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06/04/2023 às 18h51min - Atualizada em 06/04/2023 às 18h36min

Endometriose e a importância do diagnóstico precoce para evitar infertilidade e outros problemas de saúde

Por Laira Souza - Editada por Uilson Campos
iStockphoto.com.br
A endometriose é uma afecção complexa e muitas vezes difícil de diagnosticar, porque os sintomas podem variar muito de uma mulher para outra e podem se sobrepor com outras condições médicas. Em algumas mulheres, a endometriose se manifesta de forma grave, enquanto em outras de forma menos perceptível. Além disso, os sintomas podem ser cíclicos e piorar durante a menstruação. Muitas mulheres desconhecem a endometriose e suas implicações, e muitos profissionais de saúde podem não estar familiarizados com a condição. Como resultado, a endometriose pode ser subdiagnosticada ou diagnosticada com atraso. A endometriose pode afetar várias partes do corpo, incluindo o sistema reprodutivo, o trato urinário e o trato gastrointestinal, podendo levar a uma ampla gama de problemas e complicar o prognóstico.

“Endometriose é a saída do tecido endometrial - aquela camada interna do útero, que é descamada todo mês através da menstruação- para fora do órgão podendo se implantar em várias regiões, como nos ovários, no intestino, bexiga entre outros. Esse extravasamento de tecido, causa uma reação inflamatória que pode ser muito pequena, assim como pode ter uma proporção muito grande e isso determinará a intensidade dos sintomas.” Explica o ginecologista e obstetra, Dr. Marcos Tcherniakovsky, que é diretor de comunicação da Sociedade Brasileira de Endometriose.

Ainda segundo o Dr. Marcos Tcherniakovsky, um dos sintomas principais é a cólica menstrual muito intensa. “Geralmente são dores muito fortes e na maioria das vezes incapacitantes, impossibilitando a mulher de exercer as suas funções normais. Outro sintoma é a dor durante a relação sexual, pois muitas vezes essas lesões estão muito próximas da região vaginal, e no ato da relação acaba causando dor, inclusive, com sensações de incômodo e ardência.”
Inchaços abdominais são muito frequentes, assim como dor e/ou sangramento ao urinar na época da menstruação. Também ocorrem alterações intestinais, dor ao evacuar e muitas vezes sangramento nas fezes. Além disso, algumas mulheres podem ter dor pélvica crônica, que persiste por mais de 6 meses.

O diagnóstico é feito através de investigação dos sintomas, por meio da avaliação feita no próprio consultório médico, seguido de exame físico através do toque vaginal. Para se certificar sobre o diagnóstico de endometriose, o médico então solicita exames de imagem, como ultrassom abdominal e pélvico e ressonância magnética. Por isso é muito importante que especialistas se capacitem para que o diagnóstico seja feito o quanto antes.
 Dentre os transtornos causados pela endometriose, a infertilidade ocorre em 30 a 50% das mulheres, levando à dificuldade para engravidar. A infertilidade é mais comum quando a reação inflamatória é muito maior, quando há comprometimento da tuba uterina e do ovário.
 
A importância do diagnóstico precoce

Edilene Isidora da Silva, de 40 anos, relata que sentia muitas cólicas durante o ciclo menstrual, a ponto de precisar tomar medicamentos mais fortes para aliviar a dor. Após passar por vários médicos ginecologistas, que apenas receitaram pílulas anticoncepcionais a fim de reduzir os sintomas, ela viu uma matéria sobre endometriose na televisão e questionou a médica que a acompanhava na época. A médica resolveu então investigar e diagnosticou a endometriose. Edilene conta que foi orientada sobre a possível dificuldade para engravidar, mas que após um ano tentando, ficou grávida da sua primeira filha.

O caso de Cristiane Moreira, de 41 anos, já é mais extremo. Ela recebeu o diagnóstico de endometriose infiltrativa, condição em que o sangue menstrual invade tecidos em torno do útero, causando aderências em órgãos como ovários, intestino e tuba uterina. Ela conta que descobriu quando estava em um estágio bem avançado e que sentia muitas dores durante a relação sexual, cólicas intensas no período menstrual e fora dele, além de dor no quadril que refletia no restante da perna. Cristiane afirma que estava tentando engravidar havia um ano, porém sem sucesso, percebeu que os sintomas estavam aumentando e precisou procurar o serviço de emergência por duas vezes, devido à dor. “A médica ginecologista que me acompanhava afirmava que eu não poderia ter endometriose porque tinha síndrome do ovário policístico, e que por isso não iria investigar os sintomas.” Conta Cristiane.  

Na segunda vez que procurou o Pronto Atendimento de um hospital, Cristiane Moreira foi atendida por outra médica ginecologista que estava de plantão, a qual suspeitou de endometriose e solicitou uma ressonância magnética que comprovou a suspeita. Cristiane precisou passar por uma cirurgia para “limpar” as aderências, sendo necessário a retirada de parte do intestino. Em uma das consultas, a médica explicou que Cristiane precisaria de tratamentos para engravidar, mesmo após a cirurgia. Foi aí que ela recorreu à fertilização in vitro e hoje tem uma filha de 3 anos.

Tratamento individualizado e dados sobre a prevalência da endometriose

 O Dr. Marcos Tcherniakovsky explica que o tratamento é individualizado e dependerá da idade da paciente e da intensidade dos sintomas. “Se é um quadro de dor pélvica crônica, de uma mulher com qualidade de vida alterada, vamos dar preferência para cessar a menstruação, normalmente, com o uso de anticoncepcionais ou qualquer outro hormônio que possa brecar o ciclo menstrual, somado ao anti-inflamatório e analgésico. Esta seria a primeira linha de tratamento clínico. Outras medidas servem para melhorarmos a qualidade de vida, estimulando a atividade física e solicitando acompanhamento com uma nutricionista especializada. Em casos específicos a indicação cirúrgica será necessária e de preferência de forma minimamente invasiva. Nos casos cirúrgicos identificamos todas as aderências existentes e retiramos essas lesões seja nos ovários, no intestino ou em qualquer outro local de forma a eliminar toda a reação inflamatória existente. Situações em que optamos pela retirada do útero são realizadas quando a mulher não mais deseja uma gravidez ou tem a prole já constituída e discutido bem com a paciente.”

A endometriose não é uma situação específica nacional. Trata-se de uma doença que acomete cerca de 10 a 15% de todas as mulheres que menstruam. São cerca de 7 a 8 milhões de mulheres brasileiras e cerca de 200 milhões de mulheres no mundo inteiro. Isso inclui mulheres entre a sua primeira menstruação, que ocorre por volta dos 10/ 11 anos, chamada de menarca, até a última menstruação de uma mulher que varia entre 42 e 55 anos, a menopausa. Por isso, a endometriose é possível em qualquer uma dessas idades. Hoje é muito prevalente o aparecimento de endometriose em adolescentes, mas é na fase adulta que normalmente é dado o diagnóstico. Isso acontece pela falta de acompanhamento ginecológico de rotina, sintomas subestimados tanto pelas mulheres quanto pelos médicos, além de haver em nosso país, poucos centros especializados em endometriose.

É importante que as mulheres conheçam os sintomas da endometriose e saibam quando devem procurar ajuda médica. É necessário difundir informações sobre a endometriose, tanto para as mulheres quanto para os profissionais de saúde.
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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