Mafia: Por que o público feminino se atrai por essas histórias?

O público feminino é o maior consumidor de romances envolvendo mafiosos e situações de violência.

Imagem de Sammy-Sander por Pixabay

As plataformas de leituras online estão mais presentes do que nunca em nosso dia a dia. A facilidade e o custo zero atrai os leitores, porém, o que vem aumentando também é um tipo específico de história. Envolvendo máfia e outras organizações criminosas, são conhecidas como romances darks, devido ao grau de violencia que existe entre os personagens principais. Esse gênero tem tomado conta dessas plataformas, são as histórias mais procuradas, lidas e compartilhadas dentro dos aplicativos. Por que isso acontece?
Quem mais consome esse material é o público feminino, o que chega a ser irônico, devido ao grau de violência contra mulheres. Homens machistas que usam das mulheres ao seu redor em benifício próprio. Podemos fazer uma associação do consumo desse gênero com um vício, segundo o livro Nação Dopamina, da escritora Anna Lembke, a área de prazer e sofrimento do cérebro ficam juntas e isso influencia os nossos vicios, "Ou seja, o prazer e o sofrimento funcionam como dois lados de uma balança." p. 16
Dessa forma podemos compreender que essas leitoras tem essas histórias como um vício, porém não deve ser a realidade de todas que leem, mas devemos considerar essa hipótese. Nos dias de hoje a internet nos proporcionou outros tipos de vícios, pois alimenta o sistema de reconpensa do nosso cérebro. Essas histórias acabam sendo viciantes, buscamos o climax do enredo e quando cehgamos lá a história perde o interesse, e então partimos para a próxima.
"Um dos maiores fatores de risco para se tornar dependente de qualquer droga é o fácil acesso a ela. Quando a obtenção da droga é mais fácil, nossa probabilidade de experimentá-la aumenta. Depois de experimentá-la, ficamos mais propensos a nos tornarmos dependentes dela." p.31
É muito fácil acessar esse conteúdo e por isso o consumo continua crescendo, mas o que leva o público feminino a esse consumo? Difícil dizer, podemos considerar a estrutura da nossa sociedade, patriarcal e machista. Embora o movimento feminista esteja crescendo consederavelmente, a sociedade é dominada por homens, e estamos acostumados a ver as situações retradas nas histórias na vida real. Homens que se acham donos de suas companheiras e fazem com elas o que querem. A maior parte dos enredos, também, trazem a mulher sempre na posição de cuidadora. Em grande maioria sempre vai ter uma mulher para cuidar do "mocinho", e logo depois, uma outra que assume esse cuidado. Eles estão sempre sendo cuidado por mulheres e elas aceitando situações esdrúxulas.
Segundo a psicologa Liliane Alves, "...em todos os filmes ,livros e séries eles romantizam essas relações e focam nas partes "boas" do relacionamento e a pessoa que está lendo ou assistindo de fora talvez nem perceba que a relação é abusiva e viciante."
Essa romantização de sequestros, abusos e violência, traz uma "naturalidade" para quem consome esse conteúdo e uma sensação de familiaridade, pois já estão acostumadas a ler e ver essas situações. Quando questionada sobre sobre uma possível identificação das leitoras dessas obras, Liliane disse "Sim, pois somos produto do meio, essas relações podem estar presente no meio familiar ( e ser normal) e atrativo já que causa dependência, trazendo uma sensação de prazer."
Como citado anteriormente, não podemos dizer que são todas as mulheres que se identificam, porém pode acontecer. E isso tudo acaba sendo "normal" para quem vive essa realidade. 
Tudo o que fazemos e produzimos reflete na nossa sociedade. Com essas narrativas não seria diferente, o ciúme exarcebado sendo alvo de romance é preocupante. Segundo o G1, dez mulheres morrem no Brasil todos os dias vítimas de feminicídio, é um número alarmante. Ter livros que romantizam a violência contra a mulher, muitas vezes escrito por mulheres, é preocupante. "Mesmo estando no século 21. Com a evolução de políticas públicas, campanhas, leis e movimentos favoráveis para a eliminação de causas graves. O ser humano não acompanha. Sendo assim a sociedade é nossa referência."
Apesar dos avanços, não são todos que acompanham esse movimento. Devemos estar atentos a essas histórias, não devemos naturalizar abusos e violências, porque o mundo já está cheio deles. E as maiores vítimas são mulheres. 
"Você tem que aprender a levantar-se da mesa quando o amor não estiver mais sendo servido." Nina Simone