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21/05/2021 às 11h41min - Atualizada em 21/05/2021 às 11h36min

Maio Amarelo: é a hora de conversar sobre acidentes de trânsito

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil ocupa a quarta posição entre os países com mais mortes em acidentes de trânsito

Karina Almeida - Editado por Andrieli Torres
Imagem de PublicDomainPictures por Pixabay
Tudo aconteceu em questão de segundos. Em plena madrugada um carro com quatro pessoas é atingido por outro veículo na estrada. O carro capota, atravessa para a outra via e uma moça de 23 anos é arremessada do carro. O outro veículo pisa fundo e não presta assistência. Essa é a história do acidente sofrido por Bianca Matos na noite de sexta-feira, 12 de março de 2021, e é uma entre as diferentes histórias desse grande problema de saúde pública.

Bianca Matos é jornalista e designer, desde 2018 produz conteúdos sobre gastronomia e casamento em seu perfil no Instagram @biadecasa. Na noite de 12 de março de 2021, ela, seus pais e seu marido voltavam de um aniversário realizado na casa do irmão e da cunhada, em Indaiatuba, no interior de São Paulo. Seguiram pela Rodovia Castello Branco (BR-374) e por volta de meia noite e meia aconteceu o que nunca poderiam imaginar.

Seus pais estavam nos bancos da frente, dirigindo. Ela e o marido dormiam nos bancos de trás. Como o segundo veículo envolvido não parou para dar assistência, a perícia trabalhou com a hipótese de que a família foi atingida na traseira do veículo. O carro de Bianca foi atingido e capotou na estrada. A mãe, o pai e o marido tiveram apenas alguns machucados e pequenas fraturas. Mas, com o forte movimento do carro, a produtora de conteúdo acabou sendo arremessada para fora do automóvel.

Bianca conta que não se lembra de nada dos fatos e nem dos dias após o acidente. Tem recordações apenas de domingo, quando começou a associar os episódios. Foram muitos pensamentos e preocupações constantes. Além de diversas escoriações, a jornalista fraturou diferentes partes: a coluna cervical, lombar, bacia e os pés. Por poucos centímetros, os danos corporais não foram permanentes. Meses após o ocorrido, a jornalista continua em tratamento e recuperação, agora já em casa.
 
 

A Campanha Maio Amarelo, lançada oficialmente em 3 de maio, possibilita a discussão, conscientização e reflexão acerca dos acidentes de trânsito. Érika Carvalho Aquino, Doutoranda em Medicina Tropical e Saúde Pública (IPTSP/UFG), defende em seu artigo publicado 2020* que “acidentes de transporte terrestre (ATT) representam, hoje, uma das principais causas de morbidade e mortalidade em todo o mundo, gerando de 20 a 50 milhões de lesões e 1,2 milhões de mortes todos os anos”.

Segundo um estudo de 2019 da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil ocupa a quarta posição entre os países com mais mortes em acidentes de trânsito. “Desde 2015 o Brasil vem experimentando redução na mortalidade por Acidentes de Transporte Terrestre. Entretanto, é preciso observar que ainda ocorrem milhares de óbitos por esta causa todos os anos”, comenta Érika.
Apesar da constante queda no número de ocorrências em 2020, o Brasil ainda possui altos índices**. em julho de 2020, apenas o Estado de São Paulo registrou a morte de 139 motociclistas e 92 pedestres. O número chega a 34 mil pessoas mortas por ano, o que equivale a 1 morte a cada 15 minutos.

Para a doutoranda, os fatos representam um importante problema de saúde pública global e, por isso, demanda esforços conjuntos para que se promovam medidas preventivas eficazes e intervenção contínua sobre o problema. É o que visa, desde 2014, o movimento Maio Amarelo. A campanha fomenta ações públicas, privadas e da sociedade para discutir o tema e com o objetivo de reduzir os acidentes e mortes no trânsito.

O mês de maio foi escolhido pela 
Organzação das Nações Unidas (ONU) por, em 11 de maio de 2011, ter sido definido como a Década de Ação para Segurança no Trânsito. O amarelo simboliza a sinalização e alerta no trânsito. Neste ano, o tema da oitava edição da Campanha Maio Amarelo é no trânsito, sua responsabilidade salva vidas”.

Érika Carvalho explica que grande parte dos acontecimentos atuais está ligado ao aumento da frota de automóveis em conjunto com a insuficiência na adaptação do ambiente de circulação. Além disso, cita as deficiências nos processos de educação e fiscalização no trânsito como outras causas. O excesso de velocidade, a condução após consumo de bebida alcoólica, uso de celular no trânsito e outros tipos de imprudências também contribuem para os acidentes de trânsito.

De acordo com o ranking das principais causas de acidentes em 2019 da Polícia Rodoviária Federal, a falta de atenção representa 37,1% das ocorrências e a desobediência às normas de trânsito, 12%. “A maior parte das mortes por esta causa ocorre na faixa etária de 15 a 24 anos. Isso significa um grande prejuízo para a sociedade, que se vê privada do potencial econômico e intelectual das vítimas em idade produtiva”, comenta a pesquisadora.

Outras consequências de tal problema são o alto custo social e financeiro para os sistemas de saúde e previdenciário. Além disso, os acidentes de trânsito possuem riscos físicos que vão desde fraturas de todos os níveis, danos psicológicos e há ainda a possibilidade de óbitos.

No acidente de Bianca Matos, seus pais e seu marido saíram bem. Seu caso, apesar de ter sofrido grades fraturas corporais, é extraordinário. Após diferentes cirurgias e acompanhamentos, ela se recupera bem e tem pequenos avanços diários. Desde o ocorrido, o que aconteceu com Bianca é acompanhado por mais de 20 mil seguidores em seu Instagram que presenciam suas conquistas e compartilham de sua fé, coragem e força inabaláveis.

Diante desse acontecimento, a prevenção e conscientização é o caminho para evitar esse grave problema. Érika Carvalho explica que é possível prevenir os acidentes de trânsito por meio de melhorias na infraestrutura viária. A doutoranda cita a redução da velocidade média pela implementação de medidas de controle e fiscalização, o aumento do uso de equipamentos de segurança e a diminuição de fatores de risco – como ‘beber e dirigir’ como outras medidas.

“Também pela melhoria no atendimento pré-hospitalar e hospitalar às vítimas. Ações preventivas no trânsito, campanhas de conscientização e a fiscalização mais rigorosa das infrações de trânsito também são importantes neste sentido”, comenta Érika. Para ela, a Campanha Maio Amarelo é importante para conscientizar sobre esse grave problema de saúde pública, sua magnitude e sobre as formas de prevenção, dando visibilidade ao tema da segurança viária no Brasil.


 

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