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25/04/2020 às 21h08min - Atualizada em 25/04/2020 às 21h08min

São Paulo 92-93: nunca favorito, mas sempre vencedor

O inesquecível time do ‘Mestre’ Telê que apresentou o São Paulo para o mundo

Dara Oliveira - Editado por Paulo Octávio
Elenco tricolor que conquistou a América e o mundo em 93. Créditos: Sãopaulofc.net
Os anos 90 foram inesquecíveis para o São Paulo Futebol Clube. Uma época que, talvez, nunca se repita na história da equipe paulista. Antes de tudo, das conquistas nos Paulistas, Brasileiros, Libertadores, Recopas e Mundiais no início da década, é válido lembrar que em 1989 e 1990, o tricolor amargou dois vices seguidos em Campeonatos Brasileiros. Entretanto, em 91, o Tricolor começou a saga de conquistas históricas com a ajuda de um plantel de renome e com um comandante, hoje, eternizado pelo clube, ele mesmo: Telê Santana. Hora de relembrar a era mágica, quando todo o mundo foi pintado de vermelho, preto e branco.

Seguindo em frente

Quando o tricolor bateu na trave e perdeu o Campeonato Brasileiro para o Vasco em 1989, o clube dava sinais de negatividade e a torcida devolvia com desconfiança. A fase não era boa. Chegava 1990 e, de novo, o São Paulo remava e nada. No paulista a campanha foi frustrante e time quase acabou rebaixado. Telê Santana assumiu a equipe já com o Brasileiro em andamento. Mesmo com todos os esforços, o técnico pegou um time na 10ª posição e levou até a final, porém a vitória não se concretizou. Dessa vez o título escapou e caiu nas mãos do grande rival, Corinthians.

Posteriormente, Telê continuou no cargo e ajustou a equipe para as competições futuras. No começo da temporada de 1991, com uma equipe arrumada e competitiva, o São Paulo de Telê chegou na final do Campeonato Brasileiro. Após duas frustrações, era o momento da virada. Na decisão contra o Bragantino, o Tricolor levou a melhor e levantou a taça. No mesmo ano, o plantel ainda derrotou o Corinthians na final do Paulista. Raí foi o grande nome da primeira partida e marcou os 3 gols do título. Na volta as equipes não saíram do 0 x 0.

Próxima parada, Libertadores

Podemos dizer que 1991 foi o ano da redenção do tricolor, e a próxima parada era a mais importante naquele momento: a conquista da América. Contudo, esse não foi um percurso fácil, pois a trajetória são-paulina contou com muita dificuldade já na fase de grupos da disputa continental. No grupo 2, logo na estreia, amargou uma derrota para o Criciúma por 3 x 0. Depois, conseguiu se recuperar com uma vitória também por 3 x 0 para o San José (BOL). Na sequência um empate por 1 x 1 com o Bolívar (BOL). Nos jogos de volta, o Tricolor revidou e venceu o Criciúma por 4 x 0, empatou com São José em  1 x 1, e derrotou o Bolívar por 2 x 0. Sendo assim, o São Paulo avançou para as oitavas como segundo do grupo e teve como adversário o Nacional do Uruguai. Na primeira partida, o tricolor venceu por 1 x 0. Na volta fez mais 2 x 0. Nas quartas, a equipe de Telê reencontrou o Criciúma. Na ida deu tricolor (1 x 0) e no último jogo o empate por 1 x 1 garantiu o time paulista na fase seguinte. O Barcelona do Equador foi o adversário da semifinal. Tricolor venceu por 3 a 0 e, apesar da derrota na volta por 2 x 0, clube conseguiu  chegar à final.



Equipe tricolor que conquistou a América. Créditos: Reprodução/Acervo Gazeta Press

América é do tricolor

Era 17 de junho de 1992, uma quarta-feira à noite, e o São Paulo conquistava a América. O adversário era o clube argentino Newell’s Old Boys, que chegou na final com o melhor ataque da competição. Antes dessa noite memorável, a primeira partida havia sido disputada na terra dos hermanos, que venceram por 1 x 0. Sendo assim, na decisão no Morumbi, os brasileiros tinham que vencer o jogo de qualquer jeito. No tempo normal, Raí conseguiu fazer um gol, mas o jogo se encaminhou para os pênaltis. Após a série de cobranças, o tricolor, enfim, celebrava o título de campeão da Libertadores da América e a vaga no Mundial de Clubes.


Tricolor enfrenta Newell's Odl Boys na final da Libertadores de 92. Créditos: Reprodução/Acervo Gazeta Press

Zebra x Dream Team
Nem de longe o São Paulo era favorito na final do Mundial  de 1992. Até porque o Barcelona tinha o plantel, ou melhor, o “Dream Team”. Em suma, a escalação contava com Guardiola, Koeman, Stoichkov, Nadal, entre outros. E ainda tinha o comando de Johan Cruyff. Contudo, essa foi, inegavelmente, uma das melhores atuações do tricolor em toda sua história.

