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06/08/2021 às 19h21min - Atualizada em 06/08/2021 às 19h21min

COVID-19: CAMPANHA DE VACINAÇÃO NO BRASIL

Em meio a desinformação, atrasos na aquisição de vacinas, questões de logísticas e falta de insumos farmacêuticos, o país já vacinou mais de 18% da população.

Sthefany Macedo - Revisado por Ana Lívia Gonçalves
Imagem: Freepik

A pandemia da Covid-19 se tornou um desafio global de saúde pública. Um dos obstáculos para interromper a transmissão do vírus é a disponibilização das vacinas. No Brasil, o plano nacional de imunização foi divulgado em 16 de dezembro de 2020, mas a vacinação teve início somente no dia 18 de janeiro de 2021, com as primeiras doses da vacina Coronavac.


A organização do plano nacional de imunização aconteceu em 10 eixos: 

1) Situação epidemiológica e definição da população-alvo para vacinação; 

2) Vacinas COVID-19; 

3) Farmacovigilância; 

4) Sistemas de Informações; 

5) Operacionalização para vacinação; 

6) Monitoramento, Supervisão e Avaliação; 

7) Orçamento para operacionalização da vacinação; 

8) Estudos pós-marketing; 

9) Comunicação; 

10) Encerramento da campanha de vacinação.

 

Na primeira divulgação, o Brasil possuía a previsão de 350 milhões de doses de vacinas por meio de acordos da AstraZeneca (100,4 milhões de doses, até julho/2021) e da Covax Facility (42,5 milhões de doses). O país ainda possuía intenção de acordo com Pfizer/BioNTech, Janssen Instituto Butantan, Bharat Biotech, Moderna e Gamaleya. 

A Covax, também conhecida como Covax Facility, foi uma iniciativa criada em 2020 pela OMS e coordenada em conjunto com o CEPI e o Gavi, com o intuito de distribuir de forma equitativa as vacinas contra o coronavírus. Com esse mecanismo, países de baixa e média renda podem recebê-las a preços consideravelmente baixos. Atualmente, a aliança global conta com mais de 150 países e em maio, o Ministério da Saúde anunciou o recebimento de 4 milhões de doses da AstraZeneca por meio do consórcio.

Para interromper a circulação do vírus, cerca de 60 a 70% da população precisaria estar imune. Este é um dos maiores desafios dessa pandemia, como reforça a infectologista, Dra. Gabriela Margraf Gehring, “Um dos maiores desafios da vacinação é alcançar pelo menos 60 a 70% da população. O Brasil é um país muito grande, milhões de habitantes, então precisamos realmente comprar muitas doses da vacina e se organizar para realizar uma campanha de vacinação da forma correta.” 

Baseado em princípios similares aos estabelecidos pela OMS, o plano de vacinação seguiu a seguinte ordem de priorização: preservação do funcionamento dos serviços de saúde, proteção dos indivíduos com maior risco de desenvolvimento de formas graves e óbitos, seguido da preservação do funcionamento dos serviços essenciais e proteção dos indivíduos com maior risco de infecção.


Arte: Sthefany Macedo/Primeiro Plano Nacional de Imunização

 

Além de identificar os grupos prioritários, as autoridades precisaram se organizar em questões de logísticas de fornecimento e armazenamento das vacinas, o imunizante da Pfizer/BioNTech, por exemplo, necessita de uma estrutura com ultrafreezeres que possuem capacidade de resfriamento de -80ºC a -60ºC. Mas com uma autorização da Anvisa, o acondicionamento das doses agora pode ser feito em geladeira comum (entre 2 e 8°C) por até 31 dias, facilitando a aplicação em cidades do interior.

Diversos pontos de vacinação foram criados para atender a demanda da população, além de utilizar a Unidade Básica de Saúde (UBS), foram abertos postos de vacinação Drive-thru. Nesse esquema, quem faz parte do grupo prioritário vai até um ponto de vacinação em Drive-thru, aguarda na fila de carros e, dentro do veículo, recebe a dose da vacina. O sistema foi pensado para trazer mais segurança, evitando aglomerações e contato entre as pessoas.  

Em Maringá, cidade no norte do Paraná, Rosa Maria da Conceição, aposentada, 83 anos, tomou a primeira dose da vacina AstraZeneca nessa modalidade.
 

Em meio a desinformação e ao negacionismo também compartilhado pelo próprio presidente, ainda há muitas pessoas que não pretendem se vacinar contra a Covid-19. A velocidade em que as vacinas foram desenvolvidas é uma das questões que traz a falta de confiança, além disso, teorias conspiratórias que estão sendo amplamente divulgadas em plataformas de mídia social por grupos antivacinação, são fatores que afetam o bom desempenho da campanha. 

