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20/09/2020 às 01h06min - Atualizada em 20/09/2020 às 01h03min

Beyoncé traz referências da negritude através de penteados trançados em 'Black Is King'

Penteados da cantora são considerados fortes símbolos de resistência da cultura preta

Janaina Dourado - Editado por Larissa Barros
Divulgação

*Esta matéria foi feita em dedicação a todas as meninas e mulheres negras que sofrem opressões voltadas para seu cabelo natural ao longo da vida.
 
Toda menina do cabelo crespo ao cacheado já questionou o motivo de ter nascido com o cabelo liso, assim como as mulheres que são representadas diariamente em diversas mídias de entretenimento. Atualmente, apesar desse tipo de opressão ter se tornando mais leve, com um crescimento da representatividade na sociedade, ainda é possível notar a presença de um racismo em relação à estética negra.
 
Termos preconceituosos vistos como “brincadeiras” insistem em ver o negro como caricato. Sendo assim, processos dolorosos de alisamento dos fios são aplicados cada vez mais cedo em mulheres que buscam uma beleza padrão. No Brasil, diversos artistas vem aceitando e esbanjando seus cabelos naturais, influenciando os fans. Como por exemplo, a atriz Taís Araújo. 
 
No entanto, essa luta ganha outro ponto de vista quando uma artista internacional assume a briga contra um sistema opressivo. Desde o álbum sonoro e visual ‘Lemonade’, lançado em 2016, a diva pop Beyoncé vem se tornando um símbolo de representatividade por meio das suas obras, e de luta contra o racismo. A cantora tem mostrado então toda sua força e garra como mulher preta, em uma indústria ainda considerada extremamente machista e preconceituosa. 
 
Em 2019, a personagem Nala do live action ‘O Rei Leão’ foi dublada pela cantora. O filme é conhecido por se passar no continente africano, e trás fortes lições sobre a vida ao contar a história de uma alcateia de leões. 
 
O lançarem o longa, Beyoncé foi decidiu anunciar o lançamento do álbum ‘The Gift’, como produtora e compositora, contando em cada faixa um pedaço da história de Simba, e servindo de apoio à trilha sonora do filme. Ainda inspirada pela produção de O Rei Leão, a cantora anunciou um novo projeto ligado ao filme e ao seu álbum, em julho de 2020, intitulado ‘Black is King’. 
 
Em cada trilha a diva do pop aparece com roupas icônicas, cabelos impecáveis e apresenta coreografias fortes, em um filme cheio de surpresas e repleto de representatividade, tanto nos atores e dançarinos escolhidos, quanto na produção composta por africanos e afro-americanos.
 
A maioria dos penteados usados por Beyoncé durante o filme ‘Black is King’ são considerados grandes símbolos de resistência da cultura preta, como por exemplo os trançados. De acordo com a colunista Juliana Henrik, do site Las Pretas, o estilo da trança se atribui principalmente a religião, tribo e idade, entre outras características. Além disso, elas não se tratavam apenas da identidade transpassada nos desenhos, mas também na transmissão dos valores culturais e do estreitamento de laços entre as gerações. 
 
Durante o período de escravidão a  trança se tornou um símbolo de resistência por reforçar suas raízes, representar um mapa que auxiliava na fuga dos quilombos e por várias vezes servir como esconderijo de grãos para alimentação, segundo a colunista. Por isso, a questão da apropriação cultural é questionada quando pessoas brancas, que não sabem ou não entendem o peso e a importância desse penteado utilizam a técnica apenas por estética. Ao mesmo tempo em que mulheres pretas são reféns de um estereótipo relacionado à higiene e beleza dos trançados.
 
Inspirado nisso, o hair stylist Neal Farinah, que já havia atuado em diversos outros trabalhos com Beyoncé foi responsável pelos cabelos utilizados por ela em ‘Black is King’. Ele auxiliou a cantora na transação em ‘Lemonade’ na representação de cabelos naturais. Em seu perfil do Instagram, Farinah compartilhou alguns penteados recriados por ele. 

Horned Head


O penteado foi inspirado nas Tribos Dinka e Mursi. Dinka é considerada uma das tribos mais ricas e extensas da África. De acordo com a Revista Raça, ela se baseia na criação de gado e utilizam de seus chifres para produzir alguns itens estéticos. O que também está presente na cultura Mursi, onde utilizam de chifres e adereços para se enfeitar para eventos importantes.
 
Beri Beri

Folake Onisola, conhecida popularmente como Orisha Bunmi inspirou o penteado Beri Beri. Ele era utilizado por mulheres nigerianas, entre 1968 e 1985, para ocasiões especiais, de acordo com a própria legenda de Farinah.
 
Braid Crown Mangbetu

Em tradução livre o termo significa coroa trançada e vem da tribo Mangbetu, da República Democrática do Congo, conhecida por sua realeza e arte. O penteado acentua o alongamento do crânio ‒ prática presente na cultura ‒ e representava também o status da classe dominante.
 
Nubian Knots e Ankh

Os ‘Kubian Knots’ são de origem Zulu, das tribos que falam o idioma Bantu, na África do Sul. Os nós ou topetes eram utilizados por mulheres casadas e homens idosos para representar o estado civil. No meio do nó, está representado também o Ankh ‒ ou chave da vida ‒, símbolo egípcio que significa “vida”, conhecido como cruz ansata.
 
Versatility

Este cabelo não foi inspirado por outro, e de acordo com Neal, a intenção deste penteado é reconhecer e celebrar a versatilidade do cabelo preto, além de homenagear nosso passado e glorificar o aqui e o agora. Nesta obra, Beyoncé garantiu que em cada cena existisse uma referência, uma homenagem a diversas culturas pretas existentes. 

 

 


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