Foto e Reprodução: Internet / Edição: Isabelle LimaO termo anime como conhecemos hoje teve uma história até chegar até aqui. Acredita-se que a primeira forma de animação japonesa surgiu em 1917, em meados do fim da Primeira Guerra Mundial, depois que os japoneses tiveram contato com a cultura pop americana. O curta Jun’ichi Kōuchi Namakura Gatanaou, ou A Espada Maçante, foi dito como o mais antigo já registrado, sendo descoberto apenas em 2008, num antiquário japonês.
Durante esse tempo, onde as primeiras animações japonesas surgiram, o mangá ainda era a principal mídia do país. A origem do termo tem controvérsias: uns acreditam que vem da junção de palavras inglesas japan & animation (o que durante um tempo ocasionou a nomeação dessas obras de japanimation durante as décadas de 70 e 80); outros que vem só da palavra animation; alguns que vem do termo francês dessin animé e por aí vai. Foi só no fim da década de 80 que o termo anime foi formalmente instaurado para se referir às animações.
A virada de século com certeza foi a chave para que os animes furassem a bolha e começassem a espalhar influências na sociedade mundial.
A principal obra japonesa aqui é Akira. O filme de 1988, é baseado no seu mangá, do autor Katsuhiro Otomo. Traz uma história distópica, ambientada em Neo-Tóquio, cidade reconstruída depois da sua destruição por conta de uma 3ª Guerra Mundial, e acompanha uma gangue de motoqueiros, especificamente Kaneda e Tetsuo, rebeldes desconfiados da política local e do mundo.
O filme é icônico pois foi a primeira vez que o ocidente consumia uma mistura de distopia cyberpunk, alienação, filosofia científica no gênero de ficção científica japonês. Era algo inédito na animação e trouxe elementos que só tínhamos visto em filmes como Blade Runner: O Caçador de Andróides e 2001: Uma Odisséia no Espaço, que inclusive foram inspirações para Katsuhiro ao criar Akira.
Além desses elementos abstratos, os enquadramentos usados para contar a narrativa servem de inspiração até hoje. A cena de Kaneda em sua moto se tornou icônica que até hoje vemos reproduções dela.
— Matthias Jambon-Puillet (@LeReilly) August 11, 2018
Continuando esse hábito de se inspirar em cenas de certos animes, aqui vemos diretores que criaram seus filmes em torno de uma característica em diferentes filmes e animes. Não só para além de filmes, como também para videoclipes. Com exemplos temos:
O diretor Christopher Nolan que se inspirou no filme Paprika, de Satoshi Kon, para seu filme Inception, já que ambos os filmes são sobre uma realidade aumentada dentro dos sonhos. O diretor Aronofsky, até pagou para usar frames semelhantes aos do filme Perfect Blue em Cisne Negro. Ambos os filmes contam a história de uma mulher em busca da fama e como isso afeta ela e os outros ao seu redor.
No âmbito musical, vemos características desde 1995, quando Michael Jackson usou clipes de Babel II e Akira; ou desde 2003, com o lançamento da série Interstella 5555 criada pela banda Daft Punk, apresentada por meio de videoclipes e de um filme disponível na Prime Video.
Aqui é o momento onde uma certa demografia, um certo gênero de anime surge sendo influenciado e tendo influência nesse âmbito da moda. Os gêneros femininos de Shoujo e Josei formam uma base para a criação e distribuição de tendências ou para o resgate delas.
Um dos animes shoujo mais difundidos do período foi Sailor Moon. A história das amigas guerreiras vestidas como marinheiras e colegiais inspirou uma geração. Mas. qual sua relação com as grandes grifes do mundo?
Naoko se inspirou num estilo japonês chamado de Shibukai — ou Francês casual, que surgiu no fim dos anos 1980 e no início dos 1990, provavelmente na região de Shibuya —, que se baseava em misturar referências de marcas europeias, como Chanel e Louis Vuitton, e de marcas norte-americanas, como Ralph Lauren. Outras grifes também inspiraram a autora, como Dior e Yves Saint Laurent.
