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18/07/2021 às 07h23min - Atualizada em 17/07/2021 às 22h09min

O possível fim do carro popular

Com a alta nos preços e a atual legislação, os carros populares estão ficando cada vez menos acessíveis aos consumidores

Leonardo Leão - Editado por Ynara Mattos
Divulgação

 Atualmente o mercado automotivo está passando por um momento de transição. A alta nos preços dos veículos e o aumento gradual dos SUVs (Sport Utility Vehicle) no mercado são alguns dos sinais dessa mudança. A preocupação de alguns especialistas é sobre como os consumidores irão reagir caso essa transição se conclua.

 A ANFAVEA (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) lembra que o termo “Carro Popular” foi utilizado durante o governo Itamar Franco, que reduziu a alíquota de IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para modelos com motor até 1.0 e com certo limite de preço. Nesse período surgiram modelos consagrados no mercado nacional como Fiat Uno e o Volkswagen Gol.

 Na virada do século, os carros populares fizeram o maior sucesso. Segundo a Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores), 69,8% dos carros vendidos em 2001 possuíam motores 1.0 ou menores. Porem, os modelos de entrada sofreram uma forte queda nas vendas, passando de 49,1% em 2003 para 12,7% em 2020.

 Uma das principais especulações atualmente é sobre a possível retirada dos modelos populares ou veículos compactos de entrada do mercado. Sobre a queda na produção desses modelos, a ANFAVEA explica que se deve a uma oferta cada vez menor desses modelos, por vários motivos. Um deles é que a legislação determina o uso de tecnologias de segurança e controle de emissões que acabou tornando-os mais caros. Isso causou uma migração de consumidores para os carros maiores ou usados.

 Para se ter uma ideia da proporção dessas especulações, muitos afirmam que o Uno sairá do mercado neste ano e em 2023 será a vez do Gol deixar as ruas brasileiras. Mas a ANFEVA afirma que haverá sempre um modelo de entrada na linha de cada fabricante, mas eles ressaltam o papel da legislação no aumento dos preços. Para a associação uma redução nos impostos poderia contribuir nas vendas desses modelos.

 Atualmente temos apenas quatro modelos considerados “Veículos de Entrada”, Renault Kwid, Fiat Mobi, Fiat Uno e Volkswagen Gol. Porém, no caso do Gol, ele já possui versões acima de R$ 76 mil. O público está mais exigente, eles querem carros com conectividade, ar-condicionado e vidros elétricos, por exemplo, tudo isso deixa o veículo mais caro. Os “populares” já não são mais tão simples como antes, a ANFEVA lembra que eles, nos anos 90, não tinham nem o retrovisor do lado direito.

 Existe uma tendência visível no mercado automotivo, aqueles com uma renda mais baixa estão optando por veículos usados, enquanto, as pessoas com maiores condições escolhem modelos mais luxuosos. Por exemplo, a venda de carros usados no primeiro semestre deste ano foi 62,3% superior que o mesmo período em 2020, já a Porsche no ano passado, quebrou seu recorde histórico de vendas no Brasil.

 

 Outro fato que já é tendência é o aumento dos utilitários esportivos no país. Segundo a Fenabrave existem 40 modelos SUVs no mercado, 10 vezes mais que os de entrada. A ANFEVA nega a possibilidade, apontada por alguns especialistas, desses veículos substituírem os carros populares. Ela afirma que há muitos anos existe um movimento de oferta de SUVs cada vez mais compactos. São opções mais acessíveis, porém, não o suficiente para ocupar o lugar dos hatches e sedãs de entrada no mercado.

 Vale lembrar que os utilitário-esportivos dão uma maior margem de lucro para as montadoras. Marcas como Volkswagen e Stellantis (Fiat Crysler Automobiles e PSA Group) estão optando pela lucratividade em detrimento da liderança no mercado. Os preços estão cada vez mais proibitivos e devem seguir assim. Tanto as exigências dos consumidores quanto as do governo promovem essa escalada de preços.

 Hoje, 97% dos carros possuem ar-condicionado, 49% com câmbio automático e 40% já contam com central multimídia. Em 2024, todos os automoveis no país terão que ser produzidos com controle de estabilidade
 e luzes de uso noturno (DRL), o teste de impacto lateral também será uma exigência para a homologação dos veículos, dentre outras determinações. Tudo isso gera custos.

 Quanto ao futuro, a ANFEVA ressalta que já ocorrem muitas mudanças de comportamento, como o compartilhamento, os carros por assinatura. A associação cita o caso dos carros por aplicativo como um processo que levou muitos a optarem por não terem um carro próprio, isso também contribuiu para a diminuição da oferta dos modelos de entrada.

 Ela também destaca o fato do mercado de usados ter se tornado a única opção para quem procura um carro até certo preço. A ANFEVA lembra que em outros países já surgiram micromodelos elétricos, mas o Brasil não possui uma política que favoreça o processo de eletrificação da frota.


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