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27/08/2020 às 09h11min - Atualizada em 27/08/2020 às 09h11min

Representatividade negra na moda: espontaneidade ou cumprimento de cotas?

Modelos usam movimentos negros para denunciar racismo sofrido nos bastidores

Franciele Oliveira e Larissa Barros
Fernando Frasão / Agência Brasil

A representatividade na moda está sendo mais perceptível nos últimos anos, principalmente com a escolha de modelos de diferentes corpos, cores e etnias. Em 2019, as passarelas do São Paulo Fashion Week (SPFW ) trouxeram  modelos afrodescendentes como destaque no último dia de evento. Dessa forma, vale questionar se essa diversidade no casting (seleção de modelos) estaria sendo motivada de forma espontânea ou apenas para o cumprimento de cotas.


Em 2009, o Ministério Público de São Paulo (MP-SP) fechou um um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com a empresa responsável pela organização do SPFW, a Luminosidade Marketing & Produções Ltda, para incentivar a inclusão social nos desfiles; Com isso, as marcas que participassem do evento deveriam garantir a presença de, no mínimo, 10% de modelos negros ou de descendência indígena.

 
  Quase 10 anos após o acordo, a edição da Semana de Moda paulista do ano passado foi considerada a mais inclusiva, por causa da participação dos modelos afrodescendentes. Em nota, a organização do evento destacou que entre as sete modelos que mais desfilaram na passarela durante a temporada quatro eram negras. Entre elas, está a top model maranhense Amira Pinheiro, 24 anos. Além de ser  reconhecida internacionalmente, ela foi a recordista da temporada, somando 22 desfiles durante a temporada.
 

Mesmo com um dos maiores eventos de moda do Brasil exibindo a inclusão social, pessoas pretas que tentam entrar para esse mercado, ou que já estão nele, relatam que existe muito preconceito nesse ramo, tanto por parte das agências, quanto de estilistas.

 

Em entrevista para o Lab Dicas Jornalismo, a modelo sergipana Eduarda Vieira, afirmou que durante sua experiência como modelo presenciou muito preconceito nos bastidores por ser uma modelo preta. “As mulheres nordestinas negras não se veem representadas, mas acredito que as brancas sim, já que a moda por si só é racista” comenta ela.

“O mercado da moda no Brasil realmente tem muito a melhorar e a representar. Como a moda em si ainda é embranquecida, o agradável sempre vai ser o que chegar mais próximo do branco. Internacionalmente existem sim muitas marcas com bastante representatividade, mas em relação a estética ainda sim são preferidos traços finos”, destaca Eduarda.

Alguns movimentos que lutam por mais representatividade e igualdade na moda utilizam as redes sociais para discutir sobre o tema. O instagram Pretos na Moda (plataforma que une o movimento entre criativos e modelos negros) abre espaço para modelos afrodescendentes relatarem os preconceitos sofridos diariamente nessa indústria, com os depoimentos sendo publicados em anonimato para evitar represálias. Além disso, algumas pessoas fazem desabafos sobre terem desistido de trabalhar em agências por não aguentarem o “conforto de grandes donos de agência serem racistas” ou ouvir que estavam “escurecendo o lugar e tirando o glamour”.

 

“Meninas negras que tiveram de tirar a blusa e mostrar os dentes para o estilista olhar e dizer que eram ‘brancas’, pois, tinham o peito duro, o dente branco e o cabelo liso. Outras que só conseguiram entrar [no evento] quando a marca percebeu, na hora do desfile, que faltavam meninas para a cota”, disse um modelo sem se identificar.

Existem incontáveis relatos sobre preconceitos e a falta de diversidades em agências e eventos. No entanto, não só de forma obrigatória, mas também natural, já é possível observar pelas mídias que está se formando uma consciência sobre inclusão, seja com modelos afrodescendentes ou de ascendência indígena.

 

Apesar de todos os obstáculos e preconceitos, muitos jovens ainda mantêm o sonho e buscam chegar ao topo. “Decidi investir pois eu gosto do meio e acreditava que eu tinha vocação”, finaliza Eduarda.


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