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06/06/2021 às 19h47min - Atualizada em 04/06/2021 às 18h18min

Compre o que eu indico, mas não me peça posicionamento político

Uma crônica sobre como moda e política andam juntas, e influenciadores digitais deveriam saber disso

Danielle Barros - Editado por Clara Molter Bertolot
Imagem de Thomas Ulrich por Pixabay
Se você acha que moda e política não têm nada a ver, sinto lhe informar três coisas: primeiro: você não sabe o que é política; segundo: você não sabe o que é moda; terceiro: moda e política estão conectadas desde o final da Idade Média.

Moda não é apenas sobre o lookinho do dia (nada contra, inclusive, gostamos também como um bom passatempo), mas ela também é sobre cultura, arte, consumo, economia, sociologia e... POLÍTICA! Experimente rever os trajes utilizados na posse de Joe Biden, por ele e a vice Kamala Harris, e me diga que aquilo não representa totalmente a expressão sobre o assunto? Pesquise sobre fashion diplomacy e entenderá o que digo.

Esses foram meus primeiros entendimentos quando comecei a estudar Moda, em 2013. Na faculdade de Designer de Moda, a introdução da disciplina é exatamente sobre como o surgimento da moda está ligada a política, como as relações aristocráticas, por exemplo. Como reduzem o tema apenas à futilidade? Outro dia uma colega de profissão afirmou veementemente: “Nem me envolvo com esse assunto, nem entendo e nem gosto! Meu papel é criar roupas e vendê-las, nada mais”.

Eu poderia apresentar-lhe uma infinidade de conceitos e pensadores que discutem o tema "política", mas resolvi resumir brevemente: “Sabe o que é fulana, é que política está ligada diretamente a nossa vivência. Política é sobre tudo aquilo que nos permeia: saúde, educação, moradia, cultura, economia e qualquer outro direito que tenhamos enquanto vivemos em uma sociedade. Não dá para simplesmente não se importar com isso. Faz parte do nosso trabalho com moda também.” Ela me olhou incrédula, como se automaticamente, estivesse empurrando-lhe uma cópia do Manifesto Comunista.

Segundo estudos da Abit - Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção -, no ano de 2019 o setor de moda brasileira empregou 9,5 milhões de trabalhadores. Em contrapartida, no ano de 2020, reduziu em trinta e nove mil vagas de trabalho por conta da pandemia causada pela Covid-19. Como que a moda não é política?

Mas vamos ao que me motivou a escrever esse texto: por que uma boa parte de influenciadores digitais de moda não se posicionam em relação a assuntos sérios, como política? É o medo do “cancelamento”? De perder o patrocínio de marcas? Em um ambiente de trabalho, no qual você é funcionário e tem um patrão, é possível que você não tenha permissão para discutir sobre política. Mas, quando quem comanda tem a oportunidade de influenciar pessoas, a no mínimo, pensar sobre o assunto, não seria válido?

Recentemente uma fashion influencer brasileira, que vende bem-estar por meio de cursos sobre autoconhecimento e moda, disse que não gosta de opinar sobre temas como política, racismo e homofobia. Falou que não era obrigada a fazer isso e que sua rede social e seu trabalho não tinham aquela finalidade. Para alguém que fala tanto em inspirar, fazer um mundo melhor e ajudar pessoas a encontrarem o amor-próprio, não parece fazer muito sentido essa falta de posicionamento. 

Já uma blogueira italiana, que possui uma carreira sólida, não poupa em se manifestar  cada vez que algo polêmico acontece. E não só ela como o marido, sempre presente em sua trajetória, se posiciona dentro e fora da internet.

Eu sei, cansa bastante lutarmos todos os dias e entrarmos em situações de conflitos por algo que pode não mudar. Mas a vida, como diria o velho ditado, não é um "mar de rosas". Há uma importância acerca de influenciar  mudanças no mundo também, como ato político. Permita que seu seguidor possa escolher se confia ou não em suas ideias.

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