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01/05/2020 às 16h15min - Atualizada em 01/05/2020 às 16h15min

O teatro e a arte em tempos de crise

O novo conceito de se fazer arte nesse contexto de pandemia, tem feito com que instituições teatrais criem possibilidades de inovações e formas de reinventa-la.

Larissa Lima - Revisado por Mário Cypriano
Teatro vazio - Reprodução.
A arte revela o potencial de despertar a população para uma vida melhor, uma vez que ela é apresentada como algo que revigora e que pode ser usada como solução aos problemas atuais (Instituto Mpumalanga). E com a nova crise gerada pela Covid-19, o setor cultural tem tido um papel fundamental na vida das pessoas. Durante o isolamento social a população tem aumentado o interesse pelo consumo da arte em seus mais variados seguimentos, seja por meio de livros, filmes, músicas, dança e teatro. No entanto, o mundo artístico também tem sido afetado, uma vez que a cultura é ligada também a economia criativa que gera empregos e rendas. Por este lado, instituições culturais brasileiras têm tomado medidas ágeis como forma de responder seriamente à crise, e para isso, artistas tem procurado se reinventar para descobrir outras formas de atingir seus públicos.

Para se adequar às recomendações exigidas pelo Ministério da Saúde, a produtora cultural Palavra Z começou uma campanha com a iniciativa de combater a Covid-19. A ação intitulada Teatro Online teve por objetivo incentivar o isolamento social, além de entreter à população em tempos de crise. Para isso a produtora passou a disponibilizar atividades culturais, tais como música, ópera, exposição, espetáculos infantis e adultos em suas redes sociais.  

Na sexta semana de exibição o Teatro Online já contou com mais de 60 mil visualizações, alcançando em média 130 espectadores em todo o Brasil ao longo das mais de 20 mil horas de exibição. Segundo o diretor geral do Palavra Z Produções Culturais, Bruno Mariozz, não há fins lucrativos e existe uma logística por trás de todo material fornecido para os internautas. “Esses materiais já existem há tempos e nenhum está sendo gravado agora”, enfatiza. As apresentações não são inéditas, mas não deixa de alcançar e trazer alegria ao público.
               
A ideia inicial do projeto é também dar oportunidade para que outras companhias teatrais disponibilizem seus espetáculos; há um rodízio que acontecem semanalmente. Na sexta-feira (24) o projeto incluiu na programação a Companhia Carioca Atores de Laura, que em 2017 completou bodas de prata. Para exibição foram escolhidos “O filho eterno”, “As artimanhas de Scapino” e “Adultério”. Além disso, o conteúdo também foi composto pelo musical “Clementina Cadê, Você?”, dirigido pela diretora Duda Maia.

Elenco do teatro musical "Clementina Cadê, Você?" - Reprodução. 

A partir de sexta (01) o projeto vai realizar uma Maratona de Espetáculos onde serão exibidos todos os espetáculos que estiveram na programação desde a primeira semana. A programação será aberta sem horários específicos de exibição de 1/05 às 10h, à 03/05 às 00h. O projeto traz ainda uma carga social muito grande que segundo Bruno pode popularizar as mais variadas manifestações culturais.
 

 “A gente está tendo a oportunidade de chegar com o teatro nas pessoas que nunca tiveram acesso”, e aposta, “quando tudo isso acabar, que as pessoas possam sair de casa e frequentar outros espaços de cultura para interação”.


Por outro lado, instituições teatrais locais têm vivido o contexto da pandemia de maneira diferente, isso porque produções artísticas locais não tem muitos recursos como as da capital - que possuem estruturas mais elaboradas. A Companhia Espelunca de Teatro do interior do estado de São Paulo tem pensado em outro conceito do fazer artístico. Embora o início de sua existência (2016) tenha se dado também por motivos de: utilizar a comédia como papel precursor para discutir ações e despertar reflexões do dia a dia, hoje, mais do que nunca, estão utilizando-se do isolamento social para terem momentos de análises de como podem se reinventar em um contexto de pandemia.  Para a atriz, Elaine Dantas, além da arte ser expressão e ampliar a visão crítica, ela consegue trazer segurança. “A gente está vivendo um momento muito angustiante, então por este caminho a arte pode nos confortar”, aponta.

Diferentemente do Palavra Z que tem reproduzido espetáculos nas plataformas digitais, a Companhia Espelunca possui núcleos pedagógicos no qual dão aulas de teatro e compartilham processos voltados ao teatro popular. No período de quarentena, então se reinventando e desenvolvendo suas atividades onlines, tais como as aulas por videoconferências, produção de lives para debates sobre gestão cultural e reuniões do elenco para futuras produções. Para o diretor, ator e arte educador da cia, Mateus Marcello, eles estão usando esse momento para refletir sobre os trabalhos em busca de possibilidades de resistência. Ele afirma ainda, que o elenco tem aprofundado os estudos no trabalho de mesa. “Na correria, muitas vezes, não temos tempo para refletir nas nossas personas, em nossos papéis, então temos utilizado esse momento para estudar a fundo os nossos textos e o que de fato ele pode representar”, relata.

Geralmente as produções artísticas são dependentes de bilheterias e plateia, e com o isolamento social, segundo Elaine, o setor cultural acaba sendo o primeiro a cair e o último a se reerguer. “A união da classe artística, depois da pandemia, vai ser necessário para nos mantermos unidos e incentivar políticas de estímulo à cultura”, reflete. Hoje, mais do que nunca, o desejo de retornar às aulas de ensaio, de reunir o elenco e planejar os espetáculos permanece enquanto vivenciam o contexto de pandemia. Questionamentos quanto ao rumo que os trabalhos vão tomar, reflete a preocupação de muitos artistas. O ator, Guilherme Souza, relata a sensação de sobreviver como artista durante essa época:
 

 “É desafiador trabalhar com o meio virtual, mas acredito que seja uma ferramenta potente”, afirma.


Por outro lado, Mateus, busca se apegar ao conceito de teatro: viver o presente.
 

“Resolvi pensar no agora; me colocar nesse momento de descoberta, reflexão, pode ser que seja um processo muito valioso”, e se questiona, “será que o teatro vai ganhar forma na plataforma digital? ”. 


Elenco da Companhia Espelunca de Teatro - Reprodução.


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