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02/07/2020 às 16h31min - Atualizada em 02/07/2020 às 16h30min

Aulas remotas: sim ou não?

Juliana Barbosa - Editado por Bruna Araújo
Você não precisa concordar comigo se não quiser. Mas não há como negar aquela sensação nostálgica que temos quando nos lembramos dos tempos de escola. Toda a preparação era quase como um ritual que odiávamos na época, mas que hoje sentimos falta.
 
Quando ingressamos na graduação (ensino superior), tudo é muito animado no início, mas os sonhos logo são pisoteados pelos docentes que amam passar aqueles trabalhos gigantes para serem apresentados na próxima aula.
 
O percurso desde se arrumar, pegar condução e ir pra aula é um processo vivenciado por milhares de estudantes em todo Brasil.
 
Infelizmente, essa rotina foi alterada em razão da pandemia do novo coronavírus (Covid-19).
 
Muitos comemoraram quando as aulas foram suspensas. Era uma espécie de miniférias. Tão iludidos.
 
Mas então a realidade bateu a porta.
 
Não dava para ficar em casa e maratonar séries e filmes esperando pacientemente que os cientistas encontrassem a cura para o coronavírus. Era preciso voltar a estudar.
 
E eis que a realidade da situação nos atinge de forma dramática.
 
A solução para que as aulas retornassem em algumas instituições, era que elas passassem a ser a distância. Uma portaria do MEC publicada no Diário Oficial da União do dia 17 de junho, permitiu que as instituições federais ministrassem aulas online até o fim de 2020. O objetivo, é evitar que haja contaminação durante as atividades presenciais. A portaria também flexibilizou os estágios e as práticas em laboratório, que podem ser feitas a distância, com exceção dos cursos da área da saúde.
 
Beleza, é uma boa solução. Você vai poder ficar em casa, deitado na sua cama, comendo algo gostoso enquanto assiste as aulas virtuais.
 
O ser humano está acostumado a se adaptar mediante as adversidades que encontra em seu caminho. Isso é louvável. Contudo, a adaptação leva tempo. Existe um processo de reconhecimento da situação para que assim medidas sejam enfim executadas.
 
Então, por causa da Covid-19, muitas instituições de ensino superior, principalmente particulares, adotaram o ensino a distância para que os estudantes não fossem prejudicados pela pandemia.
 
Mas como nem tudo são flores nesse jardim chamado Brasil, era de se esperar que nem todos se adaptassem a essa modalidade de ensino, como é o caso das instituições federais, e como exemplo, cito aqui a minha tão amada Universidade Federal do Tocantins (UFT), onde as aulas a distância tiveram duração de apenas duas semanas.
 
Como eu havia dito, é preciso tempo para que as adaptações aconteçam, e esperar que uma Universidade onde a modalidade presencial é utilizada desde sua fundação, mude sua realidade de um dia para o outro é uma rasa tentativa de iludir a si mesmo.
 
Creio que isso tenha acontecido em outras instituições Brasil afora, mas no caso da UFT, existem determinados agravantes que impedem até certo ponto a adoção de aulas remotas para toda a comunidade acadêmica.
 
A começar pela falta de preparo da universidade, que sempre ofertou o ensino presencial, além de seus docentes que lecionavam presencialmente, e os discentes que não estavam preparados para a mudança brusca na modalidade de ensino. Obviamente, isso se refere a decisão a curto prazo, pois é totalmente possível que a universidade utilize o tempo de suspensão das aulas para capacitar seus profissionais para que possam da melhor forma, lecionar a seus alunos de forma virtual.
 
Se esse fosse o único problema, já teríamos a solução para o mesmo.
 
Porém, além de não estarem acostumados com o ensino a distância, ainda existe a dificuldade enfrentada por muitos em conseguir o equipamento (computador, celular, internet) necessário para poder acompanhar as aulas virtuais.
 
E isso se tratando daqueles que residem na zona urbana, mas e quanto aos acadêmicos que são de origem indígena e quilombola que não têm os dispositivos adequados para acompanhar as aulas?
 
E tão importante quanto, como está a saúde mental dos estudantes em meio a pandemia? Como eles estão lidando com o estresse, a ansiedade e a pressão para que as atividades sejam retomadas?
 
Chega a ser cômico relembrar o ano de 2019, quando alimentávamos a esperança de que 2020 seria um ano melhor, o ano da mudança. Acredite, eu também fiz planos, e entre eles não estava ter aulas a distância.
 
Por favor, não pense que eu tenho algo contra as aulas remotas. Não mesmo. Entretanto, são muitas as dificuldades que não se referem apenas a questões acadêmicas, mas também a questões profissionais e pessoais.
 
Entendo as razões para que se peça o retorno das atividades acadêmicas. Mas não dá para fechar os olhos quanto a situação atual do país.
 
É compreensivo necessitarmos que ao menos parte da nossa rotina seja restaurada, para que não atrapalhe o ritmo de absorção do conhecimento. Mas ainda sim, é preciso considerar que no ambiente do nosso lar, somos alvos de diversas distrações que nos influenciam a procrastinar nossos afazeres.
 
Sabemos que mais cedo ou mais tarde, decisões terão que ser tomadas. E o que nos resta fazer neste momento, é torcer para que a situação da pandemia amenize, e que o número de infectados e mortos pela Covid-19 diminuam em todo o Brasil.
 
Cuide-se, e se puder, fique em casa.

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