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17/04/2020 às 11h22min - Atualizada em 17/04/2020 às 11h22min

Distanciamento: os desafios de adaptação dos idosos durante a quarentena

“Antes eu podia sair, tinha mais liberdade e hoje não posso mais, tenho que ficar trancado”, desabafa o aposentado Antonio dos Santos Lima

Larissa Lima - Revisado por Mário Cypriano
Detalhe de pessoa idosa segurando uma bengala - Foto: Reprodução
           Com as orientações emitidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o isolamento social tem sido um dos fatores mais eficazes ao combate do vírus. Mas, como consequência disso, vários aspectos têm violado diretamente a saúde mental dos idosos, em virtude do medo, da ansiedade, do estresse e as incertezas quanto ao futuro. Sintomas estes que são pertinentes à quebra de rotina e a perda da liberdade do direito de ir e vir.

          Com a restrição de sair de casa, os idosos mais ativos, mais independentes, que frequentam bancos, mercados ou que pertencem a um grupo de vivência, são os mais afetados. A reclusão dentro de casa pode agravar o aparecimento de sintomas depressivos, tristezas e até mesmo sensações de abandono. Para a psicóloga Alexandra Roberta Strozzi, o papel da família é fundamental para amenizar esses sintomas. “Quando você deixa a pessoa limitada, você força uma condição que não é a de uma rotina habitual, então os indícios de que alguma coisa não está certa pode ser notada se observada pelos familiares. Nesse momento é importante enxergar as atividades que antes eles sentiam prazer, e agora não sentem mais”, ressalta. A imposição de atividades e regras pode ser prejudicial para habitua-los em uma nova rotina. “O diálogo, a empatia e o carinho é muito importante para eles. Tentar resgatar, dentro do limite de ficar em casa, o que de fato vai trazer alegria para esse idoso. É trabalhar a terapia de aceitação e compromisso e ver o que está dentro de suas possibilidades”, assente. Quanto aos idosos menos ativos, devido suas condições físicas, cognitivas, restritos a cadeira de rodas ou até mesmo que vivem em Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI), vivenciam diariamente algumas das restrições sugeridas pela OMS; o controle da visita de familiares na ILPI, neste momento, é o que mais afeta suas saúdes.

       Durante esse período o excesso de informações que são transmitidos por alguns veículos de comunicação acabam por gerar muitas preocupações. O comunicólogo e criador do canal Com Viver, Renan Silveiro, elaborou o projeto em 2016 para suprir as duvidas e as dificuldades que os familiares passam baseados na experiência pessoal que teve com o seu avô. Ele adverte que os familiares devem contextualizar os idosos durante a quarentena e que transmitem a consciência do isolamento. “Vale os familiares explicar e evitar o pânico, porque o excesso de informação só vem a atrapalhar”, afirma. O comunicólogo sugere ainda canais de televisão que os tem como público alvo, programas voltados à família, e a cautela ao assistir os noticiários.
       

          Afim de ocupar o tempo dos idosos durante esse período é possível realizar atividades simples que possam diminuir os prognósticos do isolamento social/quarentena. Segundo a gerontóloga Letícia Alves de Melo, a realização de atividades é fundamental para tornar o dia do idoso mais prazeroso, como realizar alongamentos, meditação, leitura de livros, praticar jogos de tabuleiro, jogo da velha, quebra cabeça, trocar experiências com a família e se o idoso se identificar, atividades manuais, como pintura e tricô. “É interessante também que o idoso faça uma lista de desejos que gostaria de fazer após a quarentena, focar nas prioridades e os desejos para serem realizados vem como esperança de que isso logo vai passar”, ressalta. Para a gerontóloga, a indisposição para fazer atividades é um sinal de que o sedentarismo está cada vez mais presente. “Se a indisponibilidade continuar, o idoso pode até mesmo perder sua independência e autonomia, e se isso perdurar por muito mais tempo, ele pode vir a ter síndromes geriátricas, tornando-o fraco e frágil”, conscientiza. Alguns sinais dessas síndromes podem ser a imobilidade, instabilidade postural, insuficiência familiar, incapacidade cognitiva e incontinência.
         
          Para identificar os problemas causados pelas síndromes geriátricas é preciso fazer uma constatação de quais sintomas podem estar se agravando, porém como é um período de reclusão social, terapeutas tem se adaptado aos atendimentos online, realizando vídeo chamadas para melhor atendê-los. “É possível fazer uma anamnese inicial por meio desses atendimentos, a gente consegue fazer um plano de atendimento de cuidado, adaptado para o idoso nessa situação de pandemia”, confirma a gerontóloga. Há também a compulsão por alimentos que podem ser ocasionados pela quarentena, por isso é fundamental que os familiares observem o comportamento deles, afim de readaptar sua alimentação.

          Há ainda, casos em que os idosos saem de suas casas para permanecer, nesse período de isolamento social, na residência dos filhos. A dona Maria Aparecida de Souza Lima, 67 anos, prefere prevenir do que remediar. “Pensando na pandemia, eu vejo que tenho que ficar isolada, por causa da minha idade, se não o que pode acontecer comigo mais pra frente? Eu posso fazer o que é certo, mas nessas horas a gente gostaria mesmo é de ficar perto de todos, da família”, deseja. “Estou na casa da minha filha e está muito bom, mas eu acho que fico triste pelos meus outros filhos, que estão longes, afinal o que eu poderia fazer?”, indaga. 
       
       A psicóloga Alexandra Roberta, vê a pandemia como uma solução para uma sociedade supérflua conduzida pela era da tecnologia. “Depois de tudo isso, vamos estar mudando os nossos hábitos, nossos valores. Vamos fortalecer os vínculos, o diálogo e o mais importante, a base, - família e amigos. Então tudo isso vai ser benéfico para gente, vai ser uma mudança total de comportamento e de valores”, tranquiliza. “Vamos trabalhar o autocontrole para não gerar ansiedade, angústia e vamos viver um dia de cada vez”.


              

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