcorão, e é chamada de sharia.
 

“A sharia não está pronta, não está codificada em leis textualmente acessíveis em um livro, não é como uma Constituição de um país, no sentido ocidental do termo”, explica a professora Gisele Chagas do Núcleo de Estudos do Oriente Médio da Universidade Federal Fluminense, em entrevista ao G1. 

 

Isso significa que o texto islâmico e, portanto, a sharia são interpretadas de formas diferentes pelos adeptos da religião. No caso do Talibã, eles formularam uma interpretação extremista que justifica o tratamento violento dados às mulheres e as medidas punitivas violentas, como amputação de membros do corpo em caso de crimes. 

 

Ainda de acordo com a professora Gisele Chagas, há uma influência de movimentos ultraconservadores e fundamentalista na leitura do texto religioso feito pelo Talibã, o que ajuda a justificar a interpretação que é feita. Além disso, há o fato de que o Talibã tem origem no grupo da etnia pachtuns, que possui interpretação teológica mais puritana da sharia.

 

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