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11/07/2020 às 10h20min - Atualizada em 11/07/2020 às 09h36min

Transporte público da grande BH apresenta irregularidades durante a pandemia, segundo passageiros

Diminuição da frota de coletivos da Região Metropolitana de Belo Horizonte pode colocar em risco saúde e a segurança dos usuários

Luana Lima - Editado por Alan Magno
Mario Chrispim/DER-MG
As linhas de ônibus da região metropolitana da capital mineira estão circulando com itinerário reduzido, desde março deste ano, quando foi decretada a pandemia de Covid-19 no Brasil. Passageiros têm passado por problemas como superlotação dos coletivos e aumento do tempo de espera nos pontos e estações. Fatores associados à elevação do risco de transmissão do coronavírus

Antes da pandemia, havia uma circulação de 19 milhões de passageiros por mês. Atualmente, esse número caiu para sete milhões; 130 linhas estão desativadas. Segundo a Secretaria de Estado de Infraestrutura e Mobilidade (Seinfra), 672 linhas fazem parte do Sistema de Transporte Metropolitano, com uma frota de 2.700 veículos.

Problema antigo

A região metropolitana de BH tem 34 municípios interligados entre si e com a capital por meio do transporte metropolitano e intermunicipal, responsável pela gerencia destas linhas, o Departamento de Edificações e Estradas de Rodagem de Minas Gerais (DER-MG) pontua que a circulação de passageiros está menor por conta das medidas de isolamento, o que justificaria a diminuição da frota. Mesmo com a diminuição no número de passageiros, os que ainda dependem do transporte público metropolitano relatam problemas. É o caso da arquiteta Danielle Faria, que mora em Contagem, mas trabalha de segunda a sexta-feira em Belo Horizonte.

No fim do mês de março, ela estava trabalhando normalmente e notou uma queda, de fato, no número de passageiros. Já nos meses de abril e maio ela fez trabalho remoto. Em junho, quando retornou às atividades presenciais, teve uma surpresa: “Agora, mesmo com novo decreto de paralisação das atividades em Belo Horizonte, o transporte está cheio, de ficar gente em pé dentro do ônibus.”

Segundo a deliberação número 17 do Comitê Extraordinário COVID-19 de Minas Gerais, o serviço de transporte coletivo intermunicipal não poderia exceder à capacidade de passageiros sentados durante as viagens. Em abril, houve alteração na deliberação, e a capacidade ideal passou a ser a metade de passageiros sentados ou em pé, no caso do metrô.

No entanto, outros usuários também relatam o não cumprimento da norma, principalmente nos horários de pico. “Desde o início da pandemia eu pego ônibus e metrô, e isso nunca aconteceu [transporte com a capacidade correta], mas agora está pior”, é o que diz Joana Moreno, gerente de uma lanchonete no bairro Eldorado, em Contagem. Ela mora na regional Barreiro da capital e depende dos ônibus todos os dias, uma vez que também trabalha aos finais de semana.

Aumento no tempo de espera

Quem utiliza o transporte coletivo fora dos horários de maior circulação conta com ainda menos linhas disponíveis. É o caso de Larissa Reis, estudante de jornalismo, ela mora em Ribeirão das Neves e faz estágio em Belo Horizonte. "No período da tarde, meus ônibus passam de uma em uma hora. Se a gente perder, só pega uma hora depois. (...) À noite eu saio às 20h, quando eu chego no ponto, muitas vezes, naquela região da rodoviária [no centro de Belo Horizonte] só tem eu, dá muito medo. (...) E o ônibus só vai passar daqui a 40 minutos", relatou a estudante

Ailton de Souza trabalha em fábrica de gêneros alimentícios em Contagem. Por ter hipertensão, condição considerada de risco para a Covid-19, ele ficou afastado das atividades por 3 meses. Quando voltou, percebeu que uma das linhas que ele costumava pegar para voltar para casa às 23h não passa mais. 
Por isso, agora, ele utiliza outra, cujo ponto é distante de sua residência, tendo que andar cerca de 20 a 30 minutos para chegar, o que aumenta o risco de assaltos. Além disso, Ailton ainda lida com o medo de contrair a doença, uma vez que tem notado que a higienização nos veículos não está sendo feita como consta nas medidas de proteção adotadas contra o novo coronavírus.

