Publicado em março, o relatório é validado e desenvolvido pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) e mostra, em resumo, uma perspectiva a respeito da situação em que a Terra se encontra em relação ao aquecimento global e outras mudanças climáticas. Conforme aponta o documento, a temperatura do planeta aumentou para 1,1°C, acima dos níveis industriais, tal aquecimento já traz impactos sociais relacionados ao clima, além disso, caso não haja mudanças rápidas, não será possível manter a temperatura em 1,5°C, como foi proposto pelo Acordo de Paris.
O IPCC foi criado em 1988 com o objetivo de fornecer avaliações científicas e elaborar relatórios que tratam das mudanças climáticas, de maneira que sejam propostos meios para enfrentamento do problema no âmbito global. Segundo a advogada e especialista em direito ambiental, Dra Luiza Furiatti, o diagnóstico do último relatório foi no viés de que ainda é possível tomar medidas para dimunuir o processo das mudanças, embora não seja possível acabar de vez com o problema.
Os impactos no Brasil são sentidos de forma desigual pelas regiões devido a vulnerabilidade de alguns estados em relação a outros. Especialistas entendem que a extensão territorial do país dificulta análises mais precisas, como por exemplo na região norte, onde a população enfrenta de perto as queimadas na Amazônia. Furiatti destaca que qualquer impacto ambiental é sentido primeiramente pela população local e que é necessário a implementação de políticas públicas para dar dignidade para as pessoas: “A situação da Amazônia é bastante complexa, temos fatores sociais relevantes; fatores da falta de fiscalização; fatores de políticas públicas que precisam ser melhoradas como um todo, para a gente conseguir ter um desenvolvimento efetivamente sustentável na região."
Essas diferenças extrapolam as fronteiras do país, pois, tratam-se também de uma questão global, isto porque, historicamente, os países em desenvolvimento e de baixa renda foram os que geraram menos impacto global, ficando sob responsabilidade dos países mais ricos a maior parte das emissões prejudiciais lançadas na atmosfera. Por conta disso, hoje é defendido uma espécie de indenização como forma de auxiliar países mais pobres, e consequentemente, os mais atingidos, a se adaptarem aos impactos das mudanças climáticas, o assunto chegou a ser novamente discutido na COP 27 - Conferência climática da ONU - em 2022, onde foi criado um fundo para compensar "perdas e danos".
Ainda considerando o impacto de uma nação sob outra no desmonte ambiental, o projeto Willow proposto pelo governo dos EUA para exploração de petróleo e gás natural no Alasca, foi muito mal recebido; Furiatti entende que o projeto está indo na contramão das buscas pela da troca da matriz energética, que em si, já considera deixar de lado o próprio petróleo: “Não é possível a gente dimensionar quais impactos vai ter, mas com certeza terão impactos negativos, e a gente precisa ver se eles serão possíveis de serem suportados ou não”, ressalta.
Furiatti considera ainda que a velocidade das mudanças para ação de enfrentamento esbarra na questão comportamental e cultural, o que impacta diretamente produção, matriz energética, custos, e outros processos: “Tudo isso não acontece na velocidade que a gente gostaria e que as mudanças do clima exigem”, diz. Levando esse ponto em consideração, entende-se os traços de urgência que o relatório e movimentos ambientais destacam, ao enfatizarem a necessidade de mudanças rápidas.
Essa demanda por agilidade para resolver a questão, ainda encontra no caminho problemas de comunicação e falsas notícias que negligenciam evidências climáticas e avaliação de especialistas: “A gente precisa combater as coisas com ciência, independente que a pessoa acredite ou não que essas alterações climáticas estão acontecendo por conta das ações humana, elas estão acontecendo”, destaca.
Por último, a advogada ainda ressalta que as mudanças climáticas são "o problema mais democrático do mundo”, isso porque, em certo tempo atingirá todas as nações, ricas e pobres, e adverte sobre a importância de se haver um comprometimento individual para enfrentamento.
Referências:
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