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28/07/2021 às 11h25min - Atualizada em 19/06/2021 às 21h01min

Com peças feitas à mão e cores vibrantes, cultura afro marca influência na moda brasileira

A contribuição da cultura africana se popularizou e chegou no universo da moda

Gabriella Lima - Editado por Larissa Barros
Reprodução / Bestbe Models/ Pexels
Por fazer parte de uma cultura rica e ter uma vasta herança, os trajes africanos, pinturas corporais, tecidos e adornos se tornaram uma marca de um povo e parte da sua identidade. Com essas variedades, os detalhes presentes em seus costumes e hábitos ganharam o universo da moda. Roupas, acessórios e calçados sofreram muita contribuição da cultura africana.

A moda tem o diferencial de trazer um pouco da cultura de varios lugares, mostrando as suas histórias através das vestimentas, maquiagens e outros elementos. Por este motivo, essa indústria é uma importante ferramenta para criação da nossa identificação.

Em entrevista, a designer de moda, Nathália Mattos, conta sobre essa influência da cultura negra na indústria da moda brasileira e afirma acreditar que a moda além de ser comunicação, é também ativismo e comportamento. “Quando falamos sobre moda afro-brasileira é importante a gente falar sobre a base da moda, que ainda em sua maioria, é construída por mulheres negras, que não estavam ocupando cargos criativos e de liderança na moda. Atualmenteo combate antirracista vem afirmando e criando novos espaços e narrativas dentro da moda. Pequenos e médios empreendedores estão movimentando o Black Money a partir da cultura afro-brasileira, e isso acaba trazendo novas formas de criar, pensar e fazer moda no Brasil”, explica.

Diante de tanta riqueza que a cultura negra e os produtos africanos têm na sua produção têxtil, de acessórios e afins, deve-se ter cuidado no momento de tentar inserí-los em um mercado tão grandioso como é a indústria da moda. Tem que saber bem a história da peça e retratá-la como tal.
“Eu acredito que quando você se inspira em alguma cultura você precisa referenciar de onde todas as informações foram retiradas. Como forma de valorizar e disseminar a origem dessas narrativas, e porque não deixar que uma pessoa que tenha um contato com os seus ancestrais, estejam a frente desses projetos? É urgente construir uma moda antirracista no Brasil”, explica Nathália Mattos.

Quando falamos da cultura africana, sabemos da sua riqueza de detalhes e nos seus símbolos presente em cada vestimenta. Produtos feitos a mão, com variadas cores (e cores vibrantes), estampas e etc. A produção própria, trazendo os significados é o diferencial que fez chegar até na moda e, permanece até hoje, mesmo que muitos não saibam que esta influência seja da cultura negra como: Algodão branco, Miçangas, Renda branca e etc.

“Acredito que a estampa étnica é uma tendência com base na cultura africana, e o uso de búzios e miçangas. As peças feitas em algodão branco também tem relação com a cultura africana, pois  na era escravocrata no Brasil meus ancestrais faziam suas próprias roupas com tecidos. A utilização de rendas em trajes festivos provém da cultura afro-brasileira, como sinônimo de paz e proteção, utilizado nos “axós”, roupas de trabalhos espirituais do Camdomblé, assim como o turbante”, disse.


No Brasil, diversas culturas influenciaram os costumes durante a colonização,  essas intervenções acabaram ganhando espaço na indústria da moda. Com a vinda dos escravos, tivemos o contato com os seus hábitos e costumes, e toda essa identidade cultural foi para a moda brasileira, que é viva até hoje. 

Para a produtora e consultora de imagem, Laís de Souza, uma das contribuições mais marcantes e que resgata a essência da cultura africana foi o turbante. "O resgate do uso do Turbante é uma evidência importante. Também destaco a utilização de búzios e miçangas, tanto nas roupas quanto em acessórios. O uso de argolas, as batas, a indumentária das baianas, mas a grande ênfase está na padronagem das estamparias”, conta.
 
E com toda essa representação negra retratada na moda brasileira, não podemos deixar de citar grandes nomes de estilistas pretos, que tem todo um cuidado ao representar a cultura negra na indústria da moda. De acordo com a consultora de moda, o estilista “Isaac Silva é um grande exemplo.

"Através da sua marca ele destaca bastante as referências afro-brasileiras e indígenas. Mas, não posso deixar de citar aqueles que vieram antes e nos inspiram, como a 'Goya Lopes', designer brasileira que nos é referência em estamparia, e traz brilhantemente a identidade ancestral através dos traços, cores e padronagem. Nas estampas também destaco a 'Clau Stampas' e a 'Negrita', ambas resgatam a cultura através das padronagens e cores. Temos muitos estilistas que trabalham evidenciando o resgate ancestral de maneira brilhante, um exemplo é o coletivo Fabrikafro no Rio de Janeiro. Existem algumas startups que nos permitem conhecer ainda mais afro empreendedores, um exemplo é a Afropolitan Digital”, conta Laís.


 
Sabemos como a cultura negra é rica e vasta, com produções de encher os olhos com tanto detalhe e representação. Através dos acessórios, das roupas, podemos entender a história de um povo, as suas simbologias, seus significados. Nada é feito sem um porquê, cada cor, cada estampa, carrega uma representatividade de seu povo. A moda afro-brasileira é forte e rica  devido a sua simbologia. Mas ainda é pouco retratada como devia, falta mais destaque. A cultura afro é bela, simbólica e autêntica.
 

“Acredito que seja esta conexão com nossos ancestrais como forma de fonte renovável, de fé e esperança, a criatividade e a potência de tornar moda ativista, política e espiritual, que conecta! É importante a gente gerar essas discussões para trazer novas narrativas sobre África para o Brasil. Sabemos tão pouco sobre as nossas origens, as histórias sobre nossos Reis e Rainhas não são contados nas escolas, não falam sobre a potência da África antes da escravidão em agricultura e tecnologia na época. É urgentemente necessário a gente incluir essas histórias nas salas de aula, para que as crianças do Brasil cresçam ouvindo histórias honrosas sobre o povo preto”, ressalta Nathália Mattos.


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