Lab Dicas Jornalismo Publicidade 728x90
10/07/2020 às 10h03min - Atualizada em 10/07/2020 às 09h59min

Lives: uma alternativa para lançar livros em plena pandemia

“A vida é uma tempestade (...) Um dia você está tomando sol e no dia seguinte o mar te lança contra as rochas. O que faz de você um homem é o que você faz quando a tempestade vem” (Alexandre Dumas)

Letícia Franck - Editado por Bruna Araújo
Bárbara Krauss (@bdebarbarie)
Uma nova realidade: esse é o contexto atual. Readaptação, reagendamento, reformulação, reintegração. Por incrível que possa parecer, nossa casa é o lugar em que menos ficamos -se estivermos falando de épocas normais -, é claro. Torna-se necessário pontuar, no entanto, que nosso lar, -a menos que milagrosamente esse vírus acabe de vez -, virou um novo local de trabalho.
 
Certamente, existem pessoas que já realizavam suas tarefas em modo “home office”, mas para muitas toda essa alteração é recente e de certa forma, desconfortante. Quando me refiro a esse termo quero dizer exatamente o sentido literal da palavra: gerar desconforto.
 
No texto de hoje vamos falar sobre como está sendo o processo de adaptação de escritores que estão lançando obras ficcionais em meio à pandemia do novo coronavírus.
 
O Lab Dicas de Jornalismo conversou com o escritor gaúcho Rodrigo Tavares sobre essa diferenciação entre eventos presenciais e eventos on-line (lives). Ele ainda está em processo de lançamento do seu terceiro romance, “Ainda que a terra se abra”, programado para o primeiro semestre deste ano. De sua autoria também vem os já esgotados “Noite escura” (2011) e “Andarilhos” (2017).
 
O escritor comenta sobre os principais desafios dessa “nova modalidade” e como ela pode acarretar ou não na falta de vendas. Em relato, Tavares ainda confessa problemas editoriais e como os livro digitais (eBooks) podem ser uma fuga em meio à tanta paralisação. Tudo isso você confere agora, com exclusividade.
 
Lab Dicas de Jornalismo: Como está sendo, enquanto escritor, essa adaptação à nova rotina de lançamentos virtuais? Sei que você lançou uma obra agora nesse primeiro semestre do ano e todas as sessões de autógrafos, todo esse processo teve que transcorrer de forma virtual.

Rodrigo Tavares: Foi um “baque” assim pra gente, porque o escritor trabalha vários anos num original e quando ele vai lançar um livro, o mínimo que a gente espera é poder fazer um evento, confraternizar, festejar com os amigos, enfim... todo aquele envolvimento que tem num lançamento de livro da “forma normal” acabou sendo tirado da gente esse. Mas a adaptação é tranquila. Eu sou um autor que trabalha muito com as redes sociais, então essa questão de tempo em investimento nas redes sociais, eu teria. Mas é óbvio que eu senti e sinto muita falta das mesas presenciais, das conversas com os amigos, dos abraços, de fazer um autógrafo enquanto eu vejo as pessoas conversando e tirando fotos são uma das coisas ruins que aconteceram nessa pandemia.
 
L: Com alguma exclusividade, conta para o Lab quais os principais desafios dessa nova fase na literatura.

R: Pra mim um dos principais desafios é principalmente para os escritores que não estavam acostumados com essa questão virtual, com esse contato muito direto com os leitores. Hoje o escritor ‘tá’ tendo que ser ainda mais protagonista da sua história, cuidando de praticamente toda a parte da conversa com o público, coordenando tudo isso, enquanto grande parte das editoras estão preocupadas hoje em dia apenas com o trabalho editorial, diagramar livros e fazer o livro nascer enquanto objeto, o resto acaba sendo passado para o escritor, o que é um desafio e um aprendizado pra gente.
 
L: Entendi. Enquanto leitora e uma grande fã da literatura como um todo, tenho acompanhado diversos lançamentos feitos através de lives e percebo que apesar de ter um certo número de pessoas assistindo, sinto o contato meio distante, acho que é mais ou menos como você falou, sobre essa aproximação mais imediata com o público. O retorno tem sido bom ou, enquanto escritor percebes uma realidade mais focada em livros que retratem esses temas de pandemias e não tenham tanto destaque os novos trabalhos que têm surgido em meio a essa fase, mas que não a abordem de certa forma?


R: De fato ‘tá’ tendo muito foco em literatura que não é de ficção, e a gente ‘tá’ tendo um problema muito grande porque as editoras “pisaram no freio”. Livros de ficção sendo lançados são pouquíssimos e tem um pessoal aí dos “independentes” conseguindo lançar, mas de fato os lançamentos estão bem poucos no ramo da ficção: seja porque estejam todas as editoras com medo e seja porque ‘tá’ muito difícil de tu mandar imprimir porque as gráficas não ‘tão’ trabalhando. Então começa e para.
 
