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31/10/2021 às 01h13min - Atualizada em 31/10/2021 às 00h47min

Saiba como menores são prejudicados por exposição excessiva na internet

Especialistas alertam sobre os riscos que podem trazer a vida da criança e do adolescente em exposição excessiva nas redes

Nátaly Tenório e Luiza Coelho - labdicasjornalismo.com
Kaitlin Smith
Com o avanço da tecnologia, os jovens são a grande maioria nas redes sociais, cerca de 24,3 milhões de crianças e adolescentes, com idade entre 9 e 17 anos, são usuários de internet no Brasil, o que corresponde a cerca de 86% do total de pessoas dessa faixa etária no país. A informação consta na pesquisa TIC Kids Online Brasil 2018. “Este percentual é mais alto do que a média da população em geral [conectada], que está em torno de 70%”, disse Fabio Senne, coordenador de projetos de pesquisas do Cetic.br.
 
O uso de plataformas é usado como passatempo, uma forma de “escape” da realidade e até mesmo como trabalho por crianças e adolescentes, que muitas vezes têm seus vídeos viralizados e entram no mundo da fama das redes sociais. 
 
Essa fama precoce tem acarretado problemas na vida desses menores e de seus respectivos pais, como a superexposição, a falta de compromisso com os estudos, e a sexualização. Segundo a psicóloga Ione Barbosa, tudo depende do movimento de cada um. “Pois existem crianças e adolescentes que são responsáveis e conseguem separar suas responsabilidades, já outros podem utilizar dessa justificativa para fugir dos afazeres. Nesse sentido, o papel dos pais é fundamental para observar o comportamento e as atitudes dos filhos, e corrigi-los”, afirma.
 

Podcast sobre o tema:


 
Um caso importante que ocorreu recentemente, foi da influencer Nina Rios, que teve as redes sociais excluídas pela mãe, Fernanda Rocha Kanner, que anunciou a decisão em seu Instagram por meio de um texto. “Decidi apagar a conta do Tiktok e do Instagram dela. Chata, eu sei, mas nossa função como mãe não é ser amiguinha de vocês e isso vocês só vão entender em retrospectiva. Papo de tia. O carinho que vocês têm por ela é a coisa mais fofa, mas eu não acho saudável nem para um adulto e muito menos para uma adolescente basear referências de autoconhecimento em feedback virtual, isso é ilusão e ilusão mete uma neblina danada na estrada do se encontrar”, explica Fernanda, em um post em seu instagram.
 
Outro caso polêmico, envolveu a youtuber Isabel Magdalena, 14, e sua mãe Francinete Peres, que foi acusada por internautas de ridicularizar sua filha em vídeos publicados no YouTube. Em um deles, a menina é obrigada pela mãe a ir para a escola com uma mochila escolhida pelos fãs, e em outro mais antigo, é obrigada a beber uma mistura de ingredientes que a fazem vomitar. A repercussão foi tão grande que a hashtag “salve bel para menina” chegou ao topo dos trending topics no Twitter.
 
A psicóloga Aline Nascimento, em uma perspectiva de observação das questões familiares, aborda sobre a disfunção familiar. “Se espera de uma estrutura familiar que ela seja saudável. Existe o real e existe o ideal. O ideal seria que a família fizesse com que a criança tivesse um crescimento e uma evolução natural, mas, por conta da disfunção familiar e das histórias que ninguém conhece por trás desses pais, faz com que eles projetem na criança um meio de realização”, explica.
 
Ione Barbosa, psicóloga, também complementa que, se as crianças tiverem uma boa base familiar, conseguem lidar com a fama, com o trabalho e com a nova fase em que elas se encontram. “É perigoso a criança ou adolescente não conseguir separar os papéis e se sobrecarregar, não tendo espaço para viver situações da sua idade. Como por exemplo o brincar, o lúdico é extremamente importante para o desenvolvimento, e não vivê-lo de maneira saudável me parece uma perda irreparável, pois não tem como voltar no tempo, e se a pessoa não souber se organizar, pensamentos negativos podem surgir, como a ansiedade, estresse, frustração e angústia”, relata.
 
Um exemplo de uma adolescente que soube lidar bem com essa fama, foi a influenciadora Beatriz Taminato. Ela conta que não se importa muito com os comentários ruins, e que dá mais importância para quem diz coisas boas. “Em nenhum momento as redes me atrapalharam, eu sempre soube lidar bem com isso e conciliar com os meus afazeres”, diz.
 
Quando era mais nova, já recebeu críticas e algumas ameaças, mas diz que isso nunca a afetou de uma forma muito negativa, pois ela sempre teve a ajuda de sua mãe para lidar com essas situações.
 
Beatriz Taminato
 
O advogado Evandro Moreti diz que é dever dos pais estarem cientes sobre o que seus filhos fazem na internet. “A proteção dada a esses menores deve ser total, é dever dos pais estarem cientes do que os seus filhos fazem nas redes sociais, impondo limites, e cuidando da saúde mental dos mesmos. Crianças são consideradas incapazes de gerir os direitos de sua própria imagem, a tutela é obrigatória aos responsáveis que ao denegrir poderão ser responsabilizados civil e criminalmente”, afirma.
 
A influenciadora Isadora Donati, de 17 anos, possui um perfil no Instagram com 11 mil seguidores, e 83 mil seguidores no Tiktok, com vídeos que chegaram a 3 milhões de visualizações. A tiktoker começou a produzir conteúdo para a internet no começo da pandemia. “Eu me vi presa dentro de casa, e comecei a usar isso como lazer, fazia stories e vídeos”, diz.
 
Ela já recebeu críticas de algumas pessoas de sua família e de sua escola, isso a desanimava às vezes, mas conta que sempre tentou ignorar. Na questão dos estudos, teve que dar um tempo nos vídeos, pois não estava conseguindo conciliar as duas coisas, e estava tendo resultados negativos. “Eu me senti muito exposta depois que meus vídeos viralizaram, eu fiquei com muito receio, até parei de gravar por um tempo, eu tinha muita vergonha, e muito medo do que podia acontecer, eu não tinha mais um controle de quem me acompanhava”, completa.
 
Isadora Donati
No aplicativo Tiktok, muitas crianças estão sendo expostas de maneira erotizada com suas dancinhas. “Segundo o Art. 218-B é crime submeter, induzir ou atrair à prostituição ou outra forma de exploração sexual alguém menor de 18 (dezoito) anos ou que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, facilitá-la, impedir ou dificultar que a abandone: Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos. 1º Se o crime é praticado com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se também multa”, finaliza o advogado Moreti.
 
Para a exposição da criança e adolescente, são necessários alguns cuidados ao compartilhar fotos e vídeos dos menores na internet. Os pais podem e devem tomar medidas cabíveis para que o conteúdo do menor não seja utilizado de forma errada e que prejudique a imagem da criança. É dever dos responsáveis estarem atentos ao que os filhos fazem na internet e também fora dela.

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