Podemos ver como características desse estilo peças de cintura alta (calças, shorts e saias), peças largas combinadas com peças justas, bolsas e outros acessórios inspirados em marcas de luxo. Sobreposições, tops croppeds, moletons, conjuntinhos, macacões e peças jeans são outras características. A típica moda dos anos 90.
Sailor Moon inspira até os dias atuais, e se tornou um ícone para reformulações. Exemplos mais recorrentes são: a coleção de sapatos desenvolvida pela Vans e a coleção de saltos e bolsas desenvolvida por Jimmy Choo em parceria com Naoko Takeuchi.
E se eu te dissesse que até o fim da primeira década do século XXI, existia um preconceito com músicas usadas para aberturas e encerramentos de animes? Antigamente, os cantores que eram contratados para criar as músicas temas muitas vezes desistem de compor pois eram mais reconhecidos como cantores de músicas de animes do que como artistas propriamente ditos.
Todo anime que se preze tem uma música para chamar de sua. Seja abertura, música tema ou encerramento, uma dessas se torna tão icônica que vira a principal referência da obra. Quando os primeiros animes surgiram, seus temas musicais eram música clássica orquestral com um toque alegre, num exemplo antigo, o tema de Astro Boy, que ainda em 1963 inspirou o resto da indústria de anime do Japão.
Daí se tornou uma mistura de ritmos: rock e heavy metal eram destinados ao gênero shounen, o pop para o shoujo e o rock-pop para o kodoma, gênero infantil, que se popularizou com a estreia de Pokémon em 1997. A nostalgia que essas músicas trazem se deve ao estilo musical do City Pop, popular nos anos 70 e 80. O City Pop se caracterizou por trazer uma mistura de disco, jazz, e tem como elementos o néon vibrante, e a cultura urbana da noite. Os principais nomes são Mariya Takeuchi com Plastic Love; Miki Matsubara com Stay with Me; Junko Yagami com Bay City, entre outras que você pode conferir na playlist abaixo:
O City Pop teve algumas utilizações em animes shounens, onde se predomina mais o rock, mas se popularizou mais sendo utilizado com OSTs de Shoujos e Mahou Shoujos, gêneros predominantemente femininos. Alguns exemplos são:
Esse gênero retorna anos depois, dessa vez renomeado de Future Funk. Ele tem esse nome pois é baseado nas batidas eletrônicas vistas nos anos 80. Criado na internet pelos millenials, misturam os vocais de cantores japoneses de City Pop com batidas futuristas.
Para quem consome tudo isso, pode acabar não percebendo as pequenas influências que a cultura japonesa tem em diversas questões quando se trata de entretenimento, uma vez que produzir uma obra com base no que já existe é relativamente mais fácil. Assim como o resto do mundo inspirou o Japão anos atrás, hoje são eles que inspiram cada vez mais os países ocidentais.
REFERÊNCIAS:
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KIM, M. H. What are Anisongs? How Music for Anime Became a Growing Global Sensation. Chart Metric, 2023. Disponível em: < https://hmc.chartmetric.com/anisongs-anime-music-growing-global-sensation/#:~:text=The%20Origins%20of%20Anisongs&text=Functionally%2C%20they're%20supposed%20to,experience%20of%20watching%20the%20show. >. Acesso em: 14 mar. 2024.
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ANHESINI, V. (Re)Descubra City Pop: O fantasioso movimento musical do Japão nos anos 80. Mad Sound, 2020. Disponível em: < https://www.madsound.com.br/redescubra-city-pop/ >. Acesso em: 16 mar. 2024.
SILVA, P. Você também deveria ouvir City Pop e Future Funk. Paula Silva Medium, 2018. Disponível em: < https://medium.com/@afrointergalatica/voc%C3%AA-tamb%C3%A9m-deveria-ouvir-city-pop-e-future-funk-cefe4ba0fcf4 >. Acesso em: 16 mar. 2024.
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