Ações da Petrobras despencam na bolsa de valores aṕos anúncio do presidente, Jair Bolsonaro, sobre a substituição do comando da Petrobras. A empresa perdeu 102,4 bilhões em valor de mercado e investidores recuaram com medo de interferências do governo na precificação dos combustíveis.
Em uma live nas redes sociais no dia 19, o presidente da república criticou a gestão de preços na petroleira e afirmou que iria zerar os impostos federais sobre o gás de cozinha, de forma definitiva, como também do diesel por dois meses a partir de março. Ainda através de vídeo, Bolsonaro manifestou que haveria modificaçẽos na empresa, o que aconteceu no dia seguinte com o pronunciamento de um novo nome a membro do Conselho de Administração e presidência, o general Joaquim Silva e Luna.
A notícia foi publicada primeiro em uma das redes sociais do presidente e em seguida no site do Governo Federal na aba do Ministério de Minas e Energia que apresenta a indicação de substituição do general pelo atual presidente da estatal.
“ O Governo decidiu indicar o Senhor JOAQUIM SILVA E LUNA para cumprir uma nova Missão, como Conselheiro de Administração e Presidente da Petrobras, após o encerramento do Ciclo, superior a dois anos, do atual Presidente, Senhor ROBERTO CASTELLO BRANCO.”, diz a nota.
A indicação ainda precisa ser aceito pelo conselho da companhia em Assembléia Geral Extraordinária (AGE). Uma reunião ocorreu no dia 23 em que foi decidido por maioria a autorização para a realizar a AGE na qual, Castello Branco, será destituído do cargo de membro e presidente, juntamente com outros sete membros do Conselho. Além disso, o indicado será avaliado pelo Comitê de Pessoas. O comunicado oficial foi publicado no site da empresa.
A atual gestão permanece em exercício até o dia 20 de março de 2021.
Bolsa de Valores
Como resultado da mudança, as ações da Petrobras na bolsa de valores abriram queda ainda no dia do anúncio. A empresa perdeu 28,2 bilhões em valor de mercado e permaneceu em declínio na segunda-feira (22), chegando a perder 74,2 bilhões de desvalorização, totalizando a perda de mais de 100 bilhões em dois dias.
Ainda no dia 22 o Ibovespa (IBOV) caiu 4,8% a 112.667 pontos. Somente as ações da Petrobras baixaram 20, 48%, a R $21,55 na PETR3, e 21,51%, a R $21,45 na PETR4, ações ordinárias (com direito a voto) e ações preferenciais (mais negociadas) respectivamente. A estatal tem peso de 10,27% no IBOV, principal índice do mercado de ações no Brasil.
A bolsa de valores funciona como um mercado de negociações em que é possível comprar e vender ações rapidamente. Quando as ações sobem significa que ela está sendo procurada, ou seja, é maior a demanda. O mesmo acontece com a queda, quando o produto de investimento é desvalorizado.
Os valores são calculados a partir de quanto alguém acha que vale aquela empresa tomando como base expectativas de boas notícias chegarem e gerar mais dinheiro. Porém é importante ressaltar que há riscos no processo e fatores externos podem diminuir o valor acarretando em perdas.
A exemplo da Petrobras, os investidores temem uma intervenção no processo de precificação dos combustíveis e ajustes que hoje é estabelecido em comparação com o mercado internacional. Como resultado, investidores de curto prazo apostaram na retirada das ações como o melhor a fazer, o que gerou um efeito em cadeia uma vez que um segue o caminho do outro com medo de um prejuízo maior.
Especialista aponta que a intervenção pode ter como resultado o não aproveitamento de arrecadação em situação de valores não transferidos.
“Você faz uma intervenção desse tipo, não repassar esses preços a empresa tem uma perda. E esse sentido de perda que as vezes as pessoas não entendem direito, é que você deixar de ganhar é uma perda, em termos financeiros se você teve uma oportunidade de ganhar e não ganha isso é uma perda”, afirma Eduardo Silva, pesquisador nas áreas de Microestrutura de Mercado e Finanças Comportamentais pela Universidade Federal Fluminense (UFF).
Já o doutor em Economia da Indústria e da Tecnologia pela UFRJ, Luciano Losekann, acredita não ter possíveis mudanças nas atuais formas de ajustes de preços.
"Nos últimos tempos a Petrobras implantou um conjunto de governanças que implicam em uma transparência, em uma continuidade de estratégia da empresa. Mesmo com a mudança do presidente, a empresa não tem essa margem de liberdade de modificar a forma de precificação e os investidores teriam sido lesados porque eles compraram a ação pensando numa estratégia de paridade de mercado internacional.”, pontua.
Quanto à durabilidade das oscilações na bolsa de valores, Silva aponta que momentos de agitações são difíceis de mensurar e que os novos comportamentos da empresa determinarão o andamento das ações. “É um momento de turbulência, quanto tempo isso vai levar vai depender muito das primeiras ações que vão ser tomadas pelo novo presidente. Se o mercado entender que isso vai prejudicar fortemente a Petrobras no médio-longo prazo vai gerar mais quedas.”
Aqueles que visam investir na companhia, aqui vai o conselho dos especialistas: “Não tem como dizer se este é o momento ideal para comprar, os momentos de turbulência são os mais difíceis.”, afirma Eduardo Silva.
“O mercado funciona em função de especulação e assim esses movimentos mais de curto prazo são difíceis da gente antecipar, na minha opinião eu acho que para o futuro a tendência é de valorização.”, conclui Losekann.
Referências:
https://g1.globo.com/economia/noticia/2021/02/22/bovespa.ghtml