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11/07/2021 às 02h40min - Atualizada em 10/07/2021 às 23h39min

Em busca de vingança, Trump retoma comícios políticos nos EUA

O principal objetivo do ex-presidente é derrotar, nas eleições de 2022, os deputados republicanos que votaram contra ele no processo de impeachment

Meire Santos - Editado por Ynara Mattos
Após cinco meses longe dos holofotes, o ex-presidente dos EUA Donald Trump iniciou uma série de comícios políticos que precedem as eleições para a Câmara dos Representantes em 2022. Chamados pelas mídias internacionais de “turnê da vingança”, os atos têm como intuito fortalecer os aliados de Trump e derrotar, nas eleições legislativas do ano que vem, os deputados republicanos que votaram contra ele no processo de impeachment aberto após a invasão do Capitólio em 6 de janeiro.

Até o momento, foram realizados dois comícios com cerca de 90 minutos de duração cada, o primeiro foi em Ohio, no dia 26 de junho, e o segundo na Flórida, no dia 3 de julho. Ambos reuniram milhares de apoiadores de Trump.

O cientista político João Lucas Pires enxerga a reaparição de Trump como uma estratégia política que segue os mesmos moldes de suas antigas campanhas presidenciais, tendo como foco principal as pequenas comunidades do interior dos EUA.

 
“Em um primeiro momento, após sua saída da presidência, ele se isolou e fazia sua comunicação com o público via um blog, dado seu banimento em diversas redes sociais, mas esse contato não vinha tendo forte adesão, tanto que ele foi descontinuado. Logo no primeiro comício público, Trump foi retomando o mesmo estilo de contato com o público que ele tinha ainda na presidência e durante sua primeira campanha, que era percorrer o interior dos EUA e a região nomeada Cinturão da Ferrugem, que abrange Estados do nordeste, Grandes Lagos e meio-oeste, essas localidades têm por característica a baixa densidade populacional, são pequenas comunidades que ainda fazem muito uso do rádio, seja via podcast ou rádio físico”, comenta.
Até a chagada das eleições de 2022, Trump pretende fazer campanha contra os 10 deputados republicanos que foram favoráveis ao seu processo de impeachment. Em seu comício inaugural, ele endossou a campanha do ex-assessor da Casa Branca Max Miller, que irá enfrentar o deputado Anthony Gonzalez nas eleições primárias republicanas do ano que vem. Gonzalez está entre os 10 republicanos que foram favoráveis ao processo de impeachment.

Pires explica que mesmo tento perdido as eleições de 2020, Trump ainda é um forte cabo eleitoral, portanto, pode influenciar nos resultados das eleições de seus desafetos.

 
“Donald Trump teve 74 milhões de votos, é o segundo presidenciável mais votado, ele, por exemplo, teve mais votos que Barack Obama em suas duas vitórias, Trump só não teve mais que Joe Biden, que se tornou o presidente dos EUA, ainda assim, Trump é um cabo eleitoral muito forte. Na literatura política que vem analisando processo social político dos EUA nos últimos, vem sendo apontada uma nova característica no Partido Republicano, que é pessoas votando nos candidatos do partido não por ele ser do partido, mas sim pelo apoio de Donald Trump, o que é nomeado de Trumpismo”, aponta.

DISCURSO DE TRUMP

O resultado das eleições de 2020, quando Trump foi derrotado nas urnas por Joe Biden, é outro assunto com grande destaque nos comícios. O ex-presidente insiste em alegar que as eleições foram fraudadas, uma parcela da culpa é atribuída à imprensa, que, segundo ele, teria contribuído com a fraude ao divulgar as notícias falsas. Ele ainda diz sentir vergonha da Suprema Corte, que teria ignorado e silenciado os depoimentos de testemunhas da fraude eleitoral. Mesmo sem provas, as alegações de Trump são aceitas pela maioria dos republicanos, 57% deles acreditam que as eleições foram fraudadas e 36% acreditam que não houve fraude.

Foram alegações como essas que fizeram com que os apoiadores de Trump invadissem o Capitólio, sede do Poder Legislativo nos EUA, para parar a sessão que certificava a vitória de Joe Biden nas eleições. O ato que aconteceu no dia 6 de janeiro marcou uma das últimas aparições públicas de ex-presidente. Para João Lucas Pires, tendo em vista o crescimento de movimentos como o “Trumpismo”, que reúne milhares de apoiadores lutando em prol de um interesse em comum, a reaparição de Trump pode contribuir para ocorrerem novas ações de vandalismo. O cientista político explica que as “ações feitas por essas comunidades tendem a reforçar suas crenças, e quando elas se sentirem ameaçadas, vão reagir, portanto, novas ações de vandalismo podem vir a ocorrer. É pouco provável que sejam nas dimensões do que aconteceu no Capitólio, mas elas tendem a partir de indivíduos específicos ou pequenos grupos”.

Nos eventos, Trump também lança insultos contra o governo de Biden, alegando que ele estaria destruindo a nação.

ELEIÇÕES 2024

Focado nas eleições legislativas de 2022, Trump ainda não comentou a respeito de sua participação nas eleições presidenciais de 2024. Pires, no entanto, acredita que os resultados das eleições do ano que vem serão definidores na participação ou não de Trump no pleito de 2024.

 
“No cenário que existe hoje, julho de 2021, Donald Trump é provável candidato à presidência dos EUA, mas ele ainda terá que passar pelas prévias do partido Republicano. Apesar da força de Trump, os membros mais tradicionais e orgânicos do partido tentarão emplacar outro candidato. As eleições legislativas de 2022 podem ajudar nesse cenário, pois se os candidatos apoiados por Trump forem eleitos, ele passará a ter mais força no partido. Trump já tem força junto ao público, portanto, sua busca, nesse período até as eleições de 2024, vai ser para criar força também na engrenagem partidária”. O cientista político conclui dizendo que a base de apoio de Trump é mobilizada por meio da “guerra cultural”, caracterizada por estar sempre criando conflitos e inimigos a serem combatidos, por conta disso, o início desses comícios antecipadamente ajuda a manter seus apoiadores cada vez mais unidos.

Trump já tem uma série de outros eventos programados para as próximas semanas, como uma visita à fronteira com o México e uma viagem à Geórgia.
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