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10/10/2020 às 07h50min - Atualizada em 10/10/2020 às 07h31min

Eleições 2020 | Diversidade está presente no pleito eleitoral do país

Candidaturas tem recorde de mulheres registradas e pela 1° vez, mais pessoas negras do que brancas

Ana Paula Cardoso - Editado por Caroline Gonçalves
Foto: Joa_Souza / Divulgação: Getty Images
Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), neste ano, as mulheres são 33,1% dos candidatos. Quanto aos negros, representam 49,87% comparados aos 47,77% de brancos. Sendo estes valores, maiores do que os apresentados em 2016.

Mulheres e negros são a maioria da população, e o crescimento no número destes candidatos representa a luta por uma verdadeira mudança na representatividade e nos espaços de poder.

“A representatividade na política é importante, mas, não necessariamente significa avançar na ampliação de políticas afirmativas. Somos um partido que defende que o princípio de raça e classe é indissociável, pois não basta ser só negro, LGBT e mulher. É preciso estar ligado aos interesses da classe trabalhadora e do povo pobre”, afirma o candidato a prefeito de Belo Horizonte Wanderson Rocha (PSTU). Ele é formado em pedagogia pela UEMG (Universidade do Estado de Minas Gerais) e mestre em sociologia pela UC (Universidade de Coimbra) em Portugal.

 
“Ser escolhido pelo PSTU para defender um programa revolucionário e socialista traz um orgulho e, ao mesmo tempo, um desafio enorme diante da atual conjuntura mundial”, destaca.


 
Segundo ele, neste sistema capitalista em que vivemos, o domínio é do poder econômico que nos divide através da opressão e da exploração. Dessa maneira, ele defende que “não podemos aceitar financiamento de banqueiros e grandes empresários na eleição, não podemos ser uma espécie de troféu, eles não fazem doação à toa”, diz Wanderson.

O candidato a prefeito de BH ressalta que o seu partido é o que apresenta maior participação de negras e negros na eleição municipal, apesar disso, estão fora dos debates. “Fomos cerceados de apresentar o nosso programa e nossas propostas e isso traz como consequência um veto ideológico e o fortalecimento do racismo institucional”, conta.
“A indignação também se dá com movimentos que se dizem antirracistas, mas que ficam em silêncio com o cerceamento das candidaturas negras do PSTU neste processo eleitoral. A divergência política não pode ser maior do que a luta contra o racismo”, enfatiza Wanderson.
 
 “Infelizmente ainda temos que lutar muito por igualdade, para que as pessoas não nos limitem pela nossa identidade de gênero ou pela orientação sexual, se para as mulheres cisgêneros já é algo difícil, imagine para travestis e transexuais. Desconstruir isso no mundo da política é muito difícil e complicado”, relata Renata Peron (PODEMOS), mulher trans, paraibana, assistente social e candidata à vereadora em São Paulo.
“Durante esta campanha ainda não aconteceu, mas na passada, fui xingada enquanto estava nas ruas discursando sobre a importância da representatividade trans. Ainda não vi porque não sai nas ruas como eu sai das outras vezes, porque estou deixando para fazer isso nos últimos dias de campanha, então certamente receberei xingamentos, mas os olhares e os preconceitos velados eu carrego durante a vida, em todos os lugares”, diz Renata.
Segundo ela, o que lhe motivou a continuar na política, foram os votos expressivos que recebeu na outra eleição como deputada federal “defendo um Estado de bem-estar social, onde todas as pessoas, sejam elas negras, indígenas, quilombolas, população LGBTQI+, pessoas das periferias ou em situação de rua, que o Estado lhes forneça políticas de inclusão”, defende.



Ao falar sobre as chamadas candidaturas ‘laranjas’, ela afirma que “infelizmente isso é uma praga que vai seguir os mandatos durante muitos anos, porque a gente, o povão, ainda não entendeu que estando dentro de partidos e cobrando o posicionamento lá de dentro, podemos ir eliminando essa praga que é a corrupção, muitas mulheres e homens entram para cargos políticos apenas e somente para serem laranjas”, esclarece Peron.

Mulher negra, nordestina, periférica e feminista, bacharela em Comunicação Social, criadora do MUCB (Mulheres Unidas Contra Bolsonaro) grupo que criou o movimento ‘Ele Não’ e uma das fundadoras do Levante das ‘Mulheres derrubam Bolsonaro’, Ludimilla Teixeira (PSOL)  é candidata a vereadora em Salvador.
 
Nascida no bairro do Uruguai e criada no bairro de Cajazeiras, periferias pobres da cidade. Ela conta que sua vida nunca foi fácil e diz que a militância de uma menina negra começa muito cedo, desde sua própria existência, ao próprio cabelo, a ter direito a cidade e para garantir seu direito de ir e vir nos transportes públicos, sempre cheios e precários.



“Acredito que as mulheres, principalmente as negras como eu, precisam participar da política de forma mais ativa e mudar essa estrutura patriarcal e eugênica que nos impuseram. Resolvi ser mais uma opção ao cargo de vereança porque acredito ser possível um projeto que priorize a população já tão precarizada, quero ajudar nessa transformação e ajudar a arrumar e cuidar dessa cidade tão negra e desigual”, afirma.

Segundo ela, sofre muitos ataques de haters, boots (robôs) e perfis falsos nas redes sociais, principalmente no Facebook “as ofensas variam desde me mandar lavar os pratos a ameaças reais de violência e injúrias racistas”, expõe Ludimilla.
“Devemos lutar por um novo modelo de sociedade ecossocialista, que valorize os direitos humanos e lute verdadeiramente contra as injustiças sociais e todas as formas de opressão e preconceito”, defende.
 
“Precisamos adentrar em todos os poderes, legislativo, executivo e judiciário, nos comandos das esferas públicas e privadas e todos os espaços de poder e decisão. Para assim, garantir a política de cotas e ainda mais programas sociais de reparação da escravidão sofrida por nossos ancestrais, que nos colocou em desvantagem histórica em relação a população não negra”, declara Teixeira.

Mulher, indígena, socióloga e candidata a vereadora em São Paulo, Pagu Rodrigues (PT) é militante a 24 anos em algumas causas sociais, dentre elas, luta por moradia, melhores condições de vida nas periferias. Além disso, é ativista ambiental e faz parte do movimento feminista.



“Muita gente acha que por eu ser indígena eu só posso discutir única e exclusivamente os aldeamentos Guarani que existem na cidade, que eu não tenho um projeto para São Paulo, para debater como um todo, desde as questões urbanas, meio ambiente, política de trabalho e renda”, diz.

Ela relata que uma das maiores dificuldades que tem enfrentado na sua candidatura nos aspectos do racismo e da violência de gênero, é não ser ouvida diante das decisões que toma no seu próprio processo de campanha “geralmente sou atropelada por processos partidários de outros homens que não conseguem de fato aceitar que uma mulher indígena pode ocupar um espaço de liderança”, afirma Pagu.
“Ainda existe um desencorajamento muito alto em relação a participação de mulheres na política, embora tenhamos um grande número de mulheres inscritas para concorrer nessas eleições. Sabemos que isso começa desde a inscrição, passando pela dificuldade financeira, dá falta de apoio partidário, até o estimulo ao voto para que as pessoas votem concretamente e elejam mulheres”, ressalta.

Ademais, ainda existe o racismo sofrido por ser indígena “o racismo se manifesta nas maneiras de tratar a gente como se fossemos ignorantes, como se os nossos costumes fossem feios, como se fosse vergonhoso entrar em espaços vestindo nossos adereços”, expõe Pagu.
“E tudo isso, passa a ser uma motivação para desqualificar a nossa presença nesses espaços políticos”, esclarece.

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REFERÊNCIAS:
Ig. TSE indica recorde de candidatos negros e mulheres em 2020. Último Segundo. 28/9/2020. Disponível em: https://ultimosegundo.ig.com.br/politica/2020-09-28/tse-indica-recorde-de-candidatos-negros-e-mulheres-em-2020.html.amp. Acesso em: 4/10/2020.




 

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