Lab Dicas Jornalismo Publicidade 728x90
31/01/2022 às 10h48min - Atualizada em 31/01/2022 às 07h37min

TDAH: saiba quais são os sintomas e como vivem as pessoas diagnosticadas com esse transtorno

O TDAH é muito comum. Seus sintomas podem ser variados, mas se não tratados podem gerar problemas futuros para os portadores desse transtorno.

Maria Eduarda Ribeiro - Ana Lívia Gonçalves e Laura Kirschnick
fonte: appai.org.br
   O transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) aparece na infância e pode durar anos ou acompanhar o indivíduo por toda a vida. É uma doença crônica de causas genéticas, caracterizada pela desatenção, hiperatividade e impulsividade. O tratamento ajuda a melhorar, mas não tem cura.

   É um distúrbio neurobiológico, reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Também pode ser chamado de DDA (Distúrbio do Déficit de Atenção). O transtorno atinge cerca de 5% da população infantil mundial. No Brasil, aproximadamente 2 milhões de pessoas são diagnosticadas com TDAH, segundo dados da Organização Mundial da Saúde.

   É um transtorno com causas genéticas, ambientais e biológicas. Em crianças com TDAH, o córtex, camada mais superficial do cérebro, geralmente se desenvolve mais lentamente na região do lobo frontal e temporal. Essas regiões são importantes para a memória, atenção, pensamento, linguagem e para o controle do comportamento. Indivíduos diagnosticados com TDAH têm o córtex frontal e outras partes fundamentais do cérebro menores.

   Essas partes do cérebro interagem intensamente formando circuitos que controlam a atenção, a linguagem e o movimento. A atividade desses circuitos aumenta e diminui para permitir a realização de diferentes funções. Em pessoas com TDAH, as atividades desses circuitos estão prejudicadas. Além disso, há também a interrupção na liberação de transmissores químicos, como a dopamina e a noradrenalina, responsáveis por transmitir mensagens entre as células cerebrais.

   Assim, indivíduos diagnosticados com esse distúrbio ao realizar tarefas específicas possuem alguns circuitos que não são ligados o suficiente enquanto outros ficam ligados demais.


 

PRINCIPAIS SINTOMAS 

   No geral, os sintomas do TDAH podem ser divididos em:
Desatenção: dificuldade de prestar atenção, nesse caso, o TDAH tem uma atenção seletiva, uma vez que para tarefas do dia a dia consideradas chatas e repetitivas, as pessoas com esse distúrbio apresentam um bloqueio para realizá-las enquanto em outros assuntos que te chamam atenção, eles permanecem hiper focados. Além de esquecimentos frequentes, dificuldade em se organizar e administrar o tempo e facilidade em perder objetos.

Hiperatividade – Impulsividade: ter dificuldade em esperar a sua vez, agitação constante e agir de forma invasiva e impulsiva. Baixa tolerância à frustração, temperamento explosivo, mudar constantemente de planos, dificuldade em se expressar e desejo de fazer tudo ao mesmo tempo. São outros sintomas que podem estar associados ao TDAH.

   De acordo com esses sintomas, o TDAH pode ser dividido em 3 tipos: Desatento (sintomas relacionados à desatenção), Hiperativo – impulsivo (sintomas relacionados a hiperatividade e impulsividade) e Apresentação Combinada (é o caso que apresenta sintomas dos 2 tipos anteriores de forma homogênea).
 

DIAGNÓSTICO

   O diagnóstico do TDAH só pode ser feito por um profissional habilitado, porque muitos sintomas podem estar relacionados a outros tipos de transtornos. Não requer exames laboratoriais ou de imagem, assim, não há exames específicos. O diagnóstico é inteiramente clínico.

   Para um diagnóstico correto o profissional, que pode ser um psiquiatra, neurologista ou pediatra, tem que analisar os sintomas do paciente, a duração, frequência e intensidade, além de avaliar os prejuízos que esses sintomas podem causar na vida do indivíduo. Após essas análises o diagnóstico pode ser concluído.

   Haider Borges Carvalho Rizvi, formado em Administração e empresário há 15 anos. Foi diagnosticado com TDAH aos 39 anos, hoje com 41, ele conta que desde o seu diagnóstico o seu foco virou o estudo sobre o assunto. E conscientizar sobre o TDAH se tornou o seu grande objetivo de vida.

   Ao explicar como foi o seu processo de diagnóstico, Haider afirma que há 5 anos começou a ter dificuldade com compulsão alimentar, uma crise forte de ansiedade com traços de depressão. Buscou a ajuda de um psiquiatra, a princípio era tratado como uma ansiedade. Ele ainda conta que trocou de psiquiatra e depois de 2 consultas com esse novo profissional, recebeu o diagnóstico do TDAH.
 

OS DESAFIOS DO TDAH NA INFÂNCIA E NA VIDA ADULTA

   As crianças portadoras de TDAH, sentem várias coisas acontecendo ao mesmo tempo. Material escolar espalhado pelo chão, falatório nos corredores, outros barulhos externos e dentro de sala de aula, alunos com conversas paralelas e o professor tentando explicar a aula. Apesar de serem bem comuns, esses detalhes do dia a dia são grandes desafios para a criança com TDAH.

  E como consequência, surgem as notas baixas, conversas durante a aula, não saber o que o professor explicou, distraindo-se facilmente, sentimentos confusos e misturados emocionalmente. Neste momento, é fundamental o apoio dos pais e dos professores, incentivar e estimular a criança para que ela possa superar as suas dificuldades. O TDAH não está relacionado com a falta de capacidade e não é uma questão de inteligência, quem tem esse déficit pode ter inteligência normal ou até acima da média. É um déficit de desempenho, eles sabem o que fazer, só não sabem como.
 
   Fábio Roberto Mendonça Tenório, Psicólogo especialista em psicologia clínica e saúde mental com foco em diagnóstico e tratamento de pessoas com TDAH, ao explicar esse distúrbio na infância afirma que muitos desses comportamentos são normais e comuns a experiência de qualquer criança e até de muitos adultos, porém quando falado de TDAH, e transtornos em geral, está sendo referido um comportamento frequente, intenso que prejudica a pessoa que o emite e traz sofrimento acentuado para ela.

   "A família é importantíssima no tratamento da criança com TDAH, muitas são as formas de participação possíveis. Conhecer mais sobre o transtorno e buscar  pelo diagnóstico e tratamento, isso evita que a criança cresça cercada por obstáculos e dificuldade que poderiam ser evitados caso a família buscasse por orientação desde o início da manifestação dos comportamentos supracitados", explica o Psicólogo.

   Segundo Fábio Tenório, a escola também é fundamental no tratamento. Diversas iniciativas estão sendo tomadas para apoiar a criança com TDAH no espaço escolar, como a presença de um auxiliar de sala que possa ajuda, bem como ter sua carteira reservada na frente para minimizar os episódios de desatenção e/ ou hiperatividade, aumentando assim a possibilidade de interação com o que está sendo passado pelo professor.


 
   “O meu principal desafio, e que deve ser de todos os TDAHs, é manter a disciplina no tratamento multifuncional, pois o TDAH não tratado pode ser extremamente perigoso, aumentando exponencialmente a chance de depressão, ansiedade crônica e suicídio”, afirma Haider Rizvi sobre os desafios do TDAH na vida adulta.

   Segundo o Empresário, quem convive com um TDAH tem que entender o que é o distúrbio e quais são os comportamentos. Gerando, assim, um ambiente muito mais propício de organização, de métodos e disciplina para que a pessoa com o distúrbio possa florescer. Haider destaca ainda que as pessoas com TDAH têm a mente muito criativa, são resilientes, carinhosos, entre outras virtudes.
 
   "O TDAH nos adultos comporta muito daquilo que já falamos acerca da vivência infantil. Hoje, os adultos com TDAH tendem a se queixar de dois sintomas muito frequentes: a procrastinação e o desencantamento com aquilo que não mais se apresenta como novidade", relata o Psicólogo Fábio Tenório.
 

TRATAMENTO

   O tratamento do TDAH começa com o diagnóstico correto feito por um profissional e deve ser multimodal, sendo uma combinação de medicamentos, orientação aos pais e professores (quando na infância), além de técnicas específicas que são ensinadas ao portador.

   Em crianças, o tratamento pode ser feito por meio de medicamentos que estimulam a diminuição da impulsividade, desatenção e hiperatividade, facilitando melhor interação social e desempenho escolar. É importante destacar que os tipos de remédios são determinados pelo médico de acordo com a necessidade de cada paciente.

   A psicoterapia que é indicada para o tratamento do TDAH, chama-se Terapia Cognitivo Comportamental e é feita por psicólogos. Consiste na criação de melhores hábitos, mudanças de comportamento, enfrentando os problemas do TDAH, trazendo motivação e autonomia. Para que o tratamento seja eficaz, é importante o envolvimento da família e dos professores. Buscando melhorar o ambiente que a criança convive, através de um ambiente organizado e a criação de uma rotina.

   Os adultos com TDAH fazem uso das mesmas medicações que são recomendadas para as crianças. Além do acompanhamento por um profissional especialista nesta área, podendo ser um Neurologista ou um Psiquiatra. Existem opções de tratamentos alternativos que seriam hábitos no dia a dia que ajudam a melhorar os sintomas e auxiliam no tratamento.

   Alimentação saudável, exercícios diários, sono restaurador, terapia, autoconhecimento, meditação, suporte social. São alguns hábitos diários que o Empresário Haider Rizvi considera ideal para o tratamento. Não procurar ajuda de psiquiatra para fechar o diagnóstico e receber o tratamento correto, negação do transtorno, sedentarismo, se achar autossuficiente, TDAHs prosperam muito com o apoio de profissionais e do entorno. São hábitos que segundo Haider, atrapalham o tratamento.
 
   "No tratamento insistimos muito na identificação das distrações. As pessoas com esse transtorno, crianças e adultos, frequentemente não conseguem separar as tarefas mais urgentes daquelas que podem esperar", afirma Fábio Tenório, "trabalhamos muito para que o/a TDAH possa identificar suas distrações. Uma vez que elas atuam de forma 'camuflada' e acabam por se meter no meio de atividades importantes como se tivesse o mesmo grau de urgência (o que não é verdade). Se o/a TDAH não for capaz de identificar suas distrações, passará horas, dias, meses e até anos em projetos sem importância alguma. O tratamento evita esse desperdício de tempo e recursos", completa o Psicólogo.

   Para Fábio Tenório, a demora no diagnóstico pode ser usada por múltiplos fatores; como a desinformação e a falta de acesso aos serviços de saúde. "Porém, há um fator que, na minha experiência clínica, mostra-se como o mais frequente: o preconceito", finaliza.
 

TDAH E A SUA RELAÇÃO COM A DEPRESSÃO

   Segundo a Associação Brasileira de Déficit de Atenção (ABDA), estudos apontam que 30% das pessoas com TDAH têm depressão. Em crianças com esse déficit, o risco de desenvolver depressão é 3 vezes maior do que nas crianças sem esse distúrbio. Indivíduos com TDAH e depressão tendem a ser mais ansiosos e com maior comprometimento social e escolar.

   Uma pessoa com TDAH e depressão, pode ter desenvolvido a depressão através dos problemas e consequências do déficit ou a pessoa pode ter as duas patologias de forma independente uma da outra. Problemas de memória, dificuldade em manter-se motivado, dificuldade em finalizar tarefas e problemas no humor. São sintomas comuns de TDAH e depressão.

   Para o especialista Fábio Tenório, a  pessoa com TDAH pode ter depressão porque nota os seus "iguais" ( amigos, pessoas da mesma faixa etária ou familiares) avançando em suas carreiras enquanto ela permanece estagnada. Isso pode levar a sintomas de tristeza acentuados e episódios depressivos. "Já, com relação a ansiedade, no TDAH é 'tudo para ontem'. É comum que pessoas com esse distúrbio tenham algum tipo de transtorno de ansiedade pela pressa/aceleração com qual tratam as questões cotidianas", afirma Fábio Tenório.

   O Psicólogo relata ainda que as pessoas não tem a exata noção se o transtorno de ansiedade ou depressão já estava presente e tiveram seus sintomas acentuados pelo TDAH  ou ocorreu o contrário disso. "Porém é a partir da avaliação que notamos quais os sintomas mais presentes, a qual transtorno ele aponta, se refere e assim fazemos o diagnóstico e planejamos o tratamento", completa.
 

DIA MUNDIAL DO TDAH

   Dia 13 de julho é o dia mundial da consciência do TDAH. Este dia foi criado para lembrar a importância da conscientização sobre esse transtorno, ampliando o acesso ao público de informações sobre o TDAH e os desafios que uma pessoa diagnosticada enfrenta durante a vida. Para Haider, o mais importante é a conscientização. Sem ela, a pessoa não evolui. É preciso estar suprido de informação de altíssima qualidade para identificar os sintomas e poder pedir ajuda.

   A negligência do TDAH pode trazer efeitos deletérios para a saúde da pessoa. O impacto do TDAH não é só para a pessoa, é para o entorno. Um TDAH desregulado vira uma pessoa agressiva, improdutiva, afeta a sua vida financeira e seus relacionamentos. Essas questões comprometem a autoestima da pessoa ao longo da vida, relata Haider.





Referências
Disponível em:
O que é TDAH - Associação Brasileira do Déficit de Atenção
Disponível em:
TDAH no Adulto - algumas estratégias para o dia a dia - Associação Brasileira do Déficit de Atenção
Disponível em:
Tratamento - Associação Brasileira do Déficit de Atenção (tdah.org.br)
Disponível em:
TDAH e o processo de aprendizagem - Associação Brasileira do Déficit de Atenção
 
Link
Tags »
Notícias Relacionadas »
Comentários »