Dados do Informe Epidemiológico Coronavírus do Governo de Minas Gerais do dia 16 de julho de 2020 mostram que dos óbitos com comorbidade, ou seja, em associação da Covid-19 com outras condições, 565 foram de pessoas que apresentavam hipertensão. A segunda maior, ficando atrás apenas de doenças cardiovasculares, que acarretaram 661 mortes.

Conscientização da população ajuda a diminuir os riscos

O uso de máscaras no transporte público metropolitano é obrigatório, mas a medida nem sempre é respeitada. A enfermeira Luciana Cristina Marques, que mora em Belo Horizonte e trabalha em Betim diz que não há respeito a essa norma, muitas vezes, “passageiros embarcam sem máscara, ou tiram a mesma após se sentar e não há uso de álcool por todos. Mesmo porque nem todos têm esse insumo", conforme relatou.

Por trabalhar na área da saúde, ela diz tomar alguns cuidados a mais: abre as janelas próximas, utiliza álcool para assepsia das mãos após se sentar e depois de sair dos ônibus, evita conversar durante as viagens e usa a máscara conforme o recomendado.

A técnica de enfermagem Isabel Alves também trabalha em unidade de saúde em Betim e é residente em Mateus Leme. Ela diz que se sente exposta ao utilizar o transporte público, “pois na maioria das vezes os ônibus estão lotados e nem tem lugar para sentar, juntando a isso tem as pessoas que usam incorretamente as máscaras", revelou.

Apesar de não ser utilizada por todos, a máscara é fundamental para prevenção contra a Covid-19, como ressalta a professora da Faculdade de Medicina da UFMG e pesquisadora do Observatório de Saúde Urbana de Belo Horizonte, Aline Dayrell.

Para aqueles que precisam utilizar o transporte, a médica dá mais algumas orientações que podem ajudar na prevenção: caso esteja doente ou tenha tido contato com uma pessoa com sintomas, mesmo que brandos, deve-se evitar ao máximo circular. Tomar banho e trocar de roupa assim que chegar em casa também é indicado.

Ela analisa ainda que há dificuldade para realizar as projeções em relação ao controle da pandemia, pois o número de testagem nos munícipios mineiros é baixo. Por isso, antes de flexibilizar a quarentena, é preciso fazer uma conscientização da população, pois com retorno das atividades haverá, consequentemente, maior circulação do vírus e risco de infecção, principalmente em áreas de aglomeração, como o transporte público. Ela explica que não é apenas o número de passageiros que deve ser levado em consideração. 

Pela necessidade de se manter o distanciamento social, a redução do número de pessoas utilizando o transporte não deveria gerar obrigatoriamente uma redução na frota, já que as pessoas precisam manter a distância mínima de 1,5 m a 2 m entre si, mesmo no onibus. "No ponto de vista da saúde pública, é preciso garantir um número adequado de ônibus para que as pessoas não circulem com superlotação e haja poucos passageiros nas estações", explica Aline. 

Por meio de nota, a Seinfra informou que “o DER-MG realiza diariamente fiscalização, em conjunto com os órgãos de Segurança Pública, das linhas metropolitanas, no que tange ao disposto no Art. 7º da Deliberação do Comitê Extraordinário Covid-19 nº 34. (...) Desde o início da pandemia para auxiliar no combate à propagação da Covid-19, a equipe de Fiscalização do DER-MG fiscalizou 15.347 veículos de linhas metropolitanas e aplicou 3.606 autos de infrações por descumprimento de horários e excesso de passageiros nos veículos.”

Reclamações por problemas com os serviços no transporte metropolitano podem ser feitas no Atendimento ao Usuário do DER-MG, pelos seguintes canais de comunicação: telefone 155 - opção 6, para ligações de aparelho fixo, e (31) 3069-6601, para ligações de aparelhos fixos e celulares, e pelo e-mail [email protected].
 
 
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