“Se é para ser atropelado, que seja por uma Ferrari”

A Ferrari tricolor entrou em campo na terra do sol nascente para jogar de igual para igual com adversário. Na ocasião, o time brasileiro não deu muita oportunidade para as estrelas da Catalunha brilharem. A equipe de Telê mostrou para o mundo que era digna de estar ali, e nem mesmo o gol inicial do Barça intimidou o grupo, que logo buscou o empate com Raí. E foi o mesmo camisa 10 que, de falta, marcou o gol da virada e, consequentemente, do mundial tricolor. Após o jogo, apesar da lamentação, Cruyff elogiou o adversário e disse “se é para ser atropelado, que seja por uma Ferrari”. Frase que define o São Paulo campeão do mundo. 



 Melhores momentos de São Paulo 2 x 1 Barcelona. Canal: Gefot 100. Imagens: FIFA

92 ainda não terminou!

O São Paulo já era campeão da Libertadores e já tinha Mundial, mas ainda faltava o Paulista. O primeiro jogo da final contra o Palmeiras havia sido disputado uma semana antes da ida para o Japão. Na ocasião, o tricolor saiu com a vitória por 4 x 2. O jogo da volta foi sete dias depois da vitória sobre o Barcelona. Embora exausto, o plantel são-paulino ainda venceu por 2 x 1 e fechou o  ano vitorioso para o torcedor, que já se preparava para a próxima temporada, que aquela altura já despertava o interesse do mundo todo.

93, Libertadores e Mundial é logo ali!

1992 foi o ano mais vermelho, branco e preto da história, e 1993 tinha tudo para ser igual. Todavia, o São Paulo, que estava focado nas disputas internacionais, acabou deixando as competições nacionais pelo caminho. Ficou de fora das finais do Paulista e terminou o Brasileirão na sexta posição. Já na Libertadores, o Tricolor estreou nas oitavas por ter sido campeão no ano anterior. E a estreia foi contra o mesmo Newells. Na ida, os argentinos venceram por 2 x 0. Contudo, no Morumbi, o tricolor goleou os argentinos por 4 x 0. Já nas quartas de final, o São Paulo teve que enfrentar o Flamengo. Na ida, as equipes brasileiras empataram em 1 x 1. No Morumbi, Muller e Cafu resolveram a situação para o tricolor com 2 x 0. O Cerro Porteño (PAR) foi o adversário da semifinal. No primeiro jogo, Raí fez um 1 x 0 e deu a vitória para os brasileiros. Na volta, a partida não saiu do 0 x 0, e o tricolor chegou em sua segunda final consecutiva de Libertadores.

Mais uma vez, a América é tricolor

O primeiro jogo da final da Libertadores de 1993 aconteceu no Morumbi. Contra a Universidad Católica do Chile, a equipe paulista deixou sua torcida feliz ao vencer por 5 x 1 os chilenos. Embora tenha perdido a segunda partida por 2 x 0, o bicampeonato da América já era realidade. Aquele foi um momento singular na jornada da equipe que tinha: Zetti, Cafu, Ronaldo Luíz, Vítor, Gilmar, Palhinha, Raí, Pintado, Dinho, Válber e Muller. Pois na sequência, Raí deixou o grupo para defender o Paris Saint-German (PSG). Esse foi o fim de um ciclo vitorioso, de um São Paulo que nunca mais seria visto. Não há dúvidas que a ausência do camisa 10 foi sentida, mas o tricolor precisava seguir, afinal, ainda tinha muita coisa para conquistar. Ainda em 1993, o clube levantou a taça da Recopa Sul-Americana e Supercopa Libertadores. Nessa mesma temporada, o Tricolor foi recordista no número de partidas disputadas ao longo do ano. Foram inacreditáveis 97 jogos.

Nunca favorito, mas sempre vencedor

O São Paulo chegou para o disputar o seu segundo Mundial seguido, mas de novo sem favoritismo. O adversário dessa vez foi o Milan, que foi o vice-campeão europeu, mas ficou com a vaga após a punição do Olympique de Marsalha. Os milanistas, assim como o Barcelona do ano anterior, contavam com um plantel invejável, com Maldini, Costacurta, Massaro e Albertini. Eles eram a base da seleção italiana que seria vice campeã sete meses depois. A partida começou com Palhinha abrindo o marcador a favor dos paulistas. Na volta para o segundo tempo, Massaro deixou tudo igual no estádio Nacional de Tóquio. Na sequência, Cerezo desempatou, mas Papin deixou tudo igual de novo. Novo empate deixou Tricolor apreensivo. Segundo Andre Luiz, em entrevista à rádio Energia 97, os jogadores queriam resolver o título no tempo normal, pois o excesso de jogos poderia atrapalhar a equipe em uma eventual prorrogação. Mas aos 42 do segundo tempo,  Muller, um dos maiores ídolos do São Paulo, fechou o placar com gol sem querer de calcanhar.



  Melhores momentos de São Paulo 3 x 2 Milan. Canal: Gefot 100. Imagens: FIFA/TV BAND

A equipe de Telê encerrou a temporada com a quádrupla coroa, pois venceu a Libertadores, Recopa, Supercopa Libertadores e Mundial. O ano de 1993 não marcou o fim da Era Telê, mas representou o fechamento de um ciclo vitorioso, quando o tricolor fez o mundo mais uma vez aplaudir de pé o futebol brasileiro. Quando o São Paulo conseguiu repetir o feito do Santos de Pelé em 1962 e 1963.

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