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08/06/2019 às 12h19min - Atualizada em 08/06/2019 às 12h19min

Animais marinhos adaptam a radioatividade

O “efeito bomba” ainda prevalece nos oceanos e animais marinhos se adaptam a ele.

Daiana Pereira - Editado por Thalia Oliveira
Fotografia: Reefbuilders
A Academia Chinesa de Ciências publicou uma análise, no dia 8 de abril, que trata sobre pesquisas realizadas em três regiões do oceano pacífico que buscam averiguar resquícios de radioatividade em animais marinhos.  Segundo pesquisadores, foram encontrados crustáceos nas áreas mais profundas do oceano pacífico com resquícios de carbono 14, causado pelo “efeito bomba”, que consiste no surgimento do fenômeno do radiocarbono artificial na atmosfera, devido aos testes nucleares realizados nos anos 50 e 60.

Os cientistas encontraram os chamados Anfípodes, que fazem parte da ordem de crustáceos. Eles foram localizados a cerca de 11 quilômetros abaixo da superfície do oceano pacífico. De acordo com os pesquisadores,  os animais se encontram em uma área muito difícil de existir vida, afinal o local possui pressões intensas, frio extremo, falta de luz e nutrientes.

Diante disso, eles notaram que os anfípodes conseguem viver mais tempo que os crustáceos de águas rasas e terem um tamanho expressivamente maior. Cientistas suspeitam que a vida longa ocorre devido aos poluentes radioativos que se acumulam em seus organismos. Ao que tudo indica, eles se alimentam dos restos nas profundezas do oceano, os quais contém detritos que, possivelmente, foram deixados pelos testes nucleares.

De acordo com Rubens Cesar Lopes Figueira, Professor associado ao Departamento de Oceanografia Física, Química e Geológica do Instituto Oceanográfico da USP, é possível a continuidade da vida de seres marinhos com radioatividade sem problemas. Segundo o professor, dependendo das quantidades encontradas nos crustáceos, eles conseguem viver e se desenvolver a partir disso, pois a natureza se adapta às novas condições e os animais mais fortes sobrevivem, por meio da seleção natural

Caso as quantidades de elementos químicos sejam encontradas em níveis basais, ou seja, valores estabelecidos como naturais, outros animais marinhos não irão se prejudicar na cadeia alimentar, afirma Rubens. Esses animais podem ser beneficiados pela radioatividade, pois a natureza oferecerá um retorno que pode ser positivo para o desenvolvimento dos seres vivos, como os crustáceos que foram encontrados.

O tema da radioatividade ainda é percebido como algo ruim para a sociedade, devido a desastres nucleares passados. Entretanto, o professor conta que a radioatividade nem sempre é ruim e pode trazer muitos benefícios, apesar de cada ser vivo se adaptar de um jeito diferente.

A notícia divulgada pela análise surpreende pesquisadores de todo o mundo, como Rose Core, professor associado ao Department of Earth and Environmental Sciences, nos Estados Unidos. Rose afirma, “O que é realmente novidade aqui não é apenas que o carbono da superfície do oceano pode atingir o oceano profundo em escalas de tempo relativamente curtas, mas que o carbono ‘jovem’ produzido na superfície do oceano está alimentando ou sustentando a vida nas trincheiras mais profundas”.

Já a Academia Chinesa de Ciência vê essa situação com apreensão. “Há uma interação muito forte entre a superfície e a parte inferior, em termos de sistemas biológicos, e as atividades humanas podem afetar os biossistemas até 11.000 metros, por isso precisamos ter cuidado com nossos futuros comportamentos”, afirma Weidong Sun, geoquímico da Academia Chinesa de Ciência.
 

 

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