Eliane Soares, 48 anos, relata que não pretende se vacinar, “Porque a pessoa que toma a vacina precisa continuar com álcool, com a máscara, as mesmas coisas que ela faz antes da vacina vai ter que fazer pós vacina, então quer dizer que eu não acho que ela seja assim tão confiável, e de muitos casos que nós ficamos sabendo mesmo a pessoa estando vacinada, morreu com o covid.” 

A infectologista, Dra. Gabriela Margraf Gehring, ainda alerta sobre a importância de seguir as diretrizes de prevenção, mesmo para quem não pretende se vacinar, “para as pessoas que não desejam se vacinar a orientação é a mesma de quem tá vacinado, na verdade. As medidas de prevenção vão continuar por um bom tempo. A utilização de máscara, distanciamento social, álcool em gel, evitar aglomerações, isso tudo vale para vacinados e para não vacinados.”

Para alcançar esse público, também é necessário apresentar uma campanha clara e transparente, fornecendo todos os dados à população. Diante disso, o consórcio de veículos de imprensa, formado por Tv Globo, G1, Folha, UOL, O Estado de S. Paulo, O Globo, Globonews e Extra criaram a campanha “Vacina Sim” para conscientizar a importância da imunização, a campanha é apresentada em fotos, vídeos e conta com a participação de atores, jornalistas e apresentadores. 
 




 

Além dessas adversidades, em abril, um levantamento realizado pelo Ministério da Saúde alertou que cerca de 1,5 milhões de brasileiros não haviam retornado aos postos de saúde para tomar a segunda dose da vacina, fator que retarda a eficácia da campanha. Rosa Maria, aposentada que recebeu a primeira dose da AstraZeneca, não se enquadra nesse número. Ela retornou no dia dois de junho ao posto de saúde, após o intervalo de doze semanas, tempo necessário entre as doses, e hoje se encontra imunizada. 

 

 

Rosa Maria recebendo a segunda dose da vacina AstraZeneca

No dia 28 de maio, o Ministério da Saúde também autorizou a imunização da população geral por idade. A vacinação está ocorrendo em ordem decrescente de faixa etária entre os brasileiros de 18 e 59 anos, mas ainda será mantida a aplicação das doses para grupos prioritários.

Na última quarta-feira de julho, 28, a cidade de São Paulo deu início a vacinação dos adultos a partir de 29 anos ou mais. O estado já soma mais de 24 milhões de vacinados com a primeira dose, mas menos de 10 milhões estão totalmente imunizados com a segunda dose.


 

Apesar de estar alcançando bons números, a campanha de vacinação no Brasil ainda é motivo de muita discussão. Em maio, o país enfrentou uma grande escassez de insumos necessários para produção da Coronavac e AstraZeneca. A falta do Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA) paralisou a produção das vacinas e da campanha de vacinação. A Fiocruz, responsável por produzir a AstraZeneca, voltou a produção no dia 25 de maio, após receber o IFA, com isso, a instituição pretende produzir 12 milhões de doses.

A demora para dar início ao período de vacinação contra a covid-19 também se tornou motivo para instauração de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito), para investigar a atuação do governo Bolsonaro na gestão da crise da pandemia. 

Apesar de ter iniciado uma gradativa caminhada na campanha, a atuação do governo no início das negociações tem sido vista como negligente. O Brasil demorou para fechar contrato com farmacêuticas e o primeiro plano de imunização divulgado pelo governo não era conciso.

“O Brasil poderia estar em melhor situação se tivesse mais doses disponíveis para aplicação. Infelizmente, não é o caso. O SUS é capaz de vacinar até 2 milhões de pessoas por dia, mas isso nunca aconteceu com nenhuma vacina contra o coronavírus, o que faz com que continuemos nesse ritmo elevado de contaminações e mortes”, comentou a Dra. Infectologista, Keilla Mara de Freitas.

O Ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, anunciou na terça-feira (27 de Julho) que, após a conclusão da vacinação dos adultos com pelo menos a primeira dose da vacina, será iniciada a vacinação dos adolescentes de 12 a 17 anos de idade, a prioridade será para aqueles que possuem alguma comorbidade.

De acordo com dados do projeto Our World in data, da universidade de Oxford, 27,8% da população mundial recebeu ao menos uma dose da vacina contra Covid-19 e 14,2% está totalmente vacinada.

Até o momento, o Brasil já vacinou mais de 18% da população com as duas doses ou dose única, e o país se prepara para receber mais de 69 milhões de doses de vacina em setembro.

 

Confira relatos sobre a campanha de vacinação


 

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