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08/04/2021 às 15h52min - Atualizada em 08/04/2021 às 15h43min

Redes que viciam: os riscos da dependência digital

Estamos 24 horas conectados às redes sociais, mas há um limite que pode determinar a dependência e o vício

Karina Almeida - Editado por Andrieli Torres
Foto Prateek Katyal em Unsplash

As redes sociais já são parte do cotidiano. Quem nunca quis dar só uma olhadinha no Instagram no meio de uma aula e perdeu totalmente a noção do tempo? É comum pegar o celular para conferir algo super importante e quando você percebe já foi parar nas redes sociais vendo vídeos de gatinhos. Há milhões de informações disponíveis nessa variedade imensa de redes que consomem horas e horas. Mas, para tudo há um limite. Quando o hábito vira vício, a dependência digital começa a aparecer. 

Com a internet ainda engatinhando nesse mundo, em 1995 aparecia a considerada primeira rede social, o ClassMates.com. Apenas nos anos 2000 as plataformas mais usadas atualmente foram aparecendo. O Facebook e o - falecido - Orkut apareceram em 2004 e logo se popularizaram. Dois anos depois, o Twitter entrou no ar e inovou com seus 140 caracteres. E imaginem, o Instagram, grande vício da maioria dos jovens de hoje, tem apenas 10 anos.

É inegável que a conexão instantânea e simultânea com diferentes pessoas só é possível por conta de redes sociais. Contudo, há muitas discussões, pesquisas e produções que discorrem sobre o potencial dessas plataformas com grande preocupação. Um exemplo é o documentário original Netflix, “O Dilema das Redes". Em diálogos com profissionais da área que trabalham dentro de grandes corporações sociais-midiáticas, a produção aborda as diferentes formas de viciar o usuário utilizadas por aplicativos. 

Essa rede complexa baseia-se em nada menos do que na própria pessoa. Isso é feito com estímulos que chamam e detenham a atenção do usuário na infinidade de conteúdos apresentados. Entre os convidados do documentário está o cientista e autor de “Dez Argumentos para Você Deletar Agora suas Redes Sociais”, Jaron Lanier. O livro e o documentário são convites para uma reflexão necessária.  

Este é um século tecnológico e informacional no qual trouxe um dilema para a relação com as redes. Da mesma forma em que aproximam, nos distanciam das verdadeiras relações e geram, por vezes, a dependência tecnológica. Lizandra Soares, psicóloga e mestra em psicologia pela Universidade Federal de Sergipe, explica que “a dependência de internet se caracteriza como um transtorno para controlar os próprios impulsos”. 

Quando nessa condição, o usuário não consegue se desconectar da rede por conta própria. A psicologia utiliza critérios diagnósticos para avaliar a existência de dependência de Internet. Lizandra Soares explica que o indivíduo precisa apresentar, pelo menos, cinco dos oito critérios para se ter uma confirmação. No site Dependencia de Internet é possível acessar os parâmetros listados e ainda fazer um teste para saber mais e identificar o problema. 

Outro exemplo de produções sobre o digital é a série Black Mirror, também da Netflix. São apresentadas realidades nas quais a tecnologia é o ponto central que influencia as histórias. Alguns episódios, como “Nosedive” (Temp. 3, Ep. 1 - 2016) e “Smithereens" (Temp 5, Ep. 2 - 2019),  abordam a relação das pessoas com as redes sociais. No primeiro, o foco é para os status sociais e, no segundo, para o vício nas redes sociais. Exemplos fictícios, mas úteis para reflexões sobre a utilização de tais inovações. 

Segundo uma notícia publicada pela Agência Brasil, o relatório Estado de Serviços Móveis elaborado pela consultoria especializada App Annie revelou que o Brasil ocupa o 5° lugar no uso diário de celulares no mundo. O uso excessivo das redes sociais pode, inclusive, causar problemas a longo prazo como transtornos psicológicos. De acordo com a psicóloga, os mais associados a esse tipo de dependência estão a ansiedade e a fobia social. 

“Acredita-se que quem exagera na utilização do virtual provavelmente não está conseguindo estabelecer relações interpessoais ajustadas na vida real”, comenta. Hoje, crianças e adolescentes são educados com base em uma nova lógica cultural e social, mas existem riscos de se tornarem dependentes digitais. 

Lizandra explica que a adolescência é marcada por diferentes conflitos internos e sobre pertencimento, levando a dificuldades de contato. Desse modo, busca no digital a aceitação que procura. “Quem desenvolve a dependência já apresenta alguma carência. Torna-se indiferente ao convívio social e familiar. Busca no isolamento a solução de suas carências”, completa a psicóloga. 

Os fatos tornaram-se mais preocupantes quando a pandemia de COVID-19 trouxe consigo o isolamento social e as adaptações de vida necessárias. Uma enorme combinação de fatores desencadeou no aumento da utilização das redes. Para Lizandra Soares, tudo virou um prolongamento da vida real. “Esta pandemia nos virtualizou”, ressalta. 

A mestra em psicologia comenta que as redes sociais foram estimulantes nesse processo pois possuem vários e distintos elementos que retêm o foco das pessoas. “Tudo isso despertou em nós, a necessidade de utilizar cada vez mais o virtual”, afirma. A fala dialoga com um estudo realizado pelo hub de inovação BrasilLAB que revelou que, em média, os brasileiros passam agora cerca de nove horas conectados às redes.

No momento atual, a quantidade de informação é maior e, assim, deveríamos evitar as redes, controlar o uso. Porém, continuamos mais conectados do que nunca. Temos fome incessante e inconsciente de conteúdos e sentimos medo de ficar “por fora” das novidades do momento. Essa sensação é chamada de FoMo (“Fear of Missing out” em inglês), o chamado medo de perder. As tecnologias inevitavelmente trouxeram diferentes benefícios para as sociedades, mas, hoje, exercem grande pressão nos indivíduos. 

Lizandra ainda ressalta que ainda não existe um tratamento padronizado para a dependência de internet. Como medidas de prevenção, ela indica que, no cotidiano, é importante estabelecer um horário para a utilização do virtual, sendo no máximo duas horas por dia. Além disso, cita que “proporcionar e estimular o desenvolvimento de habilidades sociais e psicoterapia são medidas profiláticas”. 

Depois da reflexão, é possível a mudança. As tecnologias podem não ser o verdadeiro problema e sim como são utilizadas desenfreadamente. Não é necessário ser radical ao ponto de seguir à risca o título de Jaron Lanier e, literalmente, deletar todas as redes sociais. Ele é convincente, mas é preciso estar atento aos excessos e riscos. Acima de tudo, existe a necessidade pulsante de preservar a saúde mental e física com pequenas mudanças de comportamento digital. 


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