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16/12/2021 às 20h00min - Atualizada em 14/12/2021 às 00h01min

O vilão por trás do cartão de crédito (1°)

‘Dinheiro de plástico’ é a principal causa de endividamento dos brasileiros nos últimos anos

Bruna Villela - Editado por Júlio Sousa


O início do século 21 ocasionou grandes mudanças econômicas ao país: a concessão de crédito, principalmente à pessoa física, permitiu minimizar os efeitos da crise financeira internacional de 2008. Com a falência do tradicional banco de investimento norte-americano Lehman Brothers, o Brasil respondeu ofertando crédito pessoal à sua população, contribuindo com a redução da desigualdade social, conforme indica o documento produzido pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). Ao longo do tempo, porém, nem todas as consequências foram positivas. 

De acordo com um estudo da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o número de endividados no país aumenta com o passar dos anos; as causas são diversas, mas o cartão de crédito está sempre no topo dessa lista. No ano de 2020, por exemplo, o percentual de famílias com dívidas apresentou tendência de alta até meados do ano, e o cartão de crédito foi responsável por quase 80% dos casos. 


Para ajudar a entender este contexto, a escritora e mentora de finanças pessoais Kate Macedo conta que, com o surgimento dos bancos digitais, as elevadas taxas de anuidade diminuíram, levando os bancos grandes a também entrarem nessa linha e a atingir, então, a classe C. Além da facilidade de obtenção de linhas de crédito, hoje em dia, existe um apelo para o consumidor possuir cartões. “Algumas funcionalidades dos bancos digitais não funcionam se não tiver o cartão de crédito”, explica. 

Um é pouco, dois é bom e acima de três é demais

O acesso mais fácil ao cartão de crédito pela população pode favorecer o endividamento e conta com um ônus: não fornece benefícios ao portador: “Cartões a partir do Platinum oferecem o acúmulo de pontos e serviços associados, como reembolso de determinadas despesas em viagens. Isso para as classes mais altas”, comenta a especialista. 


Arquivo Pessoal: Kate Macedo 
 

“Sempre fui uma pessoa muito controlada por conta da família, sempre tive a ciência que se atrasar em um dia apenas o pagamento do cartão você se arrepende de ter esquecido"


Kate reconhece a divergência entre as classes sociais, mas aponta algo comum à maioria: “As pessoas acham que ter cartão de crédito e ter um limite alto é símbolo de status”. A mentora sinaliza que é necessário um limite maior dependendo do estilo de vida e, assim como analistas e consultores norte-americanos, orienta ter no máximo dois ou três cartões, sendo um de uso emergencial. 

Acima disso, é mais fácil perder o controle financeiro e não é interessante para o Serasa Score - pontuação de crédito que reflete seu comportamento financeiro. “Um relacionamento de longos anos com o mesmo cartão demonstra uma pessoa idônea”, o que permite uma avaliação positiva a quem solicita serviços de crédito. Por outro lado, muitas consultas no CPF e possuir dívidas indicam uma pessoa instável, sem falar que “um nome demora a ser limpo”, afirma.  

Interesse institucional


Recentemente, o setor público nacional fez alguns movimentos nesse sentido, propondo restrições relativas ao crédito rotativo que, agora, só pode ser mantido até o vencimento da fatura subsequente, por 30 dias — como informa o portal de conteúdo da plataforma on-line de crédito Creditas. A transição para o parcelamento implica um maior risco de calote para os bancos, o que fez os juros sobre as parcelas subirem e a inadimplência aumentar. Com a alteração, os custos da fatura são menores, mas, após o prazo, os juros são ainda mais abusivos. 


Ao longo da entrevista, Kate sugere que o cartão de crédito pode ser tão interessante para os bancos por essa razão; além da anuidade e taxas cobradas por atividades realizadas, os juros desse serviço são bem maiores que os de financiamentos, por exemplo. E também denota que, de modo geral, não há o interesse em se aprofundar no assunto: “É tão absurda a discrepância entre a taxa de juros do cartão e do investimento, somente a educação financeira pode fazer essa virada de chave”. 


Pensando no comportamento do consumidor brasileiro: “O maior problema é o acúmulo das parcelinhas: dividir uma em 2, outra em 5, outra em 10. A fatura fica acima da sua capacidade de pagamento. Outro ponto são pessoas usando o cartão como complemento do salário”. Por fim, ela explica que é interessante sim ter o recurso do cartão de crédito para pagar suas contas e fazer compras, mas devemos ter o controle e preparo financeiro necessários para honrar o compromisso.
 

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