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07/04/2021 às 18h29min - Atualizada em 22/03/2021 às 18h16min

Lela Brandão Co - Entrevista com a criadora da loja virtual que exalta criatividade e conforto

"Se algum dia a camisa apertasse, eu tinha perdido a competição", conta Lela Brandão sobre os motivos que incentivaram a criação da loja virtual

Maria Fernanda Melo - Editado por Daniel Magalhães
Arte: Maria Fernanda/ Foto: Reprodução/Instagram
Ela é plural: arquiteta, criadora de conteúdo, artista e empresária. Lela Brandão, 27 anos, viu, através do seu guarda-roupa, uma oportunidade de trazer às mulheres conforto e estilo nas peças produzidas e comercializadas na loja virtual Lela Brandão Co. Mas não é de agora que o feminismo está presente na sua rotina. 

Durante a faculdade de arquitetura e urbanismo, Lela fundou, junto com uma amiga, a comunidade feminista Coletivo Zaha. Além disso, a social media busca criar diálogos e debater sobre a necessidade de uma realidade feminina mais confortável, através de seu perfil pessoal.


Na entrevista abaixo, conheça um pouco sobre os motivos e experiências que estimularam a influenciadora a criar seu e-commerce. Entenda, também, como ela trouxe seus ideais para uma marca que une criatividade e conforto.

Maria Fernanda: O que te motivou a criar a lelabrandão.co? Existem experiências pessoais, como não encontrar peças confortáveis, que influenciaram nessa decisão?  
Lela Brandão: A ideia veio por conta de uma amiga que engravidou esse ano. Ela desabafou que nenhuma roupa estava cabendo mais e ela teria que comprar novas peças. Na época, eu comecei a buscar por soluções. Percebi que, talvez, se ela tivesse algumas roupas do meu armário, ela não teria esse problema. Entendi que, inconscientemente, ao longo dos anos, mudei meu jeito de vestir e passei a aceitar apenas roupas que não me limitassem, e que se adaptassem ao meu corpo e as minhas fases. Levei essa questão para a análise. Percebi que essa mudança no meu jeito de me vestir está diretamente ligada ao meu processo de aceitação com o meu corpo. Sofri alguns distúrbios alimentares na minha pré-adolescência, como anorexia, bulimia, dismorfia, e nessa fase eu usava as roupas como ferramentas para competir comigo mesma. Se a calça não estivesse cada dia mais larga, eu havia falhado. Se algum dia a camisa apertasse, eu tinha perdido a competição. Ao longo dos anos, fui transformando o meu guarda-roupa e aceitando apenas peças que me servissem, que se adaptassem às minhas transformações, que não me cobrassem de servir nelas. Foi assim que surgiu a ideia de criar uma marca que reunisse todas essas possibilidades e formas de relação com o corpo em um só espaço.  

MF: Hoje, estar na moda é um ato político para algumas pessoas. Em sua opinião, por que uma mulher confortável é uma revolução?
LB: Acredito que qualquer mulher que busca se sentir confortável no próprio corpo possa se identificar com o meu propósito. A mulher que se reconhece, quando conto sobre uma situação em que alguma peça de roupa te deixou triste por não servir mais, e que procura uma forma mais respeitosa de tratar o corpo; a mulher que tenta resistir à indústria da moda que pede que a gente seja cada vez menor, que nos obriga a usar peças desconfortáveis – muitas vezes feitas em escalas enormes e exploratórias – para assim conseguir pertencer. Quando a gente se recusa a se sentir desconfortável e inadequada, se recusa a colocar nossos corpos em roupas que apertam, incomodam, machucam, e começa a tratar nosso corpo com respeito, isso é uma pequena grande revolução. 

 
"Chamamos nossas peças de adaptáveis, porque elas não limitam o corpo, elas se adaptam a ele, e abrigam as mudanças dos corpos, como acontece, por exemplo, durante um ciclo menstrual. Ao compreender que a roupa que deve caber em você, e não você na roupa, pode acreditar: tudo muda."


MF: Como vestir uma peça confortável pode ser um grande passo para que mulheres que se sentiam presas ou obrigadas a usar peças apertadas,ou que machucassem o corpo, sintam-se livres desse estereótipo, sobretudo no pós-pandemia?  
LB: A pandemia nos mostrou como gostaríamos de nos vestir se ninguém estivesse vendo, e tenho certeza de que todo mundo tem alguma peça no armário que costumava usar com muita frequência que deve estar encostada nesse último ano, porque não vê sentido em ficar desconfortável dentro de casa. É isso que a gente cria na Lela Brandão Co.: peças que você tenha vontade de usar dentro e fora de casa, que transitem entre o dentro e o fora, que você não precise tirar quando chegar em casa. Chamamos nossas peças de adaptáveis, porque elas não limitam o corpo, elas se adaptam a ele, e abrigam as mudanças dos corpos, como acontece, por exemplo, durante um ciclo menstrual. Ao compreender que a roupa que deve caber em você, e não você na roupa, pode acreditar: tudo muda. 

MF: O feminismo está nas nossas pequenas e grandes atitudes. Dessa forma, como você acredita que as peças da Leabrandão.co levam esse movimento às mulheres?  
LB: O feminismo está na base da Lela Brandão Co., desde como pensamos as modelagens, a escolha da grade de tamanhos pensada para corpos reais, a comunicação, nossa forma de trabalho, a diversidade como regra na contratação de funcionárias, a remuneração justa de todas as mulheres envolvidas na cadeia de produção, a criação de conteúdo que questiona padrões da nossa sociedade, a escolha das modelos, tudo é reflexo de uma marca com valores feministas em sua base. Além do funcionamento da empresa, nosso objetivo é promover para nossas clientes e nossa comunidade uma relação mais respeitosa com seus próprios corpos e consigo mesmas, e isso é feito através das peças, das reflexões que levantamos, e todos os pontos de contato da marca. Recebemos, quase diariamente, relatos de clientes que se questionaram e decidiram abandonar peças que não respeitem os seus corpos, abandonar marcas que não condizem com o que elas acreditam, que adotaram um comportamento de consumo mais alinhado com sua essência, e, não raro, sentiram uma transformação na relação com seus corpos. Por meio desses relatos, nos motivamos a continuar criando!


 

 



 
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