L: É sabido que muitos meios de comunicação, principalmente culturais e/ou literários, têm se apropriado de sugestões sobre a pandemia e deixado de lado obras que estão sendo trazidas ao público neste momento, deixando até de incentivar de alguma forma os escritores que vêm fazendo um grande esforço para tentarem manter o nível de trabalho e vendas, como você mesmo muito bem pontuou.

R: Então, como eu lancei meu livro durante a pandemia, que não era o objetivo, ‘tava’ tudo planejado pra gente ter vários eventos, vários lançamentos, acaba que o meu é um dos poucos livros de ficção assim que ‘tá’ sendo lançado e trabalhado agora na pandemia. ‘Tá’ vendendo bem, ‘tá’ sendo lido, talvez até por ser um dos poucos lançados efetivamente em formato físico, mas eu sinto muita falta do contato com o público. A gente ia ter eventos de lançamento e nos foi tirado essas hipóteses, porém o livro “tá andando” super bem, já estamos meio que em um tempo bem recorde acabando a primeira edição aí provavelmente dentro de um ou dois meses, no máximo.
 
L: Em dado momento você diz que estamos vivendo uma “realidade descolada”. Explique isso. 


R: (risos) A realidade faz com que ficcionistas tenham que “suar a camiseta” para conseguir escrever histórias que não percam para as notícias dos jornais. Eu acho que a literatura de ficção pode ser um respiro nesse momento de pandemia, mas o papel do editor dos jornais e dos meios de comunicação, nesse caso, tinha que ser mais forte, de tentar trazer esse respiro pro público, e pelo contrário, tu tem razão nisso que tu falou, o editorial tem buscado temas de pandemia e de polêmica, enfim, e não dando muito espaço pra gente deixar nossa cabeça leve nesse momento. Apesar de entender, acho que a cultura e a arte podiam ser espaços de respiro no dia a dia das pessoas, mas os meios de comunicação não ‘tão’ entendendo dessa forma, infelizmente.
 
L: Você tem alguns eBooks publicados.  Esse formato pode ser uma alternativa em meio à pandemia ou os desafios de chegar ao público tende a ser maior em livros digitais?


R: Então... Eu tenho eBook desde 2011 nas plataformas digitais, o “Noite escura” eu lancei ele muito cedo e era algo que na época tinha muito pouco engajamento e hoje é uma das minhas maiores fontes de leitura, então eu acho que já temos uma boa quantidade de leitores de livros em formato digital, e acho que é uma boa alternativa sim, tanto para os autores, principalmente os iniciantes, para não terem que fazer investimento alto para lançarem seus livros e tanto para os leitores que já estão adaptados e gostando dessa plataforma, principalmente aqueles que possuem já um aplicativo próprio pra isso, como um ‘Kobo’ ou um ‘Kindle’, porque ainda a experiência de ler nesses aparelhos específicos nesses aparelhos para leitura é muito melhor do que ler num celular.
 
L: Decerto. Conta para nós como anda tua rotina com os lançamentos on-line do teu novo trabalho e o que pretendes fazer assim que toda essa pandemia acabar.

R: A rotina ‘tá’ complicada (risos), mas ‘tô’ conseguindo vencer um pouco disso a cada leitura do livro, a cada resenha nova que sai, dá um ânimo pra ver que tem alguma coisa boa guardada pro livro. Já tive dois eventos de lançamento on-line, pretendo assim que possível marcar algum evento, não sei se vou chamar de “lançamento”, mas uma comemoração, um bate-papo com pessoas que já leram, enfim, mas visando exclusivamente a comemoração por vencer esse período difícil, por conseguir fazer a história chegar a novos leitores e comemorarmos o momento de podermos estar juntos novamente, que é o que eu acho que todos nós estamos esperando.
 
L: Com certeza estamos. Você já tem algum novo projeto em andamento ou ainda é muito cedo para nos adiantar algo?

R: Eu tenho umas duas ou três ideias que ainda não posso dizer bem que são projetos em andamento. Como eu trabalho com narrativas longas, antes de eu começar a estudar eu fico pensando, deixando algumas dessas ideias amadurecer a ponto de achar que já ‘tá’ no momento de escrever, então eu tenho um período de pouca produção escrita, eu fico lendo muito pra me inspirar. Esse ano eu ‘tô tocando’ o projeto do lançamento do livro e fazendo minhas tarefas de produtor de eventos. Nesse meio tempo eu tenho que fazer o livro novo acontecer, tenho ideias em andamento, mas ainda não sei qual é a que vai vingar.

 
Link
Notícias Relacionadas »
Comentários »