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27/10/2023 às 16h52min - Atualizada em 27/10/2023 às 16h49min

Aumento de queimadas ameaça a vida na caatinga

Em 2023, o número de focos de incêndio cresceu no bioma. As consequências desse crime ambiental são desastrosas para a biodiversidade.

Ana Gabriela Freire - Editada Por Nick Santos
Imagem: jcfotografo


A caatinga está ameaçada pelo fogo. O bioma brasileiro teve, na semana de 16 de outubro de 2023, um total de 14,8% dos focos de queimadas no Brasil. Foi um crescimento significativo em relação à semana de 09 de outubro, quando correspondeu a 6,9% dos focos. Mesmo sendo frequentemente retratada pela mídia como um local reduzido a secas constantes, a caatinga tem uma rica biodiversidade de flora e fauna. De acordo com informações do Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN), 33% da vegetação e 15% dos animais presentes no bioma são endêmicos de seu território. Em outubro deste ano, foi descoberta uma nova espécie de peixe na caatinga do Rio Grande do Norte: o Hypsolebias lulai, cujo nome homenageia o atual presidente Lula. Presente em poças e pequenos corpos d’água, o Hypsolebias lulai faz parte da família Rivulidae, chamada também de peixes-das-nuvens. A nova espécie é ameaçada pela atividade agrícola e pela presença da tilápia, peixe exótico que preda seus ovos e filhotes. Além das espécies raras, a caatinga também tem um papel fundamental para o equilíbrio do meio ambiente no Brasil, já que, segundo a Superintendência de Administração do Meio Ambiente (SUDEMA), possui a capacidade de reter gás carbônico (CO2). Dessa forma, o bioma contribui para a redução do aquecimento global.


Em 2023, a caatinga foi o terceiro bioma com mais focos de queimada detectados pelo satélite Aqua, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Do total, 8,9% dos focos foram encontrados na caatinga, ficando atrás somente da Amazônia e do Cerrado. Em relação à 2022, a porcentagem de queimadas no bioma aumentou: era de 7,7% no ano anterior. Segundo a plataforma BDQueimadas, do INPE, os municípios com mais focos detectados foram Pilão Arcado; na Bahia, Floriano; no Piauí, e Campo Alegre de Lourdes; também na Bahia. Os dois estados possuem o maior número de municípios entre os 10 mais afetados pelas queimadas. Eles figuram ao lado de Pernambuco e Ceará. Na Bahia, regiões protegidas também foram afetadas pelas queimadas. A Área de Proteção Ambiental (APA) Dunas e Veredas foi a mais afetada, com 46, 2% dos focos entre todas as áreas monitoradas. A APA Lago de Sobradinho, cujo território se estende pela Bahia e por Pernambuco, teve 28,4% do total. Outras Unidades de Conservação com focos de queimada foram a APA Lagoa de Itaparica e a APA Marimbus/Iraquara, ambas localizadas em território baiano. Em algumas terras indígenas (TIs) da caatinga, focos de incêndios provocados foram detectados pelo satélite Aqua: 15 ao todo. As áreas afetadas foram as TIs Xukuru, Kapinawá e Fulni-ô; em Pernambuco, a Tapeba e a Taba dos Anacé; no Ceará, e a Kariri-Xocó, em Alagoas. O ambientalista Dionísio Carvalho explica que, caso as queimadas continuem nesse ritmo, a caatinga pode nunca voltar ao que era antes: “A caatinga é uma vegetação que só acontece no Brasil. É uma savana e existe a caatinga arbórea, herbácea e arbustiva. Danos de queimadas nela (caatinga) é muito complicado reverter e recuperar a área novamente. Ela provavelmente, quando queimada, vira um deserto, porque já é uma terra com menos recursos comparada a outros biomas. Por exemplo, menos animais do que a floresta da mata atlântica, menos folhas, menos galhos e é uma vegetação que dificilmente vai se recuperar ou que nunca mais vai se recuperar após queimada”. O ambientalista destaca os danos que queimadas e caçadores trouxeram para a biodiversidade da caatinga e acredita que a fiscalização deve aumentar para que a situação mude: “uma fiscalização e leis ainda mais rígidas devem ser feitas porque as pessoas vão deixar de morar na caatinga, inclusive, porque a caatinga está virando deserto”, finaliza.

O Major Dênio Marinho, diretor de fiscalização da Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Piauí (SEMARH - PI), fala sobre o papel do órgão e sua ações no combate às queimadas: “A SEMARH, através da diretoria de fiscalização vem atuando no combate e prevenção às queimadas, nos biomas que o Piauí possui. Na caatinga não é diferente. Fazemos educação ambiental, treinamento de brigadas com a parceria do corpo de bombeiros e a fiscalização propriamente dita, através do corpo técnico de auditores, inclusive com engenheiros florestais e por vezes, quando necessários, solicitamos o apoio da delegacia de proteção ao meio ambiente”. Marinho esclarece que, enquanto a SEMARH atua no quesito administrativo, aplicando multas e embargos, a delegacia de polícia do meio ambiente lida com os crimes ambientais, realizando flagrantes e encaminhando para a delegacia. Em nota, a diretoria de fiscalização da SEMARH - PI aprofundou mais sobre como são feitas as ações de combate às queimadas:  “Principalmente no segundo semestre de cada ano - período em que as queimadas se intensificam e são mais frequentes - a SEMARH, por meio da Diretoria de Fiscalização, fortalece o trabalho para o combate e prevenção de queimadas no Piauí, especialmente para proteger os biomas do nosso Estado. A pasta vem promovendo a educação ambiental nas comunidades da região da Caatinga, bem como treinamentos de brigadas parceiras com os municípios. Além disso, a pasta distribui frequentemente Equipamentos de Proteção Individual (EPI's) e equipamentos de suporte às brigadas, de modo que o trabalho em meio ao bioma seja realizado de forma adequada. Também são promovidas ações de repressão, por meio da aplicação de multas e embargos em casos de prática de incêndio florestal e/ou ilegal. Em situações em que se observa que há alguma prática criminosa, o trabalho é de competência da Delegacia de Polícia do Meio Ambiente (DPMA).”


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