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01/05/2021 às 10h43min - Atualizada em 01/05/2021 às 14h51min

O Castelo Animado: a construção da autoestima no clássico do Studio Ghibli

A personagem Sophie Hatter supera problemas com a aparência ao tornar-se velha por uma maldição

Larissa Gomes - Isabela dos Santos
Justine Kwon
Fonte/Reprodução: Internet
Dirigido por Hayao Miyazaki e lançado pelo Studio Ghibli em 2004, O Castelo Animado (Hauru no Ugoku Shiro / Howl’s Moving Castle) teve enorme êxito nos cinemas mundiais, tornando-se um dos filmes japoneses mais bem-sucedidos da história, de acordo com o portal Studio Ghibli Brasil.


Trailer estadunidense de O Castelo Animado (2004). Reprodução: Youtube.

No ano de 2006, foi indicado ao Oscar de Melhor Filme de Animação, porém perdeu para Wallace & Gromit: A Batalha dos Vegetais (2005), do britânico Nick Park.
 

A trama da animação

A obra é baseada no livro homônimo de Diana Wynne Jones, publicado em 1986, mas, apesar de manter a ambientação e personagens do núcleo principal, o enredo da adaptação se difere do livro em diversos aspectos.

A história começa com Sophie Hatter, uma jovem de pouco mais de 18 anos que trabalha na chapelaria de sua família, enquanto escuta um grupo de clientes comentando sobre o feiticeiro Howl, famoso por “devorar os corações de moças bonitas” nas redondezas. Neste primeiro momento, somos apresentados ao protagonista: o castelo andante.



Reprodução: Flickr.

De aparência grotesca, o castelo possui pés em formato de garras e é movido a magia, transitando de um vilarejo a outro e causando medo nos moradores por conta dos boatos de seu dono.
 
Em um Primeiro de Maio, Sophie decide visitar a irmã Lettie no centro da cidade e é salva por um rapaz misterioso, após ser importunada por soldados. Logo descobrimos que se trata do feiticeiro Howl, dono do monstruoso castelo, quando, mais tarde naquele mesmo dia, uma outra figura conhecida por ser assustadora aparece em cena.


A Bruxa das Terras Abandonadas, com ciúmes de Howl, lança um feitiço na jovem e a transforma em uma senhora de 90 anos, sem que possa falar sobre o assunto para qualquer pessoa. Na precipitada velhice, Sophie abandona a família e a chapelaria e sai em busca de uma resolução para a maldição. Até que passa a morar no castelo com Howl, o demônio Calcifer - que controla todo o castelo e com quem Sophie faz acordo - e o aprendiz de magia,
Markl.


Reprodução: Blogspot.
 

O arco do autoconhecimento de Sophie

Gentil e, por vezes, se colocando em posições de subserviência, Sophie apresenta-se como uma jovem de baixa autoestima desde o início da trama. Enquanto sua mãe usa roupas e chapéus refinados, ela opta pelos mais simples, como se pudesse esconder-se um pouco.


Reprodução: Pinterest.

Na visão da estudante de cinema do Instituto de Arte da Califórnia (Calarts EA), Justine Kwon, a personagem começa a acreditar em suas habilidades e ganhar mais confiança em si mesma após se ajustar ao seu corpo envelhecido. “Sophie simplesmente observa e aceita as mudanças em seu corpo, ao invés de ficar se autodepreciando”.
 
Ela se identifica muito com a desconstrução de Sophie em O Castelo Animado por ter experienciado algo semelhante. “Eu percebi que ser gentil e carinhosa não significa negligenciar suas próprias necessidades e interesses”, conta.

Pode-se acompanhar esse processo de transição e o confronto interno de Sophie com sua própria autoestima no decorrer da animação em algumas cenas. Ela tem mais liberdade para expressar verbalmente o que pensa sem medo mas, quando se depara com determinadas situações, o pensamento já internalizado de que não é bonita vem à tona.


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"Por favor, Howl. Eu sei que eu posso ser útil para você, mesmo que eu não seja bonita, eu sou boa na limpeza"
"Sophie! Sophie! Você é linda!"

Reprodução: Pinterest.

Uma das cenas mais marcantes que exemplificam isso acontece quando Sophie mexe nos produtos de cabelo de Howl, fazendo com que o feiticeiro ganhe um tom alaranjado aos fios e fique extremamente abalado. Sophie tenta confortá-lo, mas ele conta que não consegue viver sem ser belo, ficando ainda mais emotivo.

A personagem, então, emociona-se também. “Pela primeira vez, ela se expressa livremente e confronta o feitiço e a forma como nunca se sentiu bonita”, aponta Justine.



"Legal! Então, você pensa que está na pior? Eu nunca fui bonita em toda a minha vida!"
Reprodução: Tumblr.


Com a aproximação de Howl e Sophie, os dois lentamente se apaixonam um pelo outro. De acordo com Justine, inicialmente, Howl é visto como um personagem mágico e maravilhoso que tem o poder de fazer qualquer um especial. Conforme Sophie passa mais tempo com ele, cada um mostra mais de seu verdadeiro eu.

O feiticeiro admite ser covarde e utilizar de sua magia para não ir à guerra. Esse é outro elemento que permeia toda a narrativa: os bombardeios, a destruição e o caos, uma crítica de Miyazaki à violência.

Não é revelado como Sophie poderia quebrar a maldição, porém no final do filme ela recupera a aparência jovem. O site 
Eu & a Telona analisa que a personagem se liberta do feitiço principalmente por sua relação com seus sentimentos e amadurecimento: “Em muitos momentos ela volta a ser como antes, quando está mais decidida ou quando está apaixonada. ”  

Assim, O Castelo Animado mostra-se uma animação sobre guerra, magia, amadurecemento e amor, não só romântico, mas o amor-própri. Como cita Sophie, "o coração é um fardo pesado". Miyazaki nos presenteia com a trajetória da personagem livrando-se do que pesava seu coração: a insegurança e do medo de ser ela mesma.



Reprodução: Tumblr.

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