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23/03/2021 às 22h09min - Atualizada em 23/03/2021 às 22h08min

Para ex-presidente do BC, carta de economistas foi escrita em um momento necessário

O economista Gustavo Franco avalia o manifesto com propostas muito importantes: vacinação, uso de máscara e coordenação.

Lucas Rodrigues - Editado por Maria Paula Ramos


O economista e ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco disse que o manifesto divulgado e assinado por mais de mil economistas no último domingo (21) foi feito em um momento necessário. Em entrevista ao programa “Roda Viva”, da TV Cultura, na noite desta segunda-feira (22), Franco avaliou o manifesto com propostas muito simples e importantes: vacinação, uso de máscara e coordenação.

“Essas coisas estão na carta escritas de uma forma muito simples. É difícil não gostar dela. Isso vem em um momento muito bom, que nós estamos precisando de sensatez, de conciliação, de caminhos, que não são mágicos, mas efetivos e vão abrir as possibilidades de solução no decorrer do tempo com a conversa das pessoas”, afirmou.

No manifesto, os economistas defenderam o uso de medidas de isolamento mais radicais, como o lockdown. Para Franco, essa medida, se ocorrer, deve levar em conta que muitos brasileiros precisam sair de seus lares para trabalhar, mesmo em situações que exijam medidas de distanciamento social mais duras.

“Tem pelo menos dois tipos de trabalhadores que não podem parar em um lockdown. Existe um aprofundamento na divisão do trabalho no mundo moderno de tal jeito que não podemos simplesmente ficar em casa porque não temos uma horta para tirar o alimento. Você precisa ir ao supermercado ou ele precisa vim a você, alguém precisa trazer, tem toda uma cadeia de produção que se presume que ela não pare. Portanto, tem um pedaço da economia que não pode parar, inclusive para as pessoas poderem ficarem em casa”, disse.

“Outro grupo são as pessoas que não podem parar de trabalhar porque senão elas não têm como trazer comida para casa. Então, qualquer medida de lockdown, qualquer que seja a gradação, tem que levar isso em conta. Não é que tenha uma oposição entre o lockdown extremo e a liberdade total, é preciso encontrar um meio caminho que atenda a continuidade da atividade econômica para que as pessoas possam se alimentar e também as pessoas que não podem parar de trabalhar. Esses interesses não podem deixar de serem acomodados”, ponderou.

Indagado sobre a expectativa que os economistas que assinaram o manifesto tinham, ele afirmou que o objetivo do manifesto era trazer novas opiniões para o debate público que ocorre em Brasília. Ele também disse que, embora não concorde com a parcela da sociedade que apoie a maneira na qual Bolsonaro conduz a pandemia, é necessário trazer essas pessoas para o debate.

“A expectativa quanto ao manifesto era modesta. Um manifesto não aspira nada mais que do que ser parte do grande debate que acontecem nas instituições. Os grandes líderes dos poderes estão conversando entre si, o legislativo, o executivo e o judiciário. O manifesto é mais uma informação para orientar esse debate, que deve ser conduzido através das instituições”, disse.

“Por mais que o presidente insulte muitas pessoas em suas manifestações, ele tem trinta por cento de aprovação. Ainda que apenas vinte e dois por cento dos trinta aprovam a condução do presidente na pandemia, vinte dois é muita gente, o que é mais alarmante ainda. Isso não será simples, mas qualquer solução daqui para frente tem que trazer para dentro da solução essas pessoas que estão achando que o presidente está agindo bem”, afirmou.
 
Paulo Guedes

Franco disse que a relação entre o ministro da economia Paulo Guedes com o presidente Bolsonaro deverá ser alvo no futuro de “tratados de psicologia, sociologia e ciências exóticas” e ainda comparou o ministro com Hjalmar Schacht, ministro da fazenda de Adolf Hitler, por ter mudado o seu comportamento liberal durante o governo. O economista, no entanto, afirmou ser necessário a permanência de Guedes para evitar que bolsonaristas assumam o ministério.

“O que era um casamento arranjado virou uma coisa mais pesada, um pacto fáustico, onde o Guedes parece ter se tornado um deles, pelo menos até onde for o pacto, ele vai junto. Me evoca muito a experiência da Alemanha, do Schacht, que foi o herói da estabilização da Alemanha de 23, e que depois foi recrutado pelo Hitler para ser o presidente do Banco Central e ministro da Fazenda, e seguiu com ele de 1933 até um pouco dentro da guerra”, declarou.

“Ele acabou preso pelos nazistas, ligado ao atentado que quis matar o Hitler, e quando os Aliados ganharam a guerra não o soltaram, inclusive ele foi julgado em Nuremberg. A posição dele no nazismo me lembra muito o que está acontecendo com o Paulo Guedes. O alemão dizia uma coisa e quando eu olho para o Guedes eu acho que é a mesma. Ele dizia assim: pior seria se eu não estivesse aqui”, disse.

“O Paulo cumpre uma função muito importante, se ele sair quem vai para lá? Quem vai ocupar a cadeira dele? Com tantos poderes, como vai ser? Alguém do Bolsonarismo raiz? Desculpa, vamos deixar o Paulo quieto”, concluiu.
 
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