Meses gelados

Baixas temperaturas nas regiões Sul e Sudeste do país. Créditos/Reprodução: site Tempo Agora

De meados de junho até setembro, o inverno predomina no Brasil, marcado por ausência de chuva em quase todo o seu território, principalmente nas regiões Centro-Oeste e Sudeste. E como já se é esperado, a baixa nas temperaturas. Contudo, o frio se mostrou um pouco mais severo neste ano, com temperaturas negativas que atingiram as regiões Sul e Sudeste, até nevou em algumas cidades do Rio Grande do Sul. Em entrevista ao Laboratório Dicas Jornalismo, a Dra. em Ciências Atmosféricas Amanda Rehbein explica esse fenômeno. 

“As baixas temperaturas nesta época do ano são normais para as regiões sul e sudeste. Porém, incursões de massas de ar polar tão intensas como a observada no final de julho e início de agosto deste ano não são tão frequentes”, explica. “Além disso, é importante mencionar que apesar destes recordes de frio que observamos no Brasil, outras regiões do Planeta estão, neste mesmo momento, tendo recordes de temperaturas máximas muito altos”, complementa. 

Na segunda-feira (02/08) o frio deu uma leve trégua, as temperaturas começaram a subir um pouco, e até o sol apareceu, ainda de maneira singela. Algo natural de se acontecer, pois a massa de ar frio começa a enfraquecer. Contudo, o inverno não acabou, poderá ainda ter temperaturas baixas, mas os “recordes” que observamos em algumas regiões têm chances mínimas de ocorrerem de novo. 

As temperaturas baixas 

Esse frio fez São Paulo ter baixas temperaturas, como em Campos do Jordão, no interior paulista, que no dia 30/07 teve a menor temperatura nos últimos onze anos: -2,6° C. Em 28/07, também fez nevar em algumas cidades do Rio Grande do Sul (Pelotas, São Francisco de Paula, Gramado, Carlos Barbosa, Bagé, Herval, Piratini, Caxias do Sul, Marau e Farroupilha). 

Assim surgiu a dúvida: o aquecimento global tem contribuído para essas temperaturas tão baixas? 

Amanda Rehbein explica que as incursões de massas de ar frio são naturais, já que a atmosfera busca por um equilíbrio térmico. “Que funciona basicamente da seguinte maneira: A região Tropical recebe maior radiação solar que a região polar. Logo, a região Tropical fica mais aquecida. Para redistribuir este calor, massas de ar quente da região Tropical tendem a se deslocar em direção aos pólos e massas de ar frio das regiões polares tendem a se deslocar em direção a região Tropical”. E complementa ao afirmar que “o aquecimento global, causado pelo aumento de gases que retém bastante calor, conhecidos como gases de efeito estufa,  a circulação atmosférica pode se intensificar para tentar entrar em equilíbrio mais rapidamente, causando diversos eventos extremos de tempo”. 

Prejuízos ao meio ambiente 

Esse frio intenso, geadas e até neve, como na região Sul, preocupa por ser responsável por prejuízos ao meio ambiente e afetar o setor de agricultura no Sul e Sudeste do país. 

“Causa danos às plantações ou até mesmo a morte de plantas, principalmente nas regiões Sudeste e Centro-Oeste do Brasil. Contudo, no Sul do País, a vegetação nativa possui resistência e até mesmo depende do frio para a produção adequada de frutos. Além disso, o frio é um combatente natural no controle de plantas daninhas, pragas e doenças naquela região”, explica a Dra. em Ciências Atmosféricas. “Nos últimos anos, temos observado a ocorrência de períodos prolongados de temperaturas mais altas durante o inverno, quebrando o ciclo de  dormência das plantas. Com as temperaturas mais elevadas, ocorre a floração precoce de pomares. Se, a partir desta floração precoce ocorrerem temperaturas muito baixas, as plantas correm risco de aborto floral. E isso configura um grave prejuízo para o meio ambiente e também para o setor agrícola”, completa.