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16/12/2023 às 20h30min - Atualizada em 16/12/2023 às 20h14min

Saúde Mental versus Redes Sociais

Valeska Miranda - Editado por Fernando Azevêdo
Imagem da internet
Alguns podem não saber, mas a rede social que deu início a esse boom de indivíduos conectados mundo à fora foi o ORKUT, a primeira rede social a deslanchar e realmente se destacar aqui no Brasil. A rede foi criada pelo engenheiro turco Orkut Büÿükkokten, em 2004. Sua relevância foi tão grande e significativa que alcançou o número de 30 milhões de brasileiros cadastrados em sua plataforma, alcance que nos colocou em primeiro lugar dentre todos os países. Mas, antes do ORKUT, outras redes sociais foram criadas. Porém, as duas que mais marcaram a história à sua época foram o ORKUT e o Facebook.
 
Atualmente, segundo a Agência Digital Sorlist, os brasileiros gastam, em média, 3h42 nas redes, e somos o terceiro país que mais passa tempo nas redes sociais. Perdendo apenas para a Índia e Indonésia. Em território nacional, com primeiro lugar de acessos está com o WhatsApp, conferindo 169 milhões de usúarios; em segundo lugar vem o YouTube, com 142 milhões; em terceiro, o Instagram, com 113 milhões; em quarto, o Facebook, que, mesmo após muitos anos, segue sendo uma das redes mais acessadas no Brasil, com seus 109 milhões de usuários. O TikTok ocupa a quinta posição, com 82 milhões de usuários.
 
No livro Inteligência Social,  Daniel Goleman relata que, em 2003, as pessoas já encontravam dificuldade em desfrutarem de um tempo juntos: "Para cada hora que as pessoas passam usando a internet, o contato pessoal com amigos, colegas de trabalho e familiares dimimui 24 minutos. Estamos perdendo o contato pessoal. Como diz o líder de estudos sobre a internet, Norman Nie, diretor do Stanford Institute for the Quantitative Study of Society: 'Não podemos receber um abraço e um beijo pela internet'".
 
Recentemente, o site da BBC News Brasil divulgou uma reportagem sobre as centenas de famílias que estão processando as gigantes da tecnologia, que, segundo elas, conscientemente expõem crianças a conteúdos e produtos prejudiciais. Conforme apurado, há relatos em que a dependência de crianças em redes sociais as expôs a conteúdos de automutilação e depressão. Além disso, "o processo contra a Meta – empresa propriétaria do Facebook e Instagram – além do TikTok, do Google e Snap Inc. (dona do Snapchat) é um dos maiores já movidos no Vale do Silício", traz a reportagem. 
 
Pensando nessas questões e no impacto que as redes têm causado na vida de milhares de pessoas, entrevistamos a psicanalista clínica e especialista em Transtornos de Personalidade, Humor e Apredizagem, Mylena da Silva Ferro, 29 anos.

Relato da profissional
 
"As relações interpessoais têm recebido influência significativa com o avanço da tecnologia. Pois, as redes sociais têm uma forma diferente das pessoas interagirem entre si. Com isso, pôde-se perceber que o julgamento alheio se dá pela aparência do outro, na hora que a postagem é visualizada. As interações foram substituídas por um emoji e, na sociedade atual, está tudo bem. Porém, para que o ser humano esteja bem em sua vida mental, uma das situações mais importantes é o contato pessoal, olho no olho, abraços, beijos e uma boa conversa pessoalmente. Dessa forma, podemos perceber o quanto estamos sendo influenciados pelas redes, entretanto, podemos decidir a melhor forma de contato com o outro.
 
Com o uso excessivo das redes, o risco de vício é alto, pois, ao desejarmos ver alguma postagem, seja vídeo ou mensagem, isso nos motiva a olhar mais e mais, sem limites, [ativando] um neurotransmissor chamado dopamina, ele que é um sinalizador químico muito importante para nosso cérebro, responsável pela motivação. Ele nos mostra boas recompensas ao entrarmos em contato com algo; ele será liberado ou permanecerá na área de recompensa por mais tempo e isso resultará em sempre querermos buscar mais e mais [...] Também tem o risco de ansiedade, depressão, todo excesso não é bom para nossa mente.

Segundo pesquisa Ibope (Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística - 2019), dos brasileiros entrevistados, 52% não conseguem ficar um dia inteiro longe do aparelho; 16% diz que o uso de smartphone atrapalha no âmbito profissional; 16% que atrapalha no relacionamento com a família; 12% diz que são afetados ao dirigir pelo recebimento de mensagens; 9% dizem que a saúde é afetada de forma negativa; 8% diz serem afetados no âmbito escolar; 6% diz que atrapalha na vida sexual. 
Devemos estar atentos ao tempo de uso das redes sociais para que possamos viver em equilíbrio e com satisfação. Um levantamento da Comscore mostra que o Brasil é o terceiro país que mais consome redes sociais no mundo. São 131.506 milhões de contas ativas. Dessas, 127,4 milhões são usuários únicos nas redes sociais (96,9%)Devemos acessar as redes sociais com muito cuidado, pois existem grandes riscos à saúde mental.
 
A conexão com pessoas queridas que estão distantes é um benefício das redes sociais, mas não podemos nos privar de nos conectar pessoalmente com as pessoas que amamos. O uso excessivo traz prejuízos visíveis à vida de qualquer pessoa, o foco delas é totalmente voltado para o acessar das redes, por isso é necessário equilibrar o tempo de uso diariamente, e antes de dormir, guardar o aparelho pelo menos uma hora antes para que o neurotransmissor do sono, melatonina, possa não ser afetado pela luz emitida pelo celular, que interfere no sono e na qualidade dele. Estabelecer horários, o mínimo possível do uso das redes, é mais saudável para a saúde mental.
 
Usar as redes de forma limitada nos ajuda a não ficarmos dependentes e aproveitarmos cada momento da vida, ter bons relacionamentos, cumprir com compromissos diários e viver em equilíbrio emocional. Para que possamos viver em satisfação com nossa vida pessoal, precisamos cuidar da nossa saúde mental. Ela é a responsável por nosso bem-estar".

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