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29/06/2021 às 19h11min - Atualizada em 29/06/2021 às 18h45min

O fim das Angels: Victoria’s Secrets finalmente abraça a ideia da inclusão, diversidade e empoderamento

A grife, após tantas denúncias, apelos e queda nas vendas de seus produtos, decidiu aumentar o leque de modelos. Seria apenas uma estratégia ou a marca realmente evoluiu?

Desirèe Assis - Editado por Clara Molter Bertolot
Incluir modelos de diferentes corpos na vitrine de empresas é um passo em direção a fomentar a importância do empoderamento feminino e o amor próprio | Ilustração/Desirèe Assis

08 de novembro de 2018. A data marca o fim de uma era: o último desfile da Victória’s Secret (VS) nos moldes conhecidos - muito brilho, glamour, sensualidade, lingeries elaboradas e um padrão único de corpo: o magro e objetificado. Apesar de ter sido um dos desfiles de maior sucesso durante mais de 20 anos, a 23ª edição alcançou a menor audiência de todos

 

De acordo com o G1, em 2014, a marca atraiu 9 milhões de espectadores. Em 2018, apenas 3,3 milhões. A justificativa é simples: mesmo atuando no mercado desde 1977, a grife resiste em acreditar que nem todas as mulheres pesam 45 quilos. 

 

A empresa mágica na qual todas as supermodelos ganham asas, se viu encurralada pela pressão exercida, já que o público anseia por diversidade, até então pouco abraçada. 

 

A busca por se tornar uma marca mais inclusiva e a necessidade de voltar ao mercado fizeram com que a direção da Victória’s Secrets se reunisse e tomasse uma importante e impactante decisão: a superação de modelos magérrimas e objetificadas por mulheres com corpos reais

 

Os fins justificam os meios

 

A nova estratégia para voltar aos holofotes começa com a troca das “Angles” por um time de mulheres empoderadas e diversas intitulado Collective. No próprio Instagram, a marca anunciou que, com essa parceria, criarão coleções revolucionárias de produtos, além de conteúdos atraentes e inspiradores

 

Juntas, as sete mulheres - Megan Rapinoe, atleta de futebol, a atriz Priyanka Chopra, a jornalista Amanda de Cadenet, a modelo plus size Paloma Elsesser, a modelo trans e ativista LGBTQIA+ brasileira Valentina Sampaio, a esquiadora chinesa e modelo Eileen Gu e Adut Akech, refugiada sudanesa -, escolhidas para representar a VS nessa “nova fase”, irão aparecer em anúncios e compartilhar suas histórias em um podcast.

 

“Quando o mundo estava mudando, demoramos muito para responder. Precisávamos deixar de ser sobre o que os homens querem e ser sobre o que as mulheres querem”, diz o CEO, Martin Waters, em entrevista ao The New York Times

 

As expectativas para essa mudança estão elevadas, afinal é significativa para uma grife de lingeries que por tantos anos ignorou o comportamento feminino e as denúncias de cultura corporativa misógina e gordofóbica

 

Andrezza Machado, criadora da empresa de lingeries Intimiss, cujo slogan é “Vista-se de si mesma”, acredita que esse movimento gera tanto uma desconfiança do público, quanto uma sensação de acolhimento:

 

"No meu ponto de vista, acredito que tem os dois lados da moeda. O público que por tanto tempo foi ignorado se sentirá abraçado agora. Ao mesmo tempo, grande parte das pessoas, analisando o comportamento da VS, enxerga o quanto os padrões estão enraizados na cultura e continuará desconfiando e escolhendo outras marcas”, afirma Andrezza.


O abraço a diversidade 

 

Se por um lado é uma estratégia para retomada dos desfiles anuais e para colocar uma “pedra” em cima das acusações de sexismo, por outro, a reestruturação da marca VS e o abandono de um padrão único de beleza refletem na indústria da moda como um todo, além de influenciar positivamente na autoestima das mulheres. 

 

As consumidoras, que antes tentavam atingir o padrão angelical, vão poder se reconhecer em modelos diversas, com corpos reais. Curvas, tons de pele, gênero e sexualidade: pautas inimagináveis para o que era o Victoria’s Secrets Fashion Show, desfilarão em nome da marca, trazendo o real significado da palavra diversidade

 

Com esse posicionamento, outras empresas podem aderir ao movimento de inclusão. Em entrevista, Priscila Buosi comenta que, por ser uma mulher considerada gorda, encontra dificuldade em encontrar roupas que lhe sirva, com bom caimento: 

 

“Como uma mulher gorda, meu corpo está “fora do padrão” imposto e, por isso, é uma grande dificuldade achar roupas. Com essas mudanças, as empresas passam a observar que as pessoas são diferentes”, fala Priscila.

 

Para se amar: lingeries aumentam vínculo com o corpo 

 

A luta pela sobrevivência da Victoria's Secret está apenas no começo. Por ter uma visão tão limitada do mercado de lingeries, a grife tenta, aos poucos, se adequar às novas demandas. 

 

O problema vai muito além dos desfiles. A identificação das consumidoras com a marca também tem a ver com conciliar a ampliação do leque de mulheres diferentes, que serão representantes da marca, com a grade de tamanhos

 

As lingeries são peças que estão associadas à relação com o corpo e com a autoestima. Investir em diferentes tamanhos é também valorizar cada uma dessas mulheres, ajudando no seu processo de reconhecimento dentro da sociedade, ao invés de trazer esse sentimento de que nós devemos nos transformar para “caber” naquela peça”, explica Andrezza.

 

A indústria da moda como um todo vem ressignificando o que é ser sexy. A Victoria’s Secret estava presa em um conceito ultrapassado, cujo valor rodeava apenas um único padrão de beleza. Hoje, o que é bonito e sensual vem muito mais da confiança em se sentir confortável e bem na própria pele

 

Não à toa, Jo Lynch, editora de lingerie da WGSN, declarou à BBC News que “existem dois elementos na indústria de lingerie que estão afetando a popularidade das marcas: conforto e pensamento positivo sobre o corpo", cita Jo. 


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