Lab Dicas Jornalismo Publicidade 728x90
17/07/2020 às 21h35min - Atualizada em 18/07/2020 às 08h20min

“Amigo – NÃO – estou aqui”: a ruptura de sua essência em Toy Story 4

Quarta parte da saga do Woody e cia é bom enquanto filme em si, mas, como parte de um todo, rompe com argumentos consolidados

Ricardo Accioly - Editado por Fernanda Simplicio
Fonte: Pixar Animation / Reprodução: Portal R7 Entretenimento
Completando 25 anos e produzida pela Pixar Animation, a franquia Toy Story é uma das mais bem sucedidas animações da história do cinema, seja pela inovação tecnológica a cada filme, seja pela construção de mundo acompanhada por gerações de fãs.
Após três longas de altíssimo nível, a saga chegou ao seu quarto episódio em 2019, mas, apesar da boa recepção de crítica e público, algumas motivações e ações dos personagens demonstram uma ruptura com as películas anteriores, tornando-o simples epílogo de uma história que já teve seu fim dez anos atrás.

Após a despedida ao Andy no terceiro filme, na nova narrativa, Woody apresenta o Garfinho, um brinquedo feito do lixo pela sua nova dona Bonnie. Acontece que o boneco não está feliz com sua nova realidade e foge de casa, é nesse ponto que a história se desenvolve com o caubói em busca de levá-lo de volta à menina.
No entanto, após consagrar em três filmes a figura do Woody como alguém que estará sempre ao seu lado e que nunca desiste de seu dono, como visto no tocante final do terceiro filme, a obra o traz questionando sua lealdade a uma criança por mero egoísmo e vaidade, pois já não é mais o brinquedo favorito da Bonnie, que se identifica melhor com a boneca Jessie, e por ser pouco utilizado nas brincadeiras.


 
A essência de Toy Story é que o objetivo de vida de um brinquedo é servir ao seu dono e o Woody não o faz mais, não por não ser mais amado ou ter sido abandonado, como alguns que são apresentados durante os filmes, como a Betty, por exemplo, mas sim, por não ser o mais amado, quebrando com a carga de valores que acompanha o personagem desde o primeiro filme.
Além disso, o argumento de encontrar seu lugar no mundo, que motiva o desfecho da obra, faria sentido se não houvesse tido outras oportunidades na franquia para que, não somente outros brinquedos, mas também o próprio xerife tomasse a decisão final.

A saber, no segundo longa, apesar das suas origens e de uma resistência inicial, ele aceita o destino de ser um brinquedo de uma criança. Já na obra original, de 1995, aprende a dividir a cena com a novidade espacial.
Sem contar os vários brinquedos que não eram favoritos do Andy, e nem da Bonnie, e que não tiveram o mesmo comportamento diante do pouco uso. À exemplo do pinguim Izzy, que com poeira, pensou que iria ser abandonado, mas nunca em abandonar sua criança.
Como resposta da Pixar às acusações de assédio contra o fundador John Lasseter, idealizador da franquia, na jornada, Woody reencontra com a Betty, mas ela está mudada, com nova personalidade desde as roupas ao comportamento, e, após ser abandonada duas vezes, tem como objetivo de vida ajudar outros brinquedos a encontrar novos donos.


 
Apesar do argumento coerente para o arco da personagem, suas ações soam artificiais ao diminuir o protagonismo do Woody em busca de garantir poder decisivo aos atos da personagem. Além disso, pela franquia não desenvolver o apelo dramático durante os filmes anteriores, a solução final acaba igualmente artificial na busca de superar o desfecho marcante da terceira parte.
Quanto aos demais personagens, são relegados a mero elenco de apoio e em nada contribuem para o andamento da narrativa. Um desserviço a franquia que tanto prezou pela união dos brinquedos, que mesmo com menor relevância, contribuíam para o desenrolar da história.
Sendo sintomática a presença do Buzz, que de protagonista se tornou um coadjuvante de luxo ao recair apenas como alívio cômico de uma única piada.
Já em relação às novas aquisições, as únicas relevantes são o boneco Duke Caboom e a boneca Gabby Gabby, que possuem background e arcos trabalhados na fita. Enquanto que, especialmente, o coelhinho e o patinho são meros atrativos comerciais e em nada, literalmente, nada somam às ações.


 
Com personagens subaproveitados e outros que não alteram a narrativa, Toy Story 4 existe para o Woody, mas seu arco soa como uma quebra de valores defendidos por ele e pela franquia durante 25 anos. Ironias à parte, o novo objetivo do personagem é dar aos outros aquilo que não quis mais por egoísmo, inveja e vaidade.  
Dessa forma, com a divisão em dois grupos, a saga sai do quarto filme menor do que entrou com a ruptura da união entre os brinquedos, mas abrindo o leque para novas aventuras em filmes/séries no cinema e no streaming Disney+, nova plataforma da empresa, que certamente será aproveitada até mesmo pela razão de existir do longa: a nova expansão no parque temático.
 
REFERÊNCIAS:
Toy Story 4 – 2019. Disponível no link <http://www.adorocinema.com/filmes/filme-218956/>. Acesso em: 16 de jul. 2020.
Toy Story 4 (2019). Disponível no link <https://www.imdb.com/title/tt1979376/>. Acesso em: 16 de jul. 2020.
Toy Story 4 – Trailer Legendado. Disponível no link <https://www.youtube.com/watch?v=LRmTFULapNo>. Acesso em: 16 de jul. 2020.
MOLINERO, B. “Toy Story 4” não justifica um novo filme da franquia da Pixar. Folha de São Paulo, 18 de jun. 2019. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2019/06/toy-story-4-nao-justifica-um-novo-filme-da-franquia-da-pixar.shtml>. Acesso em: 16 de jul. 2020;
OLIVEIRA, M. Crítica | Toy Story 4. O VÍCIO, 23 de jun. 2019. Disponível em: <https://ovicio.com.br/critica-toy-story-4/>. Acesso em: 16 de jul. 2020;
 






 
Link
Notícias Relacionadas »
Comentários »