Por anos as mulheres estiveram acorrentadas ao estereótipo do cabelo longo, como se ser feminina só fosse possível quando os fios estivessem tal como os da Rapunzel. Entretanto, o cenário tem se alterado após o surgimento de movimentos vindos de hashtags como Girls with shaved head e Buzz Cut Girl, com mais de 260 e 70 mil publicações no Instagram, respectivamente. Sem ser acompanhado por feminino ou masculino, o cabelo raspado agora é um corte.
O filme Felicidade por um fio (2018), disponível na plataforma de streaming Netflix, é um ótimo exemplo sobre o empoderamento do buzz cut. Após anos tendo que enfrentar químicas e mais químicas para manter o cabelo, antes crespo, em um padrão considerado aceitável de antiga sociedade, sente-se livre somente depois de uma noite alcoólica que a levou a raspar seus fios.
Para Caroline Vilariça, 24 anos, influenciadora digital e participante ativa do movimento, é interessante ressaltar que as mulheres adeptas ao movimento têm cabelo raspado por escolha e gosto, e que não há problema, e não é errado gostar de cabelo raspado por ser mulher. "Cabelo cresce. Quero transformar esse corte numa atitude tão normal quanto optar por qualquer outro corte de cabelo", disse.
Sobre os preconceitos e inseguranças, Caroline conta que nunca sentiu-se insegura com o cabelo raspado, "até começar a ouvir opiniões não solicitadas". Como todo ser humano, ela também já precisou lidar com esses preconceitos, mas, hoje com um bom filtro e determinada a ser dona da própria vida, ela afirma não se importar mais. Além disso, ela explica como lida com comentários do tipo:
"Penso sempre que não preciso agradar as pessoas com minha aparência. Se meu jeito e valores não são necessários, então essa pessoa não é necessária na minha vida. Bloqueio todo discurso de ódio que não agrega pra mim. Minha saúde e felicidade dependem disso!"
É fato, ainda, que as polêmicas relacionadas ao cabelo feminino são um problema há tempos. Por décadas, o cabelo curto também poderia ser definido como corte “joãozinho”, termo que, hoje, já é um tanto ultrapassado. Por que definir como masculino um corte feito no público feminino? Como uma resolução do problema, o termo pixie tem funcionado melhor, além de englobar ambos os públicos.
Além de elevar o empoderamento, a autoestima e a confiança das mulheres, o buzz cut também traz à tona um tema sensível: as mulheres que precisam raspar seu cabelo devido aos problemas de saúde. A novela Laços de Família, que está sendo reprisada pela TV Globo, conta a história de Camila (Carolina Dieckmann), uma jovem estudante que ao enfrentar as quimioterapias em um tratamento de câncer, precisa raspar os fios.