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16/07/2020 às 14h08min - Atualizada em 16/07/2020 às 13h58min

Opinião: O Campeonato Carioca acabou, mas tem que acabar

Mais uma edição conturbada do Estadual traz à tona discussão sobre extinção do torneio

Elison Lima
Fala icônica de Fred ainda encontra razão nos dias de hoje (Foto: Twitter PES Mil Grau)
O título pareceu um pouco confuso, leitor? Eu vou explicar pra você. Nesta quarta-feira (15), a edição do Campeonato Carioca de 2020 teve seu desfecho com o merecido título do Flamengo, após duas vitórias nos jogos decisivos contra um Fluminense, que chegou a ser aguerrido, mas sucumbiu perante a melhor time. Mesmo que o rubro-negro não tenha apresentado o desempenho que costuma ter.

Pois bem, o gol solitário de Vitinho no Maracanã deu um ponto final a mais um  estadual conturbado. Os mandos e desmandos costumeiros da FERJ (Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro) tiveram a adição de um ingrediente inesperado: a pandemia da Covid-19, que paralisou o campeonato. Mas a maior crise sanitária dos últimos cem anos trouxe à tona discussões maiores sobre o retorno do campeonato, com decretos impostos e retirados no mesmo dia, jogos confirmados e cancelados em menos de 24 horas... O que já era caótico ficou muito pior.

O Campeonato Carioca acabou, mas precisa acabar. Peço licença ao atacante Fred que, em 2015, havia proferido uma das frases mais marcantes e que sempre é lembrada, não só por torcedores tricolores:

“O Carioca tem que acabar!”

Sempre fui um defensor do Estadual. Mas, há anos, a FERJ desvaloriza o seu produto para benefício próprio. Jogos com baixo apelo, deficitários, fracasso de público. Este é o painel do Carioca nas últimas edições. O torneio só empolga nos clássicos e nas finais. Não gostaria, num primeiro momento, que o campeonato simplesmente acabasse, devido à falta de um calendário que mantivesse os pequenos jogando durante um tempo. Era a favor de uma reformulação, com menos datas e com os quatro grandes jogando numa reta final.

COISAS DE CAMPEONATO CARIOCA

A edição deste ano trouxe velhos vícios e novidades desagradáveis. Jogos desinteressantes em estádios acanhados e sem qualquer tipo de estrutura nem para televisionamento são constantes e não foram exceções em 2020. Mas resoluções ainda piores estariam por vir.

A realização de todos os jogos do Flamengo no Maracanã mostrou o desnivelamento do campeonato. Sim, o Fla não tem culpa da venda do mando pelos clubes pequenos para gerar receita, mas, mesmo em meio a pandemia – e consequentemente, estádios vazios – a situação tornou-se corriqueira.

O retorno das partidas em meio a um período de alta no número de mortes pela COVID-19 foi um dos principais palcos de vergonha. Decretos feitos pelo prefeito Marcelo Crivella liberaram jogos em um primeiro momento, porém, horas depois foram desautorizados, só apenas restringindo jogos de Botafogo e Fluminense, clubes que entraram em confronto com a Federação. Aliás, este é um ponto essencial do Carioca-2020.

Dos 14 clubes integrantes do campeonato, apenas Bota e Flu foram contra o retorno. Tal posicionamento gerou críticas de lado a lado. Pelo lado dos clubes favoráveis, que venceram a guerra e pelos dois contrários ao serem forçados a retomar os jogos. Protestos foram vistos com faixas e declarações contra a federação carioca, que logo reagiu. Punições foram impostas ao técnico do Botafogo, Paulo Autuori, por falas críticas. A Ferj chegou ao cúmulo de entrar na Justiça contra o alvinegro e o tricolor acusando os clubes de estarem fazendo um “chilique” ao se posicionarem ativamente contra as decisões da Federação.

Outro caso caótico foi a rescisão do contrato dos direitos de transmissão por parte da Globo, que deixou algumas partidas da reta final fora da TV aberta. Ponto para os canais de clubes, que puderam ter transmissões próprias e o SBT, grande rival do canal carioca, que venceu na audiência no segundo da final em alguns estados. A decisão da MP 984, que autoriza os clubes a transmitirem seus jogos, também foi polêmica por envolver o meio político, principalmente o presidente Jair Bolsonaro, após pedido dos presidentes Rodolfo Landim e Alexandre Campello, de Flamengo e Vasco, respectivamente.

Mandos, desmandos, show de desorganização. Fred estava realmente certo.


* Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião de outros redatores e editores do Lab dicas Jornalismo 

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