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07/03/2022 às 22h55min - Atualizada em 03/03/2022 às 19h56min

Saúde mental no ambiente de trabalho: Entenda sobre o assunto que afeta grande parte dos brasileiros

Lorena Veríssimo - Editado por Giovana Rodrigues
Foto: Yan Krukov/ Reprodução: Pexels

Durante a vida adulta, boa parte do tempo é destinado ao trabalho, atividade essa que, por algumas vezes, não é executada em um ambiente propício, sem levar em consideração o bem estar mental do trabalhador.  

 

Em um relatório, realizado em 2017, pela Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil foi apontado como o país com a maior prevalência de transtornos de ansiedade nas Américas: o problema afetava 9,3% da população, o equivalente a 18,6 milhões de pessoas. Em uma análise feita pela instituição foi apontado que um local de trabalho considerado “ruim” ou “negativo” pode afetar diretamente na saúde mental dos indivíduos, gerando problemas como alto nível de estresse, transtorno de ansiedade, depressão e até dependência química. 

 

Mas o que é saúde mental? A Saúde Mental é definida pela OMS como o estado de bem-estar no qual o indivíduo realiza as suas capacidades, pode fazer face ao estresse normal da vida, trabalhar de forma produtiva e frutífera e contribuir para a comunidade em que se insere. 

 

Com a chegada da pandemia do Covid19, esse assunto se tornou bastante pertinente e ganhou mais notoriedade no Brasil e no mundo. Falar de saúde mental é quebrar uma barreira que por anos esteve intacta, afinal o preconceito das pessoas para com essa temática sempre esteve presente. Pouco se discutia e ninguém sabia ao certo o que significava. Mas atualmente tomou conta de várias discussões. 

 

Sabe-se que saúde mental é fundamental em todos os aspectos da vida, e em um deles, principalmente, no trabalho. Essa atividade tão importante, que é executada diariamente, exige muito de quem realiza. Para exercer sua função de forma íntegra, o trabalhador precisa estar apto e em condições de realizá-la. Condições essas que muitas vezes não são oferecidas e acabam gerando fatores de risco para a saúde relacionada ao trabalho. 

 

“Sempre trabalhei diretamente com o público, já fui atendente, vendedora, e atualmente recepcionista, mas sempre atuando como vendedora. Em mais de 10 anos no mercado de trabalho nunca vi em nenhuma empresa, treinamento algum abordar a importância da saúde mental do funcionário. Em todas as que passei a única coisa que tínhamos acesso era a ensinamentos de como vender mais, como atrair o cliente e como oferecer o melhor serviço, mas esquecendo que somos pessoas e não máquinas programadas.” relata Rayla Santos. 

 

 

Políticas inadequadas de saúde e segurança; más práticas de comunicação e gestão; participação limitada na tomada de decisões ou baixo controle sobre sua área de trabalho; baixos níveis de apoio aos funcionários; horário de trabalho inflexível; e tarefas ou objetivos organizacionais pouco claros são exemplos de práticas que devem ser evitadas pelas empresas em prol da saúde e bem estar do funcionário. 
 

“Conheço pessoas que já pediram demissão por não aguentar mais o ambiente de trabalho, seus líderes, a forma que eram cobrados, o excesso de responsabilidades e zero reconhecimento. Precisamos estar em um ambiente de trabalho que possamos nos sentir bem, onde não seja um sacrifício estar lá, que a presença do chefe não seja ruim e não traga um sentimento de angústia.” encerra dizendo a recepcionista.

De acordo com a OMS, as intervenções e boas práticas que protegem e promovem a saúde mental no local de trabalho incluem: a implementação e a aplicação de políticas e práticas de saúde e segurança, incluindo identificação de sofrimento, uso nocivo de substâncias psicoativas e doenças e fornecimento de recursos para gerenciá-los; informar a equipe de que o suporte está disponível; envolver os colaboradores na tomada de decisões, transmitindo sensação de controle e participação; práticas organizacionais que apoiam um equilíbrio saudável entre vida profissional e pessoal; programas de desenvolvimento de carreira dos funcionários; além de reconhecer e premiar a contribuição dos funcionários.

 

A doença do trabalho 

 

Nervosismo, cansaço excessivo físico e mental, prostração, dor de cabeça frequente, pressão alta, dores musculares, problemas gastrointestinais, alterações nos batimentos cardíacos, alterações no apetite e no humor, insônia, dificuldade de concentração, sentimentos de fracasso, incompetência e insegurança, negatividade constante e isolamento. Esses são alguns dos sintomas da chamada Síndrome de Burnout. 

 

 

Burnout nada mais é do que a exaustão física, emocional ou mental que surge geralmente devido ao acúmulo de estresse no trabalho. Segundo a pesquisa Pebmed, um em cada três trabalhadores brasileiros sofrem com o Burnout, assim ele afeta mais de 30 milhões de pessoas no Brasil. E no mundo, esse número é ainda mais alarmante. Por este motivo, desde o dia 01 de janeiro de 2022, essa síndrome passou a ser considerada pela OMS como doença do trabalho.

 

“Tudo indica que nós vamos ter uma grande mudança devido a este acontecimento. Agora é possível que as empresas se atentem um pouco mais para essa problemática”, comenta a psicóloga Kerollayne Carvalho. 

 

Opinião de um especialista 

 

Segundo a psicóloga, os trabalhadores não chegam ao consultório afirmando estarem sofrendo de burnout, visto que muitos desconhecem a doença, mas ao entenderem do que ela se trata acabam se identificando e recebendo o diagnóstico.  

As queixas mais frequentes se enquadram em três esferas, os sintomas cognitivos, como lapsos de memória, os sintomas emocionais como instabilidade de humor e tendência a agressividade, e também os sintomas físicos, sejam eles a tensão muscular, alteração do sono, problemas gastrointestinais, entre outros. 

 

Para ela, cabe às empresas compreenderem que a mente é o primeiro recurso do ser humano e que, a partir do que é trabalhado nela, todas as demais áreas se desenvolvem, seja para o bem ou para o mal. Sendo assim, as empresas que investem em saúde mental dos seus funcionários ganham economicamente, porque reduzem a taxa de retrabalho, retrabalho é tempo e tempo é dinheiro. Com isso chega-se à conclusão que investir em saúde mental é investir economicamente nos lucros da empresa, seja ela qual for. 

 

Então, percebeu que as atividades simples do seu cotidiano começaram a se tornar pesadas e difíceis? Coisas que você fazia antes com tranquilidade estão se tornando um fardo? Está sentindo desânimo constante há mais de duas semanas? Preste atenção, ligue o botão de alerta! Procure ajuda de um profissional habilitado para atravessar esse período de crise. 

 

 

“Com recursos terapêuticos de relaxamento, treino de habilidades sociais, além de outras técnicas que elevam a sensação de bem-estar e acionam o potencial de criatividade da mente, o indivíduo terá uma excelente produtividade e ainda irá prevenir possíveis casos de burnout. ”, afirma Kerollayne.

 

Casos famosos

 

Engana-se quem pensa que os atingidos pela doença são somente os anônimos. Nos últimos anos, casos de celebridades e atletas tomaram a mídia. O da ginasta olímpica Simone Biles foi um deles. A cobrança excessiva e constante, tanto interna como externa, pelo resultado perfeito foi um dos motivos que levou Biles a desistir. Ficou claro para os espectadores que não era sua condição física que impedia a perfeita execução dos movimentos, mas sim, sua condição psíquica. Com isso, Simone resolveu abandonar as olimpíadas de Tóquio 2021, desistindo de participar das finais de ginástica feminina. 

 

Outro nome que gerou bastante comoção na internet foi o de Gabriel Medina, o tricampeão de surf usou suas redes sociais para desabafar e contar que abriu mão das primeiras etapas da Liga Mundial de Surfe (WSL) para cuidar de sua saúde mental. Alegando que viveu uma montanha russa de emoções dentro e fora da água, que afetou sua saúde física e mental, Gabriel conta que ao final da temporada estava completamente esgotado. “A saúde mental é muito importante. Preciso estar 100% mentalmente para voltar a competir. Voltarei mais forte”, escreveu o surfista. 

 

A Problemática na literatura

 

Byung-Chul Han, no ensaio ‘A Sociedade do Cansaço' diz que, atualmente, vivemos em uma sociedade de alta performance, em que  se exige muito de um indivíduo para que ele esteja sempre aparentando estar cem por cento. Sociedade essa que faz com que o indivíduo entre em colapso, adquirindo a síndrome de burnout, por exemplo. 

 

Ao ler a obra podemos pensar em como o trabalho era visto antigamente e como ele é visto hoje. Antigamente as condições de trabalho eram péssimas, regradas e limitadas, as pessoas não prezavam tanto pela vida como atualmente, eram verdadeiros reféns de empresas onde passavam anos e não havia possibilidade de mudar de emprego. Já hoje em dia, segundo Byung, as pessoas são reféns delas mesmas, a vida nessa sociedade de desempenho é medida de acordo com o que somos capazes de produzir, e quanto mais desempenhamos, mais valor temos — ou pensamos ter. Pensamento esse que muitas vezes é imposto no ser humano em seu próprio ambiente de trabalho sem ele nem sequer notar. Essa cobrança atrelada a péssimas condições de trabalho tende a levar o empregado ao esgotamento.

A sociedade do desempenho, segundo Han, “produz depressivos e fracassados”. Essa cobrança constante pelo desempenho é um inimigo para o bem-estar, pois trabalha constantemente, sem folga.




 

REFERÊNCIAS:

 

Saúde mental no trabalho: a construção do trabalho seguro depende de todos nós. Justiça do trabalho, TST, 2022. Disponível em:<https://www.tst.jus.br/-/sa%C3%BAde-mental-no-trabalho-a-constru%C3%A7%C3%A3o-do-trabalho-seguro%C2%A0depende-de-todos-n%C3%B3s> Acesso em: 18/ 02/ 2022

 

MONTELLI, Regina. 1 em cada 3 trabalhadores no Brasil sofre de Burnout. Núcleo de stress, 2022. Disponível em: <https://www.nucleode-stress.com.br/1-em-cada-3-trabalhadores-no-brasil-sofre-de-burnout/#:~:text=O%20que%20muitas%20pessoas%20n%C3%A3o,esse%20n%C3%BAmero%20%C3%A9%20ainda%20maior> Acesso em: 18/02/2022

 

Síndrome de Burnout: o que é, sintomas e como tratar. Hcor, 2022. Disponível em: <https://www.hcor.com.br/hcor-explica/outras/sindrome-de-burnout/> Acesso em: 19/02/2022

 

BERNARDO, André. O caso Simone Biles nas Olimpíadas e a saúde mental no esporte. Veja saúde, 2022. Disponível em: <https://saude.abril.com.br/coluna/saude-e-pop/a-saida-de-simone-biles-das-olimpiadas-e-a-saude-mental-no-esporte/> Acesso em: 19/02/2022

 

POLAKIEWICZ, Rafael. O caso Simone Biles: a importância do cuidado à saúde mental. Pebmed, 2022. Disponível em: <https://pebmed.com.br/o-caso-simone-biles-a-importancia-do-cuidado-a-saude-mental/ > Acesso em: 19/02/2022

 

Gabriel Medina abre mão das primeiras etapas da WSL para cuidar da saúde mental. Ge, 2022. Disponível em: <

https://ge.globo.com/surfe/noticia/gabriel-medina-abre-mao-da-primeira-etapa-da-wsl-para-cuidar-da-saude-mental.ghtml> Acesso em: 19/02/2022

 

ODELI, Taize. Sociedade do cansaço, de Byung-Chul Han. Rizzenhas, 2022. Disponível em <

 https://rizzenhas.com/2020/12/sociedade-do-cansaco-de-byung-chul-han-resenha/ > Acesso em: 21/02/2022

 

ANDRADE, Walmar. Sociedade do Cansaço, livro de Byung-Chul Han. Walmar Andrade, 2022. Disponível em: <

https://walmarandrade.com.br/sociedade-do-cansaco/#:~:text=Byung%2DChul%20Han%20escreve%20que%20o%20sujeito%20de%20desempenho%20esgotado,a%20autoeros%C3%A3o%20e%20ao%20esvaziamento. > Acesso em: 21/02/2022

 

Saúde mental no local de trabalho. OMS, 2022. Disponível em: <https://www.who.int/teams/mental-health-and-substance-use/promotion-prevention/mental-health-in-the-workplace> Acesso em: 21/02/2022

 

O impacto do trabalho na saúde mental dos funcionários. Gympass, 2022. Disponível em: <https://blog.gympass.com/o-trabalho-e-a-saude-mentaldefuncionarios/#:~:text=A%20an%C3%A1lise%20da%20OMS%20aponta,depress%C3%A3o%20e%20at%C3%A9%20depend%C3%AAncia%20qu%C3%ADmica.> Acesso em 03/03/2022


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