Lab Dicas Jornalismo Publicidade 728x90
03/07/2020 às 04h14min - Atualizada em 03/07/2020 às 08h11min

Boicote global ao Facebook cresce e empresas brasileiras são pressionadas

Grandes marcas já aderiram ao movimento Stop Hate for Profit, que pressiona o Facebook para controlar conteúdos odiosos e ofensivos na rede

Kinderlly Brandão - Editado por Manoel Paulo
Folha de São Paulo, O Globo, Estadão
Pixabay

A lista de empresas que retiraram seus anúncios do Facebook e do Instagram cresce a cada dia. Gigantes como Coca-Cola, Adidas, Microsoft, Ford, Unilever, PepsiCo, Starbucks e Diageo aderiram ao movimento Stop Hate for Profit (pare o ódio pelo lucro, em tradução livre), que conta até o momento com mais de 650 marcas. Algumas multinacionais já aderiram ao movimento no Brasil, e outras empresas nacionais estão sendo pressionadas.
 

Os anúncios constituem 98% da receita do Facebook. No entanto, o impacto financeiro gerado pelo boicote ainda é pequeno, pois as 100 maiores empresas só geram cerca de 6% do lucro anual do Facebook com propaganda. Os maiores responsáveis pela renda do Facebook são os pequenos e médios anunciantes americanos. O maior impacto para a empresa de Mark Zuckerberg é o debate sobre a rede ser uma disseminadora de ódio e polarização, além da proporção global tomada pelo movimento Stop Hate for Profit.
 

Como surgiu o movimento
 

O movimento surgiu em junho, nos Estados Unidos, quando o Facebook se recusou a enfrentar mentiras e ameaças à democracia publicadas pelo presidente americano Donald Trump. A iniciativa é de grupos de ativistas e associações americanas dos direitos humanos.
 

A ação tem o objetivo de convencer grandes anunciantes a pararem com a publicidade no Facebook, para pressionar a rede social a tomar iniciativas de combate ao racismo, discurso de ódio e desinformação. Com isso, as ações do Facebook vêm diminuindo continuamente desde o início do movimento.
 

Empresas que aderiram ao movimento
 

Outras empresas que se comprometeram a parar temporariamente com a publicidade na plataforma estão a Danone, Hershey, Honda, HP, Levi’s, Pfizer, The Body Shop, Verizon, Volkswagen, Clorox, The North Face, Colgate-Palmolive, Mozilla, Vans, LEGO, Heineken, Puma, entre outras. Vale lembrar que muitas dessas companhias detém inúmeras outras marcas.
 

Além disso, algumas multinacionais aderiram ao boicote global, e não somente nos EUA. É o caso da Coca-Cola, Volkswagen, PepsiCo, Kellogg Company, Adidas, Mars e outras.
 

Algumas empresas foram mais longe: a Ford, Mars, Unilever e Kellog também irão parar com a publicidade no Twitter. A Coca-Cola deixará de anunciar no Twitter e YouTube. Já a Diageo, Starbucks e a LEGO irão parar com os anúncios em todas as redes sociais. Como é somente uma parada temporária nas propagandas, cada empresa definiu por quanto tempo irá se comprometer com a causa.
 

Empresas brasileiras
 

Além das multinacionais que estenderam o boicote ao Facebook ao Brasil, algumas empresas nacionais estão sendo pressionadas a fazer o mesmo. Isso acontece através do Sleeping Giants Brasil, um perfil ativista brasileiro do grupo americano de mesmo nome, que busca retirar o financiamento em publicidade de sites com notícias falsas e que propagam discurso de ódio. 
 

O perfil conta com 375 mil seguidores no Twitter e apoio recorrente dos internautas para pressionar as empresas. Riachuelo, C&A, Itaú, Casas Bahia, Arezzo, Dafiti, Renner, Vivo, Santander, Vivara e outras marcas nacionais já foram mencionadas no perfil. 
 

Segundo a Folha de São Paulo, a C&A disse estar avaliando a melhor medida a ser adotada. Já o Itaú afirmou em nota que “Reforçamos nossos controles de exposição de marca e seguimos acompanhando de perto este movimento”. 
 

Por fim, a Natura, que considera participar da campanha, afirmou à Folha que "mantém compromisso irrestrito com a ética, a diversidade e os direitos humanos. Por isso, está acompanhando com atenção os movimentos que cobram controles efetivos contra a propagação de mensagens de ódio e intolerância, além de fake news, em plataformas como o Facebook e demais redes sociais que operam no Brasil".
 

O que diz o Facebook
 

O Facebook anunciou novas ações e mudou as regras de post políticos. Agora, a plataforma começará a marcar postagens com discurso político que violem suas regras e tomará outras medidas para evitar a repressão a eleitores e proteger minorias contra abusos. 
 

Entretanto, essas mudanças não são suficientes para as marcas que apoiam o Stop Hate for Profit. Sendo assim, a lista de apoiadores continua crescendo e o movimento segue em plena ascensão pelo mundo.
 

Na última quarta-feira (1), o vice-presidente de assuntos globais e comunicações da companhia, Nick Clegg, afirmou através de um artigo que eliminar completamente discursos de ódio no Facebook é como “encontrar uma agulha em um palheiro” devido ao volume e velocidade de conteúdos postados.
 

Além disso, o executivo disse que a empresa já investe muito na área e desenvolve ferramentas de inteligência artificial para localizar e conter conteúdos tóxicos. No artigo, Nick ressalta que nunca poderão evitar completamente que o ódio apareça no Facebook, mas estão melhorando nessa questão. 
 

Segundo o O Globo, o diretor executivo do Facebook, Mark Zuckerberg, irá se encontrar na semana que vem com representantes do movimento, mas dá sinais de que não vai ceder às pressões dos anunciantes. 
 

“Não vamos mudar nossas políticas ou enfoques em nenhum terreno devido a uma ameaça sobre um pequeno percentual de nossas receitas ou sobre qualquer porcentagem das nossas receitas”, disse Zuckerberg, de acordo com a agência AFP.
 

Próximos passos 
 

O Facebook é a segunda maior plataforma de anúncios do mundo, ficando somente atrás do Google. A rede é criticada há anos devido às poucas ou quase nenhuma medida de combate ou controle de conteúdos tóxicos. 
 

De acordo com o Stop Hate for Profit, algumas medidas que a empresa poderia tomar imediatamente são: prestação de contas e transparência, mudanças em suas políticas para conter a radicalização e o ódio, mecanismos para sinalizar conteúdos tóxicos, apoio a usuários que sofrem assédio e ódio na plataforma, remoção de grupos de supremacistas brancos, milícia, anti-semitismo, conspirações violentas, negação do Holocausto, desinformação sobre vacinas e negação climática. 
 

Essas são apenas algumas das recomendações sugeridas pelo movimento, que acredita que o Facebook possui recursos suficientes para trabalhar duro e se transformar. Além disso, o próximo passo da campanha agora é pressionar e conseguir a adesão de grandes marcas europeias.

 

Link
Notícias Relacionadas »
Comentários »