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27/06/2021 às 00h17min - Atualizada em 25/06/2021 às 16h07min

Uma pedra no caminho para o Impeachment de Bolsonaro

Mesmo com uma grave crise política, o presidente Jair Bolsonaro se mantem no poder. Seus acordos com o congresso vem dando resultados e Bolsonaro não corre o risco de deixar a presidência.

Leonardo Leão - Editado por Marceli Maria
Alan Santos/PR

 O presidente Jair Bolsonaro enfrenta sua maior crise política desde que chegou ao poder. Suas atitudes durante a pandemia tem se mostrado bastante irresponsáveis. Mesmo sendo considerado por muitos o pior presidente da história do Brasil, ele segue com poucas chances de deixar o cargo.

 Guilherme Marques, cientista político da FGV (Fundação Getúlio Vargas), aponta como principal obstáculo para o impeachment, a falta de apoio por parte do Congresso Nacional, por diversas motivações. Ele relembra que as possibilidades para uma abertura de um processo de impeachment já eram baixas desde o mandato do deputado Rodrigo Maia na presidência da Câmara.

 O cientista político lembra que mesmo com um discurso contrário ao presidencialismo de coalizão, popular "toma-lá-dá-cá", e com problemas de articulação e comunicação com a classe política, o governo conseguiu formar uma razoável base suficiente para inviabilizar e desmotivar uma possível abertura de um processo de impeachment.

 Outro fator que dificulta o impeachment, na opinião de Guilherme, é o desinteresse de uma parte da oposição. Que veem na vulnerabilidade e crescente impopularidade de Bolsonaro, uma oportunidade para derrota-lo nas eleições de 2022.

 Guilherme afirma que existem cinco elementos, segundo a literatura da ciência política, que podem gerar um impeachment na América Latina: manifestações massivas; recessão econômica; posição frágil e minoritária no Congresso; e escândalos importantes.


 Para ele é inegável o fato dos protestos representarem uma ameaça ao governo, afinal eles significam o repúdio de segmentos expressivos da sociedade. Já a CPI da Covid vem expondo os erros do governo na gestão da pandemia, esses erros podem ser considerados escândalos da mais elevada magnitude. Tudo isso é bastante prejudicial ao governo.

 Quanto a uma cisão entre o Centrão e Bolsonaro, Guilherme Marques acredita que é possível, seja por conta dos desdobramentos da CPI, escândalos políticos ou durante as eleições. Caso o governo não se mostre competitivo, não seria uma surpresa ver o Centrão apoiar um opositor.

 O cientista político reconhece que há muitos congressistas da base do governo que se utilizam do discurso de que "um processo de impeachment seria prejudicial para o Brasil". Mas ele adverte que isso é apenas para travar o debate e que não vê muitos técnicos acadêmicos defendendo esse argumento.

 “Como cientista político, não vejo qualquer evidência de que um processo de impeachment na atual situação será pior para o país.”

 Para Guilherme não há mais em que piorar, a condução da pandemia; a questão ambiental; a imagem do país frente seus pares internacionais; e os supostos "avanços" econômicos, como a privatização da Eletrobrás, muito criticada por especialistas e pelo setor industrial; são alguns exemplos do retrocesso do país.

 Ele relembra a carta aberta feita por nomes importantes do mercado financeiro, criticando a falta de uma agenda econômica clara e os entraves nas reformas estruturais necessárias para sanear a situação fiscal do país. Isso demonstra que há uma desconfiança generalizada na capacidade do governo em comandar o país.

O preço do poder

 Como foi dito anteriormente, Bolsonaro formou uma base no congresso para se manter no poder. Ela é formada principalmente pelo Centrão e pelas bancadas evangélicas, militares e ruralistas. Mas Guilherme Marques ressalta que essa base possui um preço implícito, cobrado através de emendas parlamentares e cargos. Quanto mais vulnerável é o governo, maior é o preço.

 O Centrão é a maior força na política brasileira, ninguém governa sem seu apoio, e sabendo disto o presidente tem feito de tudo para poder agrada-los. Nomes como Arthur Lira e Ciro Nogueira, ambos do PP, estão no topo da lista de prioridades de Jair Bolsonaro.

 Em troca de aliança, o presidente chegou a pagar R$ 3 bilhões em emendas parlamentares, ele também apoiou os candidatos do Centrão, Lira e Rodrigo Pacheco para a presidência da Câmara e do Senado, respectivamente. Além de entregar diversos cargos para os membros do bloco, como as nomeações de Augusto Aras para a Procuradoria-Geral da República e de Flávia Arruda como ministra da Secretaria de Governo.

 Bolsonaro colocou militares em cargos importantes durante seu governo, além de benefícios à categoria. Já os evangélicos também receberam sua recompensa por apoiar o presidente a tanto tempo. Ele convenceu o congresso a perdoar R$ 1,4 bilhão em dívidas das igrejas.

 Outro beneficiado são os ruralistas, o próprio Jair Bolsonaro chegou a declarar aos parlamentares ruralistas, “esse governo é de vocês". Até o momento, o governo tem feito vista grossa quanto ao desmatamento e conflitos com tribos indígenas.

 A negligência durante a pandemia, escolhas erradas de ministros e investigações de casos de corrupção como o “laranjal", “rachadinhas”,“tratolão”; e agora uma compra superfaturada de vacinas da Covaxin, são alguns exemplos do quão afundado em uma crise política, está o governo de Jair Bolsonaro. Sua aprovação cai a cada pesquisa e aquele que se autodenominava a principal força “anti-PT", pode se tornar o motivo do retorno do partido ao poder.


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