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12/07/2020 às 01h20min - Atualizada em 12/07/2020 às 01h17min

Cerca de 62% dos municípios brasileiros são desertos de notícias, revela estudo

De acordo com o Atlas da Notícia, este número equivale a 37 milhões de pessoas

Vitoria Pereira - Revisado por Barbara Honorato
Ilustrador Magno Borges da Agência Mural

O Atlas da Notícia define que “desertos de notícias são municípios sem veículos independentes de jornalismo”. O projeto tem o intuito de mapear os veículos de comunicação no Brasil, principalmente em cidades pequenas onde carece de um jornalismo local profissional. É uma iniciativa pertencente ao  Instituto para o Desenvolvimento do Jornalismo (Projor) e desenvolvida em parceria com o Volt Data Lab.

Segundo o mapeamento, as cidades que se encaixam nesta definição possuem menos de 7 mil habitantes e correspondem a 62,6% dos municípios brasileiros, este número equivale a 37 milhões de pessoas, isto é, 18% da população nacional.

Outros termos existentes são os quase desertos (19% dos municípios brasileiros) e não-desertos (19%), sendo que o primeiro há um ou dois veículos mapeados e o segundo tem cidades com 3 ou mais veículos.

Um dos desenvolvedores do Atlas da Notícia, Pedro Varoni, explica a importância de existir um jornalismo local nesses municípios pequenos.

“(jornalismo local) é um importante veículo de mediação social, de verificação de checagem de dados e até em certo aspecto de vigilância dos poderes legislativo e executivo. A presença do jornalismo, tem essa utilidade cidadã numa determinada comunidade, ele é um agente mediador e ele também é um agente de identificação das pessoas num aspecto cultural, aquela sensação de pertencimento a uma determinada comunidade”.

Os desertos de notícias estão espalhados de forma igualitária no país?

De acordo com o mapeamento, as regiões do Brasil com maior proporção de desertos são Nordeste (73,5% dos municípios)  e Norte  (71,8%). Em seguida vem Sudeste (60,6%), Sul (54,8%) e Centro-Oeste (39,2%).

A cobertura noticiosa, muitas vezes, está centrada nas capitais dessas regiões o que explica esse vazio de notícias no interior das cidades, além disso a influência de veículos de comunicações tradicionais também podem impactar na cobertura noticiosa local.

O advento das redes sociais implicou no enfraquecimento do modelo de negócios nos segmento de impresso e rádio, porém o Atlas encontrou que esses veículos ainda são relevantes nesses municípios pequenos. 


 

A ausência de um jornalismo local facilita a proliferação de fake news?

Com a falta de apuração jornalística profissional e checagem de fatos surge a dúvida se essas ausências podem facilitar a propagação de informações falsas nos municípios, entretanto, Pedro afirma que “o ecossistema da desinformação existe independente do jornalismo. O que acontece se temos um jornalismo local forte nuns cidade é que nós fortalecemos o ecossistema de informação que eu acho que é uma das grandes formas de se combater a desinformação”.

 

Se existe a falta de uma cobertura noticiosa, por onde a população procura se informar?

O estudante de jornalismo, João Mateus, 20, reside em Jumirim (SP) e de acordo com o censo do IBGE/2018 a cidade contém 3 315 habitantes. “Aqui não dá pra acreditar muito em muita coisa porquê ao mesmo tempo  que algum portal fala x o boca a boca fala y. As pessoas falam muito e isso prejudica no que saber o que é verdade ou mentira”, afirma João.

Outro estudante de jornalismo, Vinícios Ferreira, 20, morador da cidade de São João do Pau D'Alho, relata que a internet é bem recente entre a população e também afirma que as notícias passam pelo “boca a boca”. Segundo a estimativa do IGBE de 2017, o município possui  2 132 habitantes. 

 “O “boca a boca” que leva a informação para a massa. Muitas pessoas ainda não têm acesso a estes meios (internet), uma vez que estão na zona rural e o sinal não chega; e quando têm, é apenas o rádio, o qual, para piorar, não é local. Desse jeito, a comunicação entre as pessoas, as vizinhas de muro etc. é quem realmente comunica todo mundo”, diz Vinícios.

Já o publicitário, João Gabriel, 26, vive em Paulistânia (SP) com 1 837 habitantes de acordo com o censo do IBGE de 2014. o jovem relata que devido a carência noticiosa em sua cidade, precisou encontrar novas formas de se informar sobre o Coronavírus: “Uma maneira que encontrei aqui é pelas redes sociais, então, principalmente na pandemia, sigo as atualizações do prefeito, e de alguns perfis de áreas, como o da saúde”.

 

A necessidade de reconfigurar o jornalismo local

O jornalismo local precisa ser reinventado pela juventude e levar em conta o ambiente digital como um espaço potencial da proliferação de notícias.

“É na busca de um modelo de negócios que garanta essa autonomia editorial do jornalismo, dessa capacidade de mediação e senso crítico que o jornalismo deve ter e as técnicas profissionais de verificação e de relato fidedigno aos fatos”, propõe Pedro Varoni.

 
 

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