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23/02/2022 às 15h58min - Atualizada em 21/02/2022 às 13h55min

Desafios na pandemia: desemprego, fome e endividamento

Os reflexos econômicos da pandemia nas condições de vida dos brasileiros: desemprego, aumento do endividamento e a fome

Ana Lívia Menezes - Editado por Eduardo V. Schmitt
Crédito: Ana Rayssa
Em 2022, a pandemia está entrando em seu terceiro ano consecutivo e, se por um lado pode-se comemorar o ritmo avançado das vacinações e a retomada da atividade econômica no país, por outro ainda enfrenta um cenário econômico e social fragilizado, que é reflexo da pandemia que levou à deterioração dos indicadores sociais.


Desemprego no Brasil

Os desafios do mercado de trabalho não se resumem ao alto número de desempregados, isto é, as pessoas sem renda que não podem consumir bens e serviços, mas também a qualidade e as condições dos serviços enfrentados pelos brasileiros: aumento do emprego informal, baixos salários e condições precárias.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 2020 terminou com uma taxa média de desemprego de 13,5%; em março de 2021 a taxa de desemprego atingiu um pico de 14,9% no fim do primeiro trimestre. No terceiro trimestre (julho, agosto, setembro), a taxa de desemprego ficou em torno dos 12,6%, a menor em mais de um ano, porém no mesmo período a informalidade atingiu a maior taxa da série histórica. O país terminou o último ano com 13,5 milhões de desempregados.  

Segundo Larissa Ortega, economista pela UFFS, a pandemia intensificou um problema que já existia.
''A economia do nosso país já vinha sendo desafiadora, antes mesmo da pandemia, dada as incertezas que cercavam o cenário e a conduta das políticas econômicas do atual governo, sendo possível ver um aumento significante nos níveis de desemprego.’’

A ineficácia do governo de gerar empregos fez com que uma massa crescente de brasileiros buscassem o emprego informal- segundo o IBGE, mais de 40% dos trabalhadores se encontram nessa situação. A informalidade consiste em trabalhadores sem vínculo empregatício, ou seja, eles não podem recorrer aos direitos trabalhistas, como: auxílio doença, salário mínimo, seguro desemprego e licença maternidade. Larissa pontua, ainda, que o Brasil precisa avançar na formalização do mercado do trabalho, principalmente se analisarnos que a maior parte das áreas informais são precarizadas e com baixos salários.
 
"Uberização" do trabalho
 
A uberização do trabalho é um fenômeno recente que ganhou intensidade a partir da crise de 2008 e se tornou ainda mais presente na pandemia da Covid-19. O nome faz referência aos motoristas da empresa Uber, esta nova relação de trabalho surgiu acompanhada do discurso liberal, sendo um modelo mais flexível,  permitindo maior autonomia ao trabalhador, visto que, os empregados atuam de acordo com a demanda de seus contratantes.


"Este modelo envolve ausência de direitos trabalhistas, estas empresas acabam por não possuir responsabilidades a seus “parceiros”, devido a isto, alguns países, tornaram obrigatório a regulamentação e registros de licenças para essas operações das plataformas. O aspecto positivo deste modelo - fazendo uma comparação com empresas tradicionais -, é o barateamento de custos da uberização, dado que não possuem intermediários, o consumidor consegue pagar mais barato pelo serviço.  Além disso, vende-se a possibilidade de ser tornar um empreendedor com flexibilidade e ter retorno financeiro imediato", conclui Larissa Ortega.



A fome volta a números alarmantes

O cenário da Fome no país enfrenta duas contradições estruturais que acompanharam a história brasileira: a desigualdade social e a dependência econômica de países estrangeiros, ou seja, o problema não está relacionado a produção de alimentos, mas sua distribuição. 

No Brasil, ao mesmo tempo em que exportações do agronegócio brasileiro ganham força, o aumento da fome tem sido uma realidade constante para brasileiros, principalmente quando analisamos o aumento generalizado de preço. Desde 2020, o aumento da fome tem sido muito impactado pela pandemia, sendo que, de acordo com a Penssam (2021), 19 milhões de brasileiros passam fome no Brasil. Em 2014,  o Brasil deixou o Mapa da Fome da ONU, porém quatro anos depois, o POF do IBGE mostrou aumento na quantidade de domicílios em nível de insegurança alimentar, sendo uma consequência dos erros das políticas públicas e do desmantelando das políticas sociais. 

Desta forma, a falta de emprego, alinhada a mão de obra não qualificada e a falta de políticas públicas, levou mais de 116 milhões de brasileiros a enfrentarem algum grau de insegurança alimentar, segundo os indicadores da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Rede Penssan).
 

Endividamento das famílias brasileiras

De acordo com a última edição do Mapa da Inadimplência e Renegociação de Dívidas no Brasil, produzido pelo Serasa, a inadimplência atingiu 63,4 milhões de brasileiros que, juntos, têm 213 milhões de dívidas, com valor médio de R$ 1.189. Além disso, a pesquisa revela que a maior causa do endividamento dos brasileiros é a falta de emprego; pois três em cada dez inadimplentes estão sem trabalho.

Luana Nascimento, formada em Economia, explica a diferença entre endividamento e inadimplência:
''O problema do endividamento se dá quando você não tem capacidade financeira de arcar com essas dívidas. Nem todo endividado é inadimplente, mas todo inadimplente é endividado. A grande diferença entre esses casos está no não pagamento dessas dívidas. Estar endividado é ter obrigações a pagar nos próximos meses e, caso você não pague, você torna-se um inadimplente e fica sujeito à negativação do nome e até ao bloqueio e perda de bens, como nos casos de imóveis e carros financiados.''

Neste momento de crise, o planejamento financeiro é a maior ferramenta para minimizar as dívidas, pois é preciso organizar as economias, cortar gastos e construir uma reserva de emergência. Para quem se encontra inadimplente é necessário quantificar o tamanho da dívida, realizar um planejamento para quitá-la, incluindo o corte de gastos, a renegociação desses valores em aberto, a priorização dessas obrigações (escolher a ordem de quitação destas contas) e, por fim, a responsabilidade em cumprir o planejado.
 
 ''As projeções do Sistema de Expectativas do Banco Central não são boas e indicam que até pelo menos 2025 a taxa de desemprego continuará acima de 10%. Neste contexto, o endividamento segue crescendo e, nem sempre, se dá apenas por falta de organização, mas também por falta de outras oportunidades", alerta Luana.
 
Na avaliação de Luana Nascimento, a fase mais severa da pandemia pode já ter sido superada, no entanto, ainda será necessário lidar com as marcas da pandemia na conjuntura econômica.

''Então, temos pela frente um amplo desafio de neutralizar esta inflação, fomentar o mercado ao ponto de garantir a abertura de novas vagas de emprego, ao mesmo tempo que será necessário lidar com as questões de desigualdade social ampliadas por este cenário, tudo isto, é claro, tentando manter a responsabilidade fiscal''.

Desde a confirmação da pandemia do Coronavírus pela Organização Mundial da Saúde, em março de 2020, todos os setores da sociedade foram afetados e se escancarou ainda mais as mazelas sociais. Atualmente, ainda não se pode mensurar todos as sequelas da pandemia, apesar da retomada do comércio e serviços e do avanço da vacinação, que traz esperança aos brasileiros, esse quadro econômico não deve melhorar tão cedo